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Bolsonaro perde espaço: direita fragmentada e novas lideranças avançam

O ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta um cenário político turbulento. Alvo de perseguição, investigações e impossibilitado de disputar eleições até 2030, ele vê sua influência na oposição ao governo Lula se esvair. Enquanto lida com riscos judiciais, um novo tabuleiro político se forma, com figuras despontando e disputando espaço na direita brasileira.
Nos últimos meses, Bolsonaro tem perdido o controle do bloco que antes orbitava em torno de sua liderança. Políticos que antes seguiam sua cartilha agora buscam protagonismo próprio, e a fidelidade ao ex-presidente já não é uma garantia. Diferente de Lula, que mantém sob seu controle o comando da esquerda, Bolsonaro enfrenta uma fragmentação crescente entre antigos aliados.
Entre os que tentam ocupar espaço no vácuo deixado por Bolsonaro, destaca-se o influenciador Pablo Marçal (PRTB) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), ambos com forte apelo junto ao eleitorado conservador. Mas a disputa não para por aí. Outros atores surgem com ambições eleitorais que vão desde o Congresso até o Palácio do Planalto.
O senador Marcos Pontes (PL-SP) lançou candidatura própria à presidência do Senado, contrariando Bolsonaro, que apoiava Davi Alcolumbre (União–AP). A decisão gerou tensão no Partido Liberal e demonstrou que a fidelidade ao ex-presidente já não é inquestionável.
Nos bastidores, aliados já especulam sobre a viabilidade do chamado “bolsonarismo” sem Bolsonaro. Há quem considere que a marca política do ex-presidente ainda tenha força, mas outros já ensaiam um desembarque estratégico antes que a nau afunde.
Sem poder concorrer a cargos públicos até o fim da década, Bolsonaro vê outras lideranças de direita crescerem. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta como um dos nomes mais fortes, sendo apontado por aliados do ex-presidente como imbatível em uma futura disputa presidencial.
A lista de possíveis sucessores não para por aí. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), já planeja viagens pelo país para fortalecer sua imagem. No Paraná, Ratinha Júnior (PSD), ganha apoio interno para se lançar nacionalmente, enquanto Romeu Zema (Novo), mais discreto, movimenta-se nos bastidores. Até mesmo o cantor Gusttavo Lima entrou no radar político ao sugerir uma candidatura presidencial em 2026.
Já Marçal, que tentou uma aliança com Bolsonaro e foi rechaçado pelo clã presidencial, decidiu seguir carreira solo. Nikolas Ferreira, por sua vez, também dá sinais de afastamento, investindo em projetos próprios como a proposta de reduzir a idade mínima para disputar a Presidência, o que beneficiaria sua eventual candidatura em 2026.
A direita enfrenta um problema que pode ser decisivo nas próximas eleições: a falta de unidade. Enquanto Lula consolida sua base, Bolsonaro vê seu grupo se dividir em diferentes correntes. Há os que defendem uma postura mais moderada, como Tarcísio, e os que insistem na radicalização, como os aliados mais ferrenhos do ex-presidente.
A família Bolsonaro também sente o impacto. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tenta manter influência no Senado, mas sem o peso do pai, sua força política diminui. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue apostando na aliança com a direita internacional, enquanto Carlos Bolsonaro (Republicanos) mantém sua atuação discreta na comunicação digital.
Com esse cenário, a grande questão é: o bolsonarismo sobrevive sem Bolsonaro? O eleitorado conservador ainda tem força, mas sem uma liderança unificadora, o risco de pulverização é grande. A direita precisará decidir se seguirá fragmentada ou encontrará um novo nome capaz de liderar o grupo rumo às próximas eleições.
Se a oposição não se reorganizar, Lula terá caminho livre para articular sua sucessão em 2026. E aí, a direita correrá o risco de assistir a mais um ciclo petista no poder sem um adversário forte o suficiente para barrá-lo.