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O PT mantém foco político enquanto economia pede responsabilidade fiscal: Brasil e eleitores ficam em segundo plano?
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tem mantido uma posição rígida em defesa do governo Lula, principalmente quando o assunto são os ajustes fiscais cobrados por economistas e empresários. Em suas recentes falas, Gleisi acusou a grande mídia de tentar impor uma “agenda neoliberal” ao governo, alegando que os principais jornais do país têm insistido quase como uma chantagem, na cobrança por medidas econômicas que endureçam o orçamento federal. No entanto, ela omite um ponto chave: a promessa de responsabilidade fiscal não veio da mídia, mas sim do próprio Lula, que em campanha se comprometeu a gerenciar o país com estabilidade financeira.
Para a líder petista, a cobrança sobre Lula é uma repetição das práticas do governo anterior, que segundo ela, sacrificou setores vitais como saúde e educação. Em seu discurso, Gleisi critica o que considera uma tentativa de subordinar o país aos interesses de investidores e “donos da mídia”, que, em suas palavras, desejariam cortes que impactariam diretamente os aposentados e trabalhadores. O argumento, entretanto, não considera os efeitos adversos de uma postura fiscal frouxa sobre essas mesmas classes.
Ao relutar em ajustar as contas públicas, o governo Lula desafia o Banco Central a manter a inflação controlada e os juros sob controle. A alternativa é um cenário de taxas mais altas e inflação persistente — e é justamente essa lógica que Gleisi parece ignorar ou minimizar. Sem uma política fiscal sólida, o custo de vida sobe, e são os trabalhadores e aposentados, os mais afetados pelo aumento dos preços, que veem o poder de compra cair ainda mais.
No entanto, Gleisi insiste: Lula estaria certo em resistir às pressões por mais austeridade, preferindo ampliar o crédito e aumentar o investimento público para fomentar o crescimento econômico. Mas o argumento tem fragilidades; muitos economistas alertam que essa abordagem pode impulsionar o crescimento de curto prazo à custa de uma inflação mais alta e, consequentemente, de um poder de compra mais desgastado. É um ciclo que acaba demandando novos sacrifícios, exatamente o que o PT diz querer evitar.
Enquanto a economia demanda equilíbrio, a postura de Gleisi sugere que o foco do partido está mais em se blindar das críticas do que em assumir compromissos que possam significar algum desgaste político. Após as derrotas nas últimas eleições municipais, em que o partido perdeu espaço até em redutos históricos, o PT enfrenta um desgaste de popularidade em bases que antes eram sólidas. Muitos analistas enxergam o discurso de resistência aos ajustes como uma estratégia para conter a fuga de eleitores, mesmo que a conta fique, a longo prazo, para o país.
Além disso, a postura interna do partido começa a dar sinais de descompasso. Enquanto algumas figuras petistas sugeriram que o partido deveria se abrir para autocríticas — caso de Edinho Silva, que deve ser o próximo presidente da legenda —, Gleisi insistiu na mesma retórica de que o país sofre com uma “ofensiva de direita”, discurso que remete à vitória de Donald Trump nos EUA e às guerras culturais de quase uma década atrás. Para ela, ceder em um projeto “neoliberal” seria conceder ao inimigo uma vitória ideológica e fragilizar o governo Lula.
Hoje, no entanto, o PT se depara com uma realidade distinta, na qual o apelo ao combate contra forças imaginárias já não encontra o mesmo eco. A sociedade, sobretudo em tempos de crise, quer soluções palpáveis, e grande parte da população começa a entender que certas reformas e ajustes são necessários para a recuperação da economia e para a proteção do poder de compra de todos — inclusive daqueles que o partido busca representar.
Ao ignorar essas necessidades em nome de um discurso politizado, o PT arrisca não apenas a credibilidade do governo Lula, mas também a confiança daqueles que esperam ver um país que recupere, de fato, a estabilidade econômica. Gleisi e Lula, ao insistirem no combate às “pressões do mercado” e ao “neoliberalismo da mídia”, parecem dispostos a colocar as ambições políticas do partido acima da necessidade de ajuste do país.
O Brasil, neste contexto, enfrenta uma bifurcação em que manter uma postura fiscal irresponsável pode comprometer ainda mais a economia. O partido e suas lideranças, no entanto, parecem acreditar que insistir na defesa dos interesses partidários vale o risco. Afinal, sustentar a base eleitoral tem sido o objetivo principal. Na prática, o que se observa é um PT em defesa de si — e a um alto custo para o brasileiro comum.
O jogo de palavras e o apelo à defesa das classes mais pobres perdem força quando confrontados com uma inflação crescente e a falta de recursos para investimentos sustentáveis. Para muitos, o PT, ao insistir na retórica e na resistência fiscal, deixa claro que o verdadeiro objetivo é se manter como partido forte e influente. É um caminho arriscado, que pode custar caro ao próprio PT e, mais ainda, ao Brasil.