Internacional
Quem era o líder da Al Qaeda morto pelos EUA no Afeganistão
Braço direito de Bin Laden e um dos mentores dos atentados de 11 de setembro de 2001, Ayman al-Zawahiri chefiava a organização terrorista há uma década
Médico descrito por seus colegas de faculdade como tímido, o egícpio Ayman al-Zawahiri tinha 71 anos e era um dos terroristas mais procurados do mundo. Na noite desta segunda-feira (01/08), mais de uma década depois de assumir o posto de líder da rede Al Qaeda no lugar de Osama Bin Laden, ele foi declarado morto pelo governo americano.
Al-Zawahiri morreu após um ataque executado por um drone dos EUA em Cabul, capital do Afeganistão, no final de semana. A confirmação ocorreu somente no início desta semana.
De acordo com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, abater Al-Zawahiri era essencial para assegurar que as regiões controladas por talibãs em território afegão não sirvam mais de base para o planejamento de ataques terroristas em todo o mundo.
Al-Zawahiri assumiu o controle da Al Qaeda depois que Bin Laden foi morto por forças especiais dos EUA no Paquistão, em 2011. Uma década antes, ele havia ajudado a coordenar os ataques de 11 de setembro, que mataram cerca de 3 mil pessoas.
Após esse atentado, a Interpol ordenou a busca e a captura do egípcio, que nasceu em uma família próspera no bairro de Gizé, no subúrbio da cidade do Cairo.
As acusações de ações terroristas no seu país natal e também de ser um dos chefes da Al Qaeda levaram o FBI a colocá-lo na lista dos criminosos mais procurados do mundo, com uma recompensa de 25 milhões de dólares a quem repassasse informações que levassem a sua prisão.
Autoridades internacionais acreditavam que ele vivia escondido entre o Afeganistão e o Paquistão. Ele costumava aparecer em vídeos defendendo a causa islâmica em sites sobre o tema, comentando eventos atuais e também lembrando seu compromisso contra aqueles que ele considerava inimigos do islã.
Uma das últimas aparições ocorreu justamente em uma gravação feita no ano passado, em ocasião do 20º aniversário dos ataques de 11 de setembro. No vídeo, intitulado “Jerusalém nunca será judaizada”, Al-Zawahiri, vestido com uma túnica e uma longa barba branca, fala por mais de uma hora sobre diversos temas, especialmente a respeito da causa palestina.
Durante os anos em que liderou a Al Qaeda, na última década, Al-Zawahiri viu a organização enfraquecer e sofrer várias ramificações. Com isso, presenciou, por exemplo, o surgimento do grupo Estado Islâmico (EI), a partir de uma divisão da própria Al Qaeda.
Suspeito e preso desde a adolescência
Observador religioso desde a infância, Al-Zawahiri teve o seu nome associado a militantes islâmicos desde a adolescência, quando passou a seguir os ensinamentos de Sayyid Qutb, o pai do moderno jihadismo salafista. Aos 15 anos, foi preso, acusado de integrar a Irmandade Muçulmana, uma organização fundada em 1928 e que se difundiu com mais força nos anos 70 no mundo islâmico.
Alguns anos depois, Al-Zawahiri juntou-se ao grupo terrorista Jihad (Guerra Santa), que foi criado no Egito no fim da década de 60.
O primeiro atentado do qual ele foi acusado ocorreu em 1981: o assassinato do presidente egípcio Anwar el Sadat, então líder do país desde 1970, durante um desfile militar na cidade do Cairo. Por isso, foi condenado a três anos de prisão, onde teria sido torturado, o que, segundo seus biógrafos, teria lhe radicalizado ainda mais.
Depois de cumprir a pena, viajou à Arábia Saudita – centro do islamismo mais radical – e ao Paquistão. Em 1985, encontrou-se pela primeira vez com Osama Bin Laden, líder e fundador da Al Qaeda, que surgiu oficialmente no final dos anos 80, mas que já atuava em frentes paramilitares contra a invasão soviética no Afeganistão (1979-1989).
Passaportes falsos em busca de doações
No início dos anos 90, Al-Zawahiri seguiu junto com Bin Laden para o Sudão, uma vez que o então chefe da Al Qaeda havia sido expulso da Arábia Saudita. No meio da década, ele foi um dos responsáveis por buscar doações financeiras para o grupo.
Estima-se que o uso de passaportes falsos o levou inclusive aos Estados Unidos e ao Reino Unido à procura de suporte financeiro.
Em 1995, Al-Zawahiri apareceu em um vídeo, ao lado de Bin Laden, no qual ambos ameaçavam os Estados Unidos pela prisão do xeque egípcio Omar Abdel Rahman, acusado de participação no atentado à bomba de 1993 no World Trade Center, em Nova York.
Já no fim da década, em 1998, foi um dos signatários, junto com Bin Laden, de um documento em que ambos ordenavam ataques a alvos americanos em todo o mundo.
Um ano depois, ele, Bin Laden e outros 14 integrantes da Al Qaeda foram indiciados pelos EUA devido aos ataques terroristas nas embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia que causaram cerca de 240 mortes.
Nesse mesmo ano, em um julgamento contra jihadistas no Egito, Al-Zawahiri e seu irmão Mohammed foram condenados à morte.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, em Nova York, a Al Qaeda promoveu uma série de outros atentados em todo o mundo, a exemplo de Bali e Jacarta, na Indonésia; Mombaça, no Quênia; Riade, na Arábia Saudita; Istambul, na Turquia; Madri, Espanha; e Londres, Reino Unido.
Como ocorreu a morte de Ayman al-Zawahiri
A morte de Ayman al-Zawahiri teria ocorrido na manhã do último domingo, quando ele havia saído para a varanda da casa onde estava escondido – um hábito que já vinha sendo observado pelos serviços secretos dos EUA. Via drone, dois mísseis Hellfire atingiram a residência e mataram o líder da Al Qaeda.
Segundo analistas e autoridades americanas, havia a suspeita de que Al-Zawahiri estava no Afeganistão porque a mulher e familiares dele tinham se mudado para Cabul.
A partir de agora, a Al Qaeda busca um sucessor para o então líder. Conforme o ex-agente libanês-americano e perito sobre a organização, Ali Soufan, o também egípcio Saif al-Adl é um dos candidatos mais temidos pelo Ocidente para assumir o cargo. Venerado dentro do grupo, ele teria a experiência e o carisma necessários para atrair antigos desertores.
No entanto, a Al Qaeda enfrenta uma crise devido a essa sucessão e, por isso, tem um possível futuro instável. Além das rivalidades com outros grupos extremistas, os conflitos no Oriente Médio, na África e na Ásia têm facilitado a atuação de organizações jihadistas locais em vez de globais, como é a Al Qaeda, aponta o especialista em redes de extremistas violentos, Charles Lister.