ECONOMIA
Correios em crise: salários atrasados, prejuízos bilionários e risco de insolvência

A crise financeira dos Correios se agrava e atinge diretamente seus 85 mil empregados. Parte dos trabalhadores não recebeu os salários referentes ao mês de janeiro, descumprindo um acordo trabalhista vigente desde 1969, que garante o pagamento no último dia útil do mês. O problema gerou protestos em São Paulo e motivou ação judicial do sindicato da categoria.
O Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo (SINTECT-SP) cobraram explicações da direção da estatal e questionou a justificativa da empresa, que alegou “inconsistências” no sistema de Recursos Humanos. Conforme a direção da estatal, o atraso afetou 124 funcionários, mas o sindicato contesta esse número e promete levar o caso à Justiça.
Eis a íntegra:
Segundo Elias Diviza, presidente do sindicato, os pagamentos atrasados começaram a ser feitos apenas no dia 4 de fevereiro. Ele atribui a falha à decisão da atual gestão de centralizar os serviços de Recursos Humanos em Minas Gerais. Antes, São Paulo e Rio de Janeiro possuíam sedes próprias para administrar suas folhas de pagamento, enquanto Minas Gerais cuidava dos demais estados. Com a mudança, a estrutura se tornou mais vulnerável a erros operacionais. “Esse problema já ocorreu antes com os benefícios, como os tíquetes-alimentação. É falta de planejamento e gestão. O RH precisa ser descentralizado novamente”, afirmou Diviza.
Sob a administração do advogado Fabiano Silva dos Santos, os Correios registraram, em 2024, o maior prejuízo de sua história: R$ 3,2 bilhões. Esse rombo financeiro, aliado a uma série de decisões polêmicas, levou à solicitação de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
Entre as medidas controversas da atual gestão estão:
- A desistência de uma ação trabalhista bilionária;
- A assunção de uma dívida de R$ 7,6 bilhões do fundo de pensão Postalis;
- Um gasto de aproximadamente R$ 200 milhões com benefícios extras aos trabalhadores, como um bônus conhecido como “vale-peru”.
Diante do cenário de déficit crescente, a estatal decretou um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões para o ano. A informação foi repassada aos gestores em outubro de 2024, por meio de um documento mantido sob sigilo.
O Portal Paraíba teve acesso ao documento, veja:
Durante o governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, os Correios registraram sucessivos lucros, impulsionados por uma administração mais austera e pela valorização da eficiência operacional. Sob sua gestão, a estatal conseguiu um superávit de R$ 3,7 bilhões em 2021, revertendo anos de prejuízos acumulados. Esse desempenho financeiro positivo foi utilizado como argumento para tentar a privatização da empresa, visando torná-la ainda mais competitiva no setor logístico.
Com a mudança de governo, no entanto, os Correios voltaram a enfrentar dificuldades financeiras. A nova administração adotou medidas que aumentaram as despesas operacionais e reduziram receitas, levando à deterioração das contas da empresa. Além disso, a reversão de algumas políticas implementadas anteriormente contribuiu para o agravamento da crise.
A situação financeira dos Correios se deteriora a cada mês, levando especialistas a alertarem para um possível cenário de insolvência. A direção da empresa culpa decisões do governo anterior e a polêmica “taxa das blusinhas”, criada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, como responsáveis pelo rombo. No entanto, ignora suas próprias medidas recentes que comprometeram o caixa da estatal.
Enquanto isso, os trabalhadores vivem a incerteza de receber seus salários em dia, enquanto a população lida com serviços cada vez mais lentos e ineficientes. Os próximos meses serão decisivos para determinar se a estatal conseguirá reverter à crise ou se caminhará para um colapso inevitável.