Nacional
Gleisi tenta apaziguar tensões e nega apoio do PT a candidatura de Hugo Motta para presidência da Câmara
Por Roberto Tomé
A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada Gleisi Hoffmann (PR), tomou a dianteira em uma tentativa de reduzir as tensões políticas envolvendo a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Na noite da última quarta-feira (11), Gleisi procurou o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) para minimizar o impacto de uma publicação feita pelo líder do PT na Câmara, Odair Cunha–MG. Cunha, em um gesto surpreendente, compartilhou uma foto ao lado de Hugo Motta (Republicano-PB), adversário direto de Elmar na corrida pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na liderança da Casa.
Segundo fontes próximas, a imagem postada por Odair gerou desconforto imediato nos bastidores, pois dava a entender que o PT havia definido apoio a Motta. Para complicar ainda mais a situação, a foto foi tirada durante um almoço com a presença de Arthur Lira, que supostamente teria anunciado seu apoio a Hugo Motta na ocasião. A movimentação, no entanto, não foi combinada com o presidente da Câmara, o que adicionou mais uma camada de incerteza à disputa.
Em uma manobra para evitar mal-entendidos, Gleisi Hoffmann telefonou para Elmar Nascimento na noite de quarta-feira e, no dia seguinte (12), encontrou-se pessoalmente com o parlamentar na sede do PT em Brasília. Durante a conversa, a presidente do PT garantiu a Elmar que o partido ainda não havia fechado apoio a nenhum candidato que a publicação de Odair Cunha não representava uma posição oficial da legenda.
Para a imprensa, a assessoria de Gleisi confirmou o encontro, mas afirmou que o pedido de reunião teria partido do próprio Elmar, que buscava esclarecimentos sobre o suposto apoio do PT a Hugo Motta. A deputada reiterou que, como líder do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua intenção era afastar qualquer especulação sobre o envolvimento direto do PT na escolha de um candidato para a presidência da Câmara.
A posição de Lula tem sido clara: o presidente tem evitado, publicamente, interferir na disputa pela liderança da Casa, o que torna a neutralidade do PT ainda mais importante neste momento delicado.
A publicação de Odair Cunha gerou um furor político, especialmente porque, segundo apurações, a divulgação não havia sido discutida com Arthur Lira, que, até o momento, não oficializou seu apoio a Hugo Motta. A postagem foi feita na rede social Bluesky, após um almoço que reuniu, além de Cunha e Motta, outros líderes partidários, como Altineu Côrtes (PL-RJ), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Dr. Luizinho (PP-RJ).
Embora Lira não tenha feito uma declaração pública oficial, relatos indicam que o presidente da Câmara não apenas apresentou Motta como seu candidato preferido, mas também pediu aos demais líderes de bancada presentes que apoiassem o paraibano na corrida pelo comando da Casa.
Até pouco tempo, Elmar Nascimento era amplamente visto como o favorito de Lira para sucedê-lo na presidência da Câmara. No entanto, uma reviravolta política dentro do Republicano, articulada pelo presidente nacional do partido, Marcos Pereira (SP), mudou o rumo da disputa. Pereira, que até então era pré-candidato, decidiu renunciar a sua candidatura para dar lugar a Hugo Motta, que tem maior aceitação entre os deputados.
A decisão de Lira de apoiar Motta abalou profundamente sua relação com Elmar, um de seus principais aliados políticos. A medida é vista como uma tentativa de Lira de manter sua influência na Casa Baixa, mesmo após deixar o cargo de presidente.
A movimentação em torno da sucessão de Arthur Lira tem grandes implicações para a política nacional, especialmente em um cenário onde o Centrão continua a desempenhar um papel central. A escolha de Hugo Motta reflete um esforço do grupo para manter coesão e força política, evitando divisões internas que poderiam enfraquecer a bancada governista.
Com o apoio de Lira, Motta agora desponta como um dos favoritos para assumir a presidência da Câmara em 2025. No entanto, a disputa está longe de ser definida, e as articulações políticas continuam o mais rápido possível, com cada bloco buscando consolidar suas posições. Para Elmar Nascimento, a perda do favoritismo coloca sua candidatura em uma situação delicada, mas ainda não eliminada do jogo político.
O cenário para a escolha do próximo presidente da Câmara é volátil, e o apoio formal de partidos e lideranças será decisivo nos próximos meses. Com a movimentação de Gleisi Hoffmann e a neutralidade declarada do PT, o campo está aberto para mais negociações e alianças antes da definição final.