Internacional
Eleições regionais russas podem abalar dominância de Putin
Votações em numerosos locais têm forte valor simbólico, em mau momento para partido governista. Críticos alertam contra perigo de fraudes. Apesar de hospitalizado em Berlim, oposicionista Navalny tem papel marcante.
Mais de 9.000 diferentes pleitos se realizam neste domingo (13/09) no país de maior superfície do mundo. Embora se trate de eleger políticos no nível local ou regional, o resultado pode ter influência sob a futura política de Moscou: especialmente importantes para o Kremlin são os novos governadores de 18 regiões.
Em outras 11, a população vota a nova configuração das câmaras regionais. Em 22 cidades realizam-se eleições para os conselhos municipais, e em outros locais são escolhidos os deputados para a Duma Federal, câmara baixa da assembleia em Moscou.
Estas eleições chegam num momento especialmente desfavorável para o presidente Vladimir Putin e seu partido Rússia Unida. De um lado está a recém-aprovada, altamente impopular, reforma da aposentadoria, que muitos cidadãos consideram imperdoável. Ao mesmo tempo, a economia nacional sofre os efeitos da crise internacional do petróleo e da pandemia de covid-19, o número de desempregados cresceu.
No extremo leste da Rússia, a prisão do ex-governador Sergei Furgal por envolvimento em assassinatos ocorridos 15 anos atrás vem gerando as maiores manifestações já vistas na região. Regularmente, milhares continuam indo às ruas em protesto contra o paternalismo de Moscou. Em outros territórios há grande descontentamento devido a problemas ambientais.
Acima de tudo, porém, as votações transcorrem sob o signo do caso Alexei Navalny, o mais famoso oposicionista russo. Há três semanas o ferrenho adversário de Putin vem sendo tratado na Clínica Charité, em Berlim: exames de laboratório confirmaram que ele foi envenenado com um agente dos nervos do grupo novichok, banido pela convenção internacional sobre armas químicas. Por sua vez, médicos russos não veem qualquer indício de envenenamento do político de 44 anos, afirma Moscou.
Para quebrar a dominância do partido do Kremlin, a equipe eleitoral de Navalny defende uma estratégia de “votação inteligente”, em que os eleitores deem seu voto aos candidatos com maiores chances de vitória, contanto que não sejam do Rússia Unida.
Esse método já se provou eficaz nas eleições regionais de 2019, resultando em perdas para a legenda governista, que no entanto conseguiu defender sua maioria de mandatos parlamentares na maioria das regiões. Por outro lado o pleito atual é bem mais decisivo para a escolha do parlamento em 2021.
Diante do grande valor simbólico da votação – a primeira desde o controvertido referendo que ampliou ainda mais os poderes de Putin –, a equipe de Navalny parte do princípio que a sigla do presidente defenderá sua hegemonia “com fraudes”. Outros oposicionistas igualmente alertam contra esse perigo.
Em diversas localidades, a Comissão Eleitoral já iniciou a votação na sexta-feira, alegando a intenção de, assim, reduzir o perigo de contágio com o coronavírus. Além disso, fotos nas redes sociais mostram pontos de ônibus e malas de carros transformados em postos eleitorais improvisados. Segundo críticos, tanto o período prolongado de votação quanto os locais anticonvencionais de entrega de votos dificultam os controles.