Internacional
Oposição denuncia sequestro de ativista em Belarus
Testemunhas apontam que Maria Kolesnikova foi levada por homens mascarados. Apoiadores afirmam que outros dois oposicionistas que participam de comitê que pede a saída de Lukashenko também desapareceram.
Uma das principais figuras da oposição ao governo de Belarus desapareceu nesta segunda-feira (07/09), gerando temores de que ela tenha sido sequestrada pelas autoridades do país, em meio à escalada de protestos contra o regime autoritário de Alexander Lukashenko.
Segundo relatos de testemunhas, Maria Kolesnikova, membro do Conselho de Coordenação criado pela oposição para intermediar negociações para uma possível transição de poder no país, teria sido colocada num veículo e levada por pessoas mascaradas.
Além dela, também desapareceram o secretário de imprensa do Conselho, Anton Rodnenkov, e o secretário-executivo Ivan Kravtsov. A polícia disse não ter informações sobre os três ativistas.
Os desaparecimentos ocorrreram após o quarto domingo seguido de protestos em massa que exigem a renúncia de Lukashenko, que governa há 26 anos a ex-república soviética. Ele afirma ter vencido as eleições de 9 de agosto com uma margem de 80%. A oposição aponta fraude e intimidação na votação, que também foi contestada por diversos países do Ocidente. A União Europeia não reconhece o resultado do pleito.
O Conselho de Coordenação afirma que Kolesnikova e os outros ativistas foram raptados e denunciou o que chamou de “métodos de terror empregados pelo governo ao invés de dialogar com a sociedade”. “Tais métodos são ilegais e não apenas vão agravar a situação no país, mas ainda aprofundar a crise e instigar novos protestos”, disse a entidade em nota.
Os colegas da líder oposicionista afirmam que perderam contato com ela e que seu telefone estaria desligado. A entidade exigiu a libertação imediata dos desaparecidos e o retorno seguro ao país das lideranças que deixaram o Belarus sob forte pressão política.
A candidata derrotada nas contestadas eleições presidenciais Svetlana Tikhanovskaya disse que os desaparecimentos visam desestabilizar os trabalhos do Conselho, que visa assegurar uma transição pacífica do poder no país. Ela também deixou o Belarus após a votação e está atualmente refugiada na Lituânia. Vários outros membros do Conselho de Coordenação já foram presos pelo regime.
Kolesnikova, juntamente com outras figuras da oposição, como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura Svetlana Alexievich também são alvos de um inquérito que apura uma suposta tentativa de tomar ilegalmente o poder.
A ativista de 38 anos, uma flautista e professora de música, entrou na política para coordenar a campanha do ex-banqueiro Viktor Babaryko, que tentou disputar a presidência contra Lukashenko, mas acabou sendo preso e teve a candidatura barrada Na semana passada, ela anunciou a criação de um novo partido político de oposição.
O Ministério do Interior bielorrusso informou que a polícia prendeu mais de 633 pessoas que participaram dos protestos neste domingo, acusadas de tomarem parte em reuniões publicas ilegais, em uma das maiores detenções em massa desde o início dos atos contra o governo. As forças de segurança vem reprimindo com força as manifestações, com milhares de pessoas detidas.
Após serem libertados, alguns manifestantes acusaram o governo de praticar tortura contra os detidos, o que gerou uma onda de indignação no país.
As manifestações no país de 9,5 milhões de habitantes, que faz fronteira com a Rússia, são um desafio sem precedentes para o regime de Lukashenko.
O governo alemão vem condenando as prisões de opositores em Belarus. O porta-voz da chanceler federal Angela Merkel, Steffen Seibert, ressaltou que “a única resposta que Lukashenko e seu pessoal parecem ter no momento é a violência”.
“Exigimos a libertação imediata de todos os que foram detidos antes das eleições, no dia das eleições e desde as eleições, simplesmente por exercerem seus direitos democráticos” disse Seibert.
O porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, afirmou que o órgão executivo da UE condena as ações das autoridades em Belarus como “inaceitáveis” e disse que trabalha para descobrir o que teria ocorrido com os ativistas.
Segundo Stano, a UE se prepara para breve lançar em breve novas sanções contra uma relação de indivíduos responsáveis pela violência policial e pela fraude nas eleições.