Internacional
Biden não é Trump, mas isso só não basta
A convenção democrata foi um exercício para destacar as diferenças entre o candidato do partido e o atual presidente. Mas Biden terá que fazer mais para atrair os votos dos jovens em novembro, opina Carla Bleiker.
Que alivio! Foi formidável o discurso de Joe Biden que encerrou a convenção do Partido Democrata na noite desta quinta-feira (20/08), e no qual ele aceitou oficialmente a indicação de seu partido para concorrer a presidente. Biden não ficou balbuciando meias sentenças embaraçosas em que o final parece não ter nada a ver com o início – como o público vivenciou durante alguns dos debates primários democratas.
Em vez disso, seu discurso foi um apelo apaixonado em que ergueu sua voz falando contra “fazer a corte a ditadores” e se emocionou ao falar sobre o filho mais velho, Beau, morto de câncer no cérebro em 2015. “Embora ele não esteja mais entre nós, Beau me inspira todos os dias”, disse, com a voz um pouco embargada. Então, emoção nos lugares certos sem exageros e estrutura frasal coesa. Chamar isso de sucesso teria sido uma piada apenas alguns anos atrás. Mas os americanos viram um candidato diferente desta vez – e muitas e muitas vezes eles já viram um presidente Donald Trump bem diferente.
Toda essa convenção democrata foi um exercício para destacar as diferenças entre Biden e Trump. Muitos usaram palavras como bondade, decência e empatia ao falar de Biden – palavras que provavelmente bem poucos escolheriam, se solicitados a descrever Trump.
Em seu discurso de aceitação da candidatura, Biden não se deteve nas críticas ao atual presidente. Uma observação do democrata foi que a resposta de Trump ao coronavírus foi um massacre, e não parece haver qualquer melhora à vista.
“Depois de todo esse tempo, o presidente ainda não tem um plano. Bem, eu tenho”, disse Biden antes de detalhar a estratégia que implementaria “no primeiro dia”, se eleito, incluindo o desenvolvimento de testes rápidos, aumento da produção de equipamentos proteção pessoal, como máscaras e atenção ao que dizem os especialistas em saúde.
A mensagem que os participantes da convenção transmitiram repetidamente, nas últimas quatro noites, é que o presidente Trump é incompetente, perigoso e não tem um pingo de empatia. Biden, por outro lado – segundo a mensagem –, tem décadas de experiência e é capaz se conectar no nível pessoal com famílias em luto, com quem enfrenta o desemprego, ou quem tem entes queridos nas Forças Armadas. Mas não ser Donald Trump não pode ser o único argumento de Biden.
Em seu discurso da quinta-feira, Biden mostrou que, pelo menos em parte, entende como é importante brilhar por seus próprios méritos e construir uma coalizão de eleitores. Ele falou de como superar a divisão entre estados vermelhos (republicanos) e azuis (democratas), tema que foi um dos pontos fortes da convenção como um todo, com muitos eleitores republicanos explicando por que estão apoiando Biden. e com o ex-governador republicano John Kasich discursando em apoio a Biden.
No entanto ainda não está claro como Biden e sua companheira de chapa, Kamala Harris, planejam convencer os eleitores jovens e progressistas de seu próprio partido a comparecerem e votarem neles. Uma Hillary Clinton centrista lutou para atrair exatamente a mesma ala nas últimas eleições.
Tendo em vista quantos candidatos democratas progressistas venceram as primárias para o Congresso contra candidatos mais estabelecidos e moderados neste ciclo eleitoral, Biden e Harris precisam descobrir rapidamente como ganhar os democratas progressistas, se quiserem ter uma chance em novembro.