Segurança Pública
Paraíba fica de fora do alistamento militar feminino: decisão gera polêmica
Por Roberto Tomé
O Brasil deu um passo importante ao abrir o alistamento militar para mulheres, mas a exclusão de estados como a Paraíba reacende discussões sobre desigualdade e critérios de escolha. A Portaria GM-MD n.º 5.151 de 2024, que regulamenta o processo, define que apenas municípios com infraestrutura adequada e presença de organizações militares poderiam participar. A Paraíba ficou de fora.
A abertura do alistamento feminino é um marco. Pela primeira vez, mulheres poderão ingressar nas Forças Armadas em posições que antes eram exclusivas dos homens. Com início em 2025 e foco na classe de jovens que completam 18 anos, a medida permitirá que elas se voluntariem para áreas diversas, incluindo combate. Mas, como sempre, nem todos têm as mesmas oportunidades.
Os municípios selecionados, chamados de tributários, foram escolhidos por atenderem critérios de infraestrutura, logística e capacidade de absorver recrutas. Enquanto estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco foram contemplados, a Paraíba não atendeu aos requisitos. Isso reflete uma disparidade que vai além das Forças Armadas: é um retrato de como as decisões estratégicas geralmente excluem regiões menos favorecidas.
A ausência da Paraíba na lista não significa apenas a exclusão de mulheres do estado. Essa decisão amplia o sentimento de isolamento que muitas localidades do nordeste enfrentam em políticas de alcance nacional. Para quem moram longe dos centros escolhidos, os custos de deslocamento e as dificuldades logísticas podem ser desanimadores, limitando o acesso.
Lideranças locais já começam a se movimentar, apontando que a falta de inclusão do estado em programas dessa magnitude perpétua desigualdades e impede o fortalecimento regional. Críticas surgem não só por conta do alistamento, mas também pela falta de investimentos em unidades militares que poderiam preparar o estado para futuras oportunidades.
Para as jovens paraibanas interessadas no serviço militar, a decisão significa buscar alternativas em estados vizinhos. Recife, em Pernambuco, é uma das cidades mais próximas na lista, mas nem todas têm condições de se deslocar. A exclusão dificulta o acesso à experiência militar, que poderia ser uma porta de entrada para carreiras promissoras e ainda oferece formação pessoal e profissional.
Além disso, a falta de representatividade da Paraíba nesse processo levanta uma questão maior: como incluir regiões historicamente marginalizadas em iniciativas nacionais? Até que ponto é justo exigir que jovens do nordeste se adaptem a um sistema que não foi desenhado pensando em sua realidade?
Apesar das limitações atuais, há espaço para mudanças. O Ministério da Defesa já sinalizou que o programa será gradualmente ampliado, permitindo a inclusão de outros estados. A Paraíba, no entanto, precisa fazer sua parte. Investir em infraestrutura militar e pressionar por maior representatividade política são passos essenciais para reverter esse quadro.
A ampliação do acesso ao serviço militar feminino vai além da igualdade de gênero. Trata-se de modernizar as Forças Armadas e integrar todas as regiões do Brasil em um projeto que promete ser transformador. A Paraíba, com sua força cultural e estratégica, merece estar nesse mapa. Mas, para isso, é necessário um esforço conjunto entre governo local, lideranças e a sociedade civil.
A decisão de excluir a Paraíba é mais um capítulo de uma história que o nordeste conhece bem: a de ficar à margem. Que este seja um ponto de partida para mudar o rumo dessa narrativa. As mulheres paraibanas merecem essa chance. O Brasil também.
Fonte: Portal Informa Paraíba: www.informaparaiba.com.br