Internacional
Eleição nos EUA está longe de terminar
Seja lá o que as pesquisas de opinião dizem, o certo é que até o dia da votação muito pode acontecer. Quatro anos atrás, os democratas americanos já cantaram vitória cedo demais, opina Alexander Görlach.
A poucos meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, cada vez mais se pergunta na rodinha de amigos: quem vai ganhar? Donald Trump permanecerá no cargo por mais quatro anos ou Joe Biden conseguirá derrotar o atual mandatário?
As pesquisas atualmente mostram Biden na dianteira, mas são poucos os que consideram certa a vitória do democrata. No pleito de 2016, as pesquisas colocavam na liderança Hillary Clinton, que realmente obteve o maior número de votos, mas não a maioria no colégio eleitoral.
Essa eleição será vencida por quem conseguir levar sua base às urnas. A participação quatro anos atrás foi de apenas 60%. Portanto, quem conseguir mobilizar mais seu pessoal se torna dono da Casa Branca.
Há semanas a política de Donald Trump tem se voltado exclusivamente para seus apoiadores: ao classificar as máscaras de proteção como um golpe antiamericano dos democratas para aterrorizar os cidadãos amantes da liberdade; ao posar com uma Bíblia em frente a uma igreja danificada pelas manifestações antirracismo Black Lives Matter; ao alertar que com Joe Biden os EUA se tornarão cada vez mais chineses e que os americanos terão de aprender a viver sob o domínio de Pequim.
O desafiante Biden procurou eletrizar a base democrata ao eleger a senadora Kamala Harris como sua candidata à vice-presidência. A decisão por uma mulher cujos pais chegaram como imigrantes aos EUA visa apresentar uma figura com a qual a geração jovem se identifique e, ao mesmo tempo, acenar com uma potencial sucessora para o veterano de 77 anos.
Jovens democratas da geração Y vêm tentando há anos moldar o futuro de seu partido com essa política de identidade. Só que quatro anos atrás um número suficiente desses tão cortejados eleitores não compareceu às urnas para apoiar Hillary Clinton. E mesmo agora já aparecem problemas: para alguns, Kamala Harris não representa suficientemente as minorias. No entanto essa crítica é adequada para dividir o campo democrático o bastante para tirar a vitória da chapa Biden-Harris.
Desde a morte do afro-americano George Floyd por policiais brancos, em maio, ficou evidente que a questão das minorias ia dominar a campanha eleitoral. Os protestos que posteriormente eclodiram nos Estados Unidos e em muitas capitais do Hemisfério Oeste catapultaram o movimento Black Lives Matter para o centro das atenções.
Mesmo entre os eleitores republicanos, há agora uma maioria tênue que considera a violência policial contra os negros um problema sistêmico. Nas pesquisas, membros da classe média branca – muitos eleitores de Trump em 2016 – dizem que não gostam da maneira como o presidente lida com problemas como racismo e discriminação. No momento, porém, ninguém pode prever se esse sentimento contra Trump continuará até o dia das eleições.
Em particular, o curso da pandemia de covid-19, bem longe de terminar nos EUA, terá impacto significativo no comportamento eleitoral em 3 de novembro. Em contraste com a crise financeira de 2008, os americanos agora receberam ajuda de seu governo, coisa com que só podiam sonhar durante o governo Obama.
Caso outro pacote de ajuda evite que centenas de milhares percam suas casas e apartamentos por não poderem mais pagar o aluguel ou hipoteca devido à pandemia, isso pode dar a Trump o vento favorável necessário para tomar posse novamente como presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2021.