Politíca
Vitória de Lula e Lira: Hugo Motta é escolhido para a sucessão da Câmara em eleição que Deixa adversários sem chance
Por Roberto Tomé
A corrida pela presidência da Câmara dos Deputados, que prometia ser uma disputa acirrada, tomou um rumo inesperado e praticamente selado com a escolha de Hugo Motta como o candidato de maior consenso. A troca da candidatura de Marcos Pereira (Republicanos) por Motta transformou a eleição em uma vitória quase garantida para o governo Lula e para o atual presidente da Câmara, Arthur Lira, deixando os adversários sem qualquer chance de contestação.
A articulação em torno de Hugo Motta foi meticulosamente planejada pelo Centrão, com PSD e MDB à frente, em estreita colaboração com o Palácio do Planalto. Desde o início, a estratégia envolvia neutralizar candidaturas internas, como as de Antônio Brito (PSD) e Isnaldo Bulhões (MDB), que só recuariam caso o nome de Motta fosse amplamente aceito. A decisão, monitorada de perto pelo presidente Lula, é vista como fundamental para garantir um ambiente político favorável à aprovação de pautas cruciais, incluindo a busca de R$ 46 bilhões para fechar o orçamento até o final do ano.
Arthur Lira, figura central nas negociações, jogou com maestria para assegurar a escolha de Motta. Embora sua preferência pessoal recaísse sobre Elmar Nascimento (União Brasil), a resistência do governo Lula e o risco de divisões internas na Câmara tornaram essa opção inviável. Com o apoio a Motta, Lira não apenas preserva sua influência, mas também consolida sua posição ao eleger o próprio sucessor, algo inédito em comparações com seus antecessores.
Elmar Nascimento, para não sair totalmente derrotado, deve ser recompensado com uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), demonstrando a capacidade de Lira em manter o equilíbrio político mediante concessões estratégicas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo na oposição, teve um papel indireto na ascensão de Hugo Motta. Conflitos pessoais e políticos, especialmente dentro da bancada evangélica, levaram Bolsonaro a vetar o apoio do PL, a maior bancada da Câmara, à candidatura de Marcos Pereira. Esse veto abriu caminho para que o apoio a Motta ganhasse força, garantindo ao PL uma posição privilegiada na Mesa Diretora, possivelmente na Primeira Vice-Presidência.
Hugo Motta, com apenas 34 anos, já desponta como uma liderança natural dentro do Congresso. Desde os tempos de Eduardo Cunha, quando era cotado para sucedê-lo, Motta vem construindo uma carreira marcada pela habilidade em negociações nos bastidores. Sua escolha como candidato de consenso marca a consolidação de uma nova geração do Centrão, mais discreta e eficiente, que vem ganhando espaço em posições-chave do governo.
Essa nova geração já havia mostrado sua força com as nomeações de Celso Sabino (Turismo) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) para ministérios, ambos importantes aliados na costura que levou à escolha de Motta. Silvio Costa Filho, em particular, foi fundamental ao convencer Marcos Pereira a desistir e ao assegurar o apoio de Lula.
Com Hugo Motta na presidência da Câmara e Davi Alcolumbre como favorito no Senado, o governo Lula se fortalece para enfrentar os desafios dos próximos dois anos. O desfecho dessa sucessão abre a porta para uma nova reforma ministerial, que deve garantir mais estabilidade ao governo, harmonizando as relações entre Executivo e Legislativo.
A princípio, Lula chegou ao poder com a promessa de limitar a influência do Congresso sobre o orçamento. No entanto, a realidade política exigiu um ajuste de rota. Agora, com Motta e Alcolumbre em posições de liderança, o controle sobre o orçamento permanece com o Congresso, mas com uma perspectiva de uso mais coordenado e eficiente dos recursos, em sintonia com as políticas do governo.
A escolha de Hugo Motta, mais do que uma simples troca de candidatos, simboliza uma mudança na dinâmica política de Brasília. É uma vitória clara para Lula e Lira, e um passo decisivo para a consolidação de uma nova era no Congresso, onde a habilidade de negociação e a construção de consensos se tornam as ferramentas mais poderosas na manutenção do poder.