Internacional
Ucrânia diz ter retomado mais de 20 localidades em 24 horas
Avanço rápido de tropas ucranianas no leste do país, facilitado por retirada das forças russas, pode representar guinada no conflito. Kremlin reconhece abandono, mas garante que seus objetivos “serão alcançados”
As forças ucranianas recuperaram mais de 20 cidades e vilarejos em apenas 24 horas, segundo comunicado do Estado-Maior da Ucrânia nesta segunda-feira (12/09). A reconquista de um vasto território é consequência do colapso das forças russas no leste do país invadido. Moscou reconheceu ter abandonado a cidade de Izium, principal reduto russo na região, mas não sem antes ter disparado mísseis contra usinas de energia, causando apagões em Kharkiv e localidades adjacentes.
“Estamos tomando o controle total, e medidas de estabilização estão sendo executadas”, informou o Estado-Maior ucraniano. Milhares de soldados russos teriam abandonado suas posições, deixando para trás enormes estoques de munição e equipamentos militares.
Antes da retirada, a Rússia disparou mísseis contra usinas de energia, causando blecautes em Kharkiv e nas regiões de Poltava e Sumy. Kiev descreveu os ataques contra alvos civis como retaliação a seus avanços militares. Na manhã desta segunda-feira, a energia em Kharkiv já estava restabelecida em 80%, mas ainda não havia fornecimento de água, segundo o governador regional. Moscou, que nega atacar alvos civis deliberadamente, não se pronunciou.
Explosões em Kharkiv causam falta de energia e água
O Ministério da Defesa do Reino Unido – que tem emitido relatórios constantes sobre o avanço da guerra na Ucrânia – informou que a Rússia provavelmente ordenou que suas forças se retirassem de toda a região de Kharkiv a oeste do rio Oskil, abandonando assim a principal rota de abastecimento que sustentava as operações russas no leste ucraniano.
Segundo o Estado-Maior ucraniano, as tropas russas abandonaram igualmente Svatove, na província de Lugansk, cerca de 20 quilômetros a leste do rio Oskil. Essa informação não pôde ser confirmada de forma independente.
A principal conquista das forças ucranianos foi a retomada do controle sobre a cidade de Izium, que servia como uma espécie de centro de logística e abastecimento para as forças russas. Kiev acrescenta que os combates dos últimos seis meses causaram pelo menos mil mortes em Izium, e cerca de 80% da infraestrutura da cidade estaria destruída. Apenas 10 mil habitantes – cerca de 20% da população pré-guerra – permanecem na cidade.
Esse avanço das forças ucranianas – o mais rápido desde que os russos recuaram da capital Kiev, em março – potencialmente representa uma guinada no conflito. Em questão de dias, a Ucrânia retomou faixas de território que haviam custado a Moscou meses de dispendiosos combates para ocupar.
Segundo o comandante-chefe do Estado-Maior ucraniano, general Valeriy Zaluzhnyi, as tropas ucranianas retomaram mais de 3 mil quilômetros quadrados de território somente em setembro, avançando para um raio próximo de 50 quilômetros da fronteira com a Rússia.
Kremlin garante que alcançará objetivos da “operação militar”
Caso ocorram outras retiradas russas, especialmente a leste do rio Oskil, as forças ucranianas podem estar capacitados a atacar o território que a Rússia e seus aliados locais ocupam desde 2014.
A Rússia respondeu aos avanços ucranianos com a breve e repetida mensagem de que “atingirá os objetivos de sua operação militar especial” na Ucrânia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que não se discutiu uma possível desmilitarização da usina nuclear de Zaporíjia, embora esta seja uma das principais recomendações da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) após visita ao local.
A ofensiva militar iniciada em 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia forçou quase 13 milhões de cidadãos a fugirem: mais de 6 milhões de deslocados internos e quase 7 milhões para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta como a pior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, mas sublinhou que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos ao fim do conflito.