Internacional
Partido de Orbán vence eleições parlamentares na Hungria
Legenda do primeiro-ministro conquista maioria absoluta no Parlamento, derrotando frente única da oposição. Vitória abre caminho para quarto mandato consecutivo de Orbán
O primeiro-ministro Viktor Orbán foi o grande vencedor das eleições parlamentares da Hungria, realizadas neste domingo (03/04). Seu partido, o Fidesz, conquistou a maioria absoluta no Parlamento – dois terços dos assentos –, o que permite a aprovação de mudanças na Constituição sem a necessidade do apoio de outras legendas.
Com 98,9% dos votos apurados, o Fidesz, de perfil nacionalista de direita e autoritário, conquistou 53% dos votos, enquanto a frente única de oposição, Unidos pela Hungria, recebeu 35%, segundo o órgão responsável pela organização das eleições. Isso significa que a sigla do premiê ocupará 135 cadeiras das 199 do Parlamento.
O resultado posiciona Orbán para exercer seu quarto mandato consecutivo como primeiro-ministro. Peter Marki-Zay, líder da frente única de oposição, reconheceu a derrota. A frente única conquistou 56 assentos, e outros sete serão ocupados por parlamentares do partido de extrema direita Nossa Pátria.
Em um discurso de dez minutos a seus apoiadores, em Budapeste, antes dos resultados finais, Orbán afirmou que seu partido tinha obtido uma “vitória imensa”. “Tivemos uma vitória tão grande que você pode vê-la a partir da Lua, e você certamente pode vê-la a partir de Bruxelas”, disse.
O primeiro-ministro Húngaro é ferrenho crítico da União Europeia, que com frequência o questiona por retrocessos democráticos.
Havia expectativa que a disputa deste domingo seria a mais apertada desde que Orbán assumiu o poder, em 2010, graças a uma coalizão dos seis principais partidos de oposição da Hungria, que puseram de lado suas diferenças ideológicas e formaram uma frente única, liderada pelo conservador Marki-Zay.
No entanto, mesmo em seu distrito de origem, Marki-Zay estava atrás do candidato do Fidesz, Janos Lazar, por mais de 11 pontos, com 74% dos votos apurados – sinal desanimador para o candidato a primeiro-ministro que havia prometido acabar com o que ele chama de corrupção desenfreada no governo e elevar o nível de vida, aumentando as verbas para escolas e hospitais em dificuldade.
Condições da disputa
Partidos da oposição e observadores internacionais apontaram obstáculos estruturais para derrotar Orbán, como o viés pró-governo generalizado na mídia pública, o controle dos veículos de mídia comerciais por aliados do primeiro-ministro e um mapa das zonas eleitorais manipulado a favor da situação.
Edit Zgut, cientista política da Academia Polonesa de Ciências em Varsóvia, afirmou à agência de notícias Associated Press que uma vitória clara de Orbán permitiria que ele aprofundasse a linha autocrática, afastando dissidentes e capturando novas áreas da economia.
“A Hungria parece ter chegado a um ponto sem retorno”, disse ela. “A principal lição é que o campo de jogo está tão inclinado que se tornou quase impossível substituir o Fidesz nas eleições.”
A coalizão de oposição defende uma nova cultura política baseada em um governo pluralista e a reparação de alianças com a União Europeia (UE) e países da Otan.
Guerra na campanha
No início da campanha eleitoral, Orbán estava focado em questões sociais e culturais divisivas, mas mudou drasticamente o tom após a invasão da Ucrânia pela Rússia e passou a retratar as eleições como uma escolha entre paz e estabilidade ou guerra e caos.
Enquanto a oposição queria que a Hungria apoiasse a vizinha Ucrânia e agisse em sintonia com seus parceiros da UE e da Otan, Orbán, um aliado de longa data do presidente russo, Vladimir Putin, insistiu que a Hungria deveria permanecer neutra e manter estreitos laços econômicos com Moscou, inclusive continuando a importar gás e petróleo russos em condições favoráveis.
Em seu último ato de campanha, na sexta-feira, Orbán afirmou que fornecer armas à Ucrânia, algo que a Hungria se recusou a fazer, faria do país um alvo militar, e que sancionar as importações de energia da Rússia prejudicaria a própria economia da Hungria. “Esta não é nossa guerra, temos que ficar de fora dela”, disse.
No sábado, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, descreveu o líder húngaro como alguém desconectado do resto da Europa – que se uniu para condenar Putin, apoiar as sanções contra a Rússia e enviar ajuda, inclusive armas, à Ucrânia. “Ele é praticamente o único na Europa a apoiar abertamente o senhor Putin”, disse Zelenski.
“Batalha árdua”
Depois de votar em sua cidade natal de Hodmezovasarhely, onde é prefeito, Marki-Zay chamou a eleição de domingo de uma “batalha árdua”, devido aos recursos econômicos superiores do Fidesz e de sua vantagem na mídia.
“Estamos lutando pela decência, estamos lutando pela independência do Judiciário e pelo Estado de direito na Hungria”, disse Marki-Zay. “Queremos mostrar que este modelo que Orbán introduziu aqui na Hungria não é aceitável para nenhum homem decente e honesto.”
Marki-Zay escreveu mais tarde em uma rede social para agradecer a todos os húngaros que votaram e aos mais de 20 mil fiscais voluntários que os partidos da oposição destinaram a locais de votação em todo o país. “Expresso minha gratidão aos civis que passaram o dia inteiro verificando a correição da eleição e agora estão começando a contagem”, afirmou.
Orbán, um crítico feroz da imigração, dos direitos LGBTQ e dos “burocratas da UE”, conquistou a admiração dos nacionalistas de direita em toda a Europa e da América do Norte e recentemente se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro. Ele submeteu muitas das instituições da Hungria ao seu controle e se apresenta como um defensor da cristandade europeia contra os migrantes muçulmanos, os progressistas e o “lobby LGBTQ”.
Junto com a eleição para o Parlamento, um referendo sobre uma controversa lei que proíbe falar sobre homossexualidade e mudança de gênero nos programas de educação sexual nas escolas foi realizado no domingo. Essa votação, no entanto, não alcançou o quórum mínimo para ser considerada válida.
A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) enviou uma missão de observação completa à Hungria para monitorar a eleição de domingo, a segunda vez que fez isso em um país da União Europeia.