Internacional
Índia: Em 10 anos terão nascido 6,8 milhões de meninas a menos devido ao aborto seletivo
Um estudo recente estima que até 2030, nascerão aproximadamente 6,8 milhões de meninas a menos devido à prevalência do aborto seletivo por sexo no país.
O relatório, publicado na revista Plos One, no final de agosto, projetou a proporção de sexos ao nascer de 98% da população da Índia em 29 estados e territórios da união.
“Para toda a Índia, somando as 29 projeções a nível estadual, o número cumulativo de nascimentos femininos perdidos entre 2017 e 2030 é projetado em 6,8 [milhões]”, escreveram os pesquisadores da Universidade King Abdullah de Ciência e Tecnologia, na Arábia Saudita, e da Universidade de Paris, na França.
O estudo projeta que o número médio anual no déficit de nascimentos femininos entre 2017 e 2025 será de 469 mil por ano e deverá aumentar para 519 mil por ano no período de 2026 a 2030.
O estudo também descobriu que o maior déficit de nascimentos femininos é em Uttar Pradesh, um estado do norte do país, e que a preferência cultural por um filho do sexo masculino é maior em 17 estados do norte do país.
Anuradha Saxena, membro da Divisão de Empoderamento das Mulheres do Distrito de Sikar, no Rajasthan, disse ao The Guardian que os números não a surpreenderam.
“Levará algum tempo para eliminar os costumes e crenças profundamente arraigados. O progresso é lento e incremental, mas estamos trabalhando para que as meninas sejam valorizadas e apreciadas, em vez de serem vistas como um problema que precisa de um grande dote para se casar”, disse.
De acordo com os pesquisadores, na Índia há um desequilíbrio na proporção de homens para mulheres desde os anos 1970, quando a tecnologia de ultrassom permitiu que os pais soubessem o sexo de seus filhos antes do nascimento e o aborto foi legalizado. A cultura indiana prefere muito mais os meninos.
Na Índia, o aborto pode ser realizado até a 20ª semana de gestação.
Os abortos seletivos por sexo e a detecção pré-natal de sexo foram proibidos na Índia em 1994; no entanto, ambas as práticas permanecem comuns devido à preferência cultural por meninos.
Estima-se que haja 63 milhões de mulheres “desaparecidas” na Índia, de acordo com um relatório recente do governo.