Internacional
Presidentes da Rússia, Turquia e Irã reúnem-se em Teerã
Líderes das três potências regionais discutiram conflito na Síria, guerra na Ucrânia e exportação de grãos. Irã expressa apoio a Moscou sobre invasão da Ucrânia
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e do Irã, Ebrahim Raisi, reuniram-se nesta terça-feira (19/07) em Teerã para discutir questões comuns aos três países, como o conflito na Síria, a guerra na Ucrânia e a exportação de grãos.
Putin recebeu um sinal claro de apoio de Teerã em sua guerra contra a Ucrânia. O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que o Ocidente se opunha a uma Rússia “independente e forte” e que, se Moscou não tivesse invadido a Ucrânia, acabaria sofrendo um ataque da Otan no futuro – um dos argumentos usados pelo Kremlin para justificar a guerra.
Na semana passada, o governo dos Estados Unidos afirmou que o Irã se prepara para fornecer à Rússia centenas de drones, incluindo aqueles com capacidade de portar armas, para serem usados na guerra na Ucrânia.
Durante o encontro bilateral com a Turquia, Putin agradeceu os esforços de mediação de Ancara para liberar as exportações de grãos da Ucrânia através do Mar Negro, que estão retidos nos portos ucranianos. “Nem todas as questões foram resolvidas ainda, mas é bom que tenha havido algum progresso”, disse.
Foi a segunda viagem de Putin para fora da Rússia desde o início da guerra na Ucrânia. Ele afirmou que as conversas haviam sido “úteis e bastante substanciais” e que os líderes haviam adotado uma declaração conjunta, comprometendo-se a reforçar a cooperação sobre a situação na Síria.
O encontro ocorreu dias após o presidente americano, Joe Biden, também visitar os principais aliados de Washington na região – Arábia Saudita e Israel – assim como os territórios palestinos.
Questão Síria
No discurso de abertura da cúpula, Erdogan insistiu no apoio da Rússia e do Irã na luta da Turquia contra o que chama de “terrorismo” na Síria. Mais cedo, durante uma entrevista coletiva, Erdogan falou que as milícias curdas provocavam “grandes problemas” para o Irã e para a Turquia.
Antes da reunião trilateral, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, advertiu Erdogan contra novas agressões na Síria. Tanto o Irã quanto a Rússia apoiam o regime do presidente Bashar Assad, enquanto a Turquia dá suporte a alguns grupos de oposição a Assad.
“Manter a integridade territorial da Síria é muito importante, e qualquer ataque militar no norte da Síria definitivamente prejudicará a Turquia, a Síria e toda a região, e beneficiará os terroristas”, disse Khamenei a Erdogan.
A Turquia ameaçou lançar uma operação militar no norte da Síria, particularmente em regiões controladas por grupos curdos, para estender o que chama de “zona segura”.
Conversas entre Ancara e Moscou
Erdogan elogiou a “abordagem muito, muito positiva” da Rússia durante as conversas na semana passada, em Istambul, sobre a exportação de grãos da Ucrânia, e expressou otimismo de que um acordo será feito e que “o resultado que surgirá terá um impacto positivo em todo o mundo”.
O papel da Turquia como um membro da Otan que não impôs sanções contra Moscou faz de Ancara um parceiro necessário para a Rússia. Erdogan também provou ser um entrave aos planos da Otan de aceitar rapidamente a adesão da Suécia e da Finlândia à aliança.
Por outro lado, Ancara esteve do lado oposto de Moscou em conflitos no Azerbaijão e na Líbia, e até vendeu drones para a Ucrânia, que depois foram utilizados para combater as tropas russas.
Teerã e Moscou têm concorrência e cooperação
O Irã e a Rússia compartilham no momento a dificuldade de estarem sob severas sanções econômicas do Ocidente, que já causaram um grande impacto na economia iraniana e também vêm afetando a economia russa.
Os dois países são também concorrentes como grandes exportadores de petróleo e gás. Isso ficou ainda mais claro depois que a Rússia redirecionou seu foco de exportação para a China, que é um mercado importante para a compra de petróleo iraniano.
Entretanto, na terça-feira, pouco antes da chegada de Putin, a National Iranian Oil Company (NIOC) e a gigante estatal russa de gás Gazprom assinaram um acordo no valor de 40 bilhões de dólares para buscar opções de cooperação.
Ao mesmo tempo, o Irã enfrenta um bloco regional cada vez mais unido, constituído pelos países do golfo árabe sunita e Israel, cujo interesse compartilhado é combater a influência de Teerã e sua tentativa de desenvolver seu programa nuclear.
O Irã provavelmente espera pressionar os EUA a aceitar concessões para reavivar o acordo nuclear de 2015, que perdeu efeito após a retirada unilateral de Washington em 2018, no governo de Donald Trump – as sanções subsequentes paralisaram a economia do país.