Politíca
Traição, Racha no Centrão e Apoio de Lira a Hugo Motta: A Explosiva Disputa pela Presidência da Câmara
Por Roberto Tomé
A corrida pela presidência da Câmara dos Deputados, que promete redefinir os rumos do poder na Casa, ganhou novos contornos explosivos nesta quarta-feira (11). Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara, declarou oficialmente seu apoio ao nome de Hugo Motta (Republicanos-PB) como sucessor, acirrando a disputa e provocando uma grave divisão no Centrão, bloco até então considerado a espinha dorsal da governabilidade no Congresso.
Com o anúncio, a sucessão de Lira passa a ter três nomes oficialmente na disputa: Hugo Motta, Elmar Nascimento (líder do União Brasil) e Antonio Brito (líder do PSD). Embora Nascimento e Brito tenham firmado um pacto de não agressão e prometido apoio mútuo, o apoio de Lira a Motta reacende a tensão política, particularmente com Nascimento, que considerou a decisão de Lira uma traição.
Lira, peça central na articulação política da Câmara, fez o anúncio em uma reunião com líderes partidários, onde fechou questão em torno da candidatura de Hugo Motta. O apoio do presidente da Câmara ao paraibano já conta com o respaldo de três grandes partidos: PP, Republicanos e parte do PL, somando uma força significativa.
Entretanto, a reação de Elmar Nascimento foi imediata. Sentindo-se traído por Lira, o líder do União Brasil rapidamente buscou apoio no Palácio do Planalto, tendo uma reunião com o presidente Lula para tentar consolidar sua própria candidatura. Apesar do discurso oficial de neutralidade, Lula designou o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) para atuar nos bastidores, tentando esvaziar a candidatura de Motta e manter o equilíbrio entre as forças políticas na Câmara.
“Recebi do presidente a garantia de que ele não interferirá nas eleições da Câmara, o que demonstra sua liderança republicana e respeito pelas instituições”, declarou Nascimento em suas redes sociais, sinalizando que continua firme na disputa, mas ciente das complexidades do jogo político que se desenrola.
Outro nome que tem se mostrado atuante contra Lira nos bastidores é Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente do Senado. Apesar de suas movimentações, o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões, tem inclinado seu apoio a Hugo Motta, colocando uma incógnita sobre o real peso de Renan na disputa. Bulhões é aliado próximo de Motta, o que pode significar uma importante adesão do MDB à candidatura apoiada por Lira.
O movimento de Lira em favor de Motta não apenas tensionou sua relação com Elmar Nascimento, mas também ameaça implodir o chamado “Centrão”. A aliança entre PP, PL e Republicanos, que soma 186 deputados, parece sólida, mas há um novo bloco emergente que pode desestabilizar esse equilíbrio. Líderes de partidos como PSD, União Brasil, MDB, PSDB/Cidadania e PDT têm se articulado para formar uma frente ampla, capaz de contrapor o grupo de Lira. Com o apoio também da federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), esse bloco pode alcançar cerca de 324 deputados, superando a força política do Centrão tradicional.
O racha expõe as fissuras internas em um bloco que, historicamente, foi central para garantir estabilidade política no país. Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente de seu partido, havia retirado sua candidatura em prol de um consenso em torno de Hugo Motta, mas líderes afirmam que esse acordo jamais foi real, e a candidatura de Motta pode, na verdade, fragmentar ainda mais o Centrão.
Nos bastidores, a temperatura política só aumenta. Lira tentou contatar Nascimento após o anúncio de seu apoio a Motta, mas foi ignorado pelo líder do União Brasil. Fontes próximas a ambos os deputados descrevem o clima entre eles como o “pior possível”, revelando uma ruptura que pode afetar profundamente as negociações políticas no Congresso.
Com três candidatos declarados e apoios divididos, a eleição para a presidência da Câmara promete ser uma das mais acirradas dos últimos tempos. Além das implicações imediatas para a governabilidade, o resultado desse embate vai moldar as relações entre o Executivo e o Legislativo no próximo ciclo político, com possíveis impactos até nas eleições gerais de 2026.
A movimentação de Lira em favor de Motta e o racha no Centrão são apenas o começo de uma batalha que vai testar a força dos líderes partidários e a articulação do governo Lula para manter suas bases alinhadas.
A disputa pela presidência da Câmara não é apenas uma luta por poder interno, mas também um termômetro do equilíbrio de forças no Congresso Nacional. O desfecho dessa eleição terá repercussões profundas na política nacional, e o racha no Centrão pode ser o primeiro sinal de uma reconfiguração mais ampla do cenário político brasileiro. O jogo está apenas começando, e cada movimento pode ser decisivo.