Internacional
Enerhodar: Cidade nasceu para abrigar a maior central nuclear da Europa
População da cidade defende os acessos à cidade, mas russos garantem que já controlam o “território em volta da central nuclear de Zaporizhzhia”
A área da usina de energia nuclear de Zaporizhzhia sofreu com um incêndio durante quatro horas nesta sexta-feira (4). O fogo começou durante uma ofensiva das forças russas que estão na Ucrânia. O fogo começou em um prédio de treinamento do lado de fora do complexo do reator principal, segundo o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia. A investida contra a planta não alterou os níveis de radioatividade na região, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), mas acendeu um alerta de perigo mundialmente.
De acordo com a Inspetoria Reguladora Nuclear ucraniana, os militares da Rússia tomaram o controle da central nuclear de Zaporizhzhia.
A Rússia anunciou que já possuía o controle da cidade ucraniana desde terça-feira (1º), informação negada pelo presidente da Câmara de Enerhodar, Dmytro Orlov, publicou nas redes sociais a informação de que a cidade resistia aos avanços russos.
“Por mais de duas horas, uma fila de moradores desarmados de Enerhodar, com um quilômetro de extensão, não permitiu que a coluna os agressores entrassem na cidade. Enerhodar foi e permanece sob as bandeiras da Ucrânia. Agora, um grande número de armas inimigas está localizado perto da cidade. Portanto, é impossível reduzir a vigilância!”.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra os moradores defendendo os acessos à cidade. Foram colocados caminhões de lixo nas estradas e formadas trincheiras para impedir o avanço dos tanques.
Após a investida desta sexta, há mortos e feridos entre os ucranianos que tentaram defender o local, de acordo com órgãos da Ucrânia. O presidente do país, Volodymyr Zelesnky, acusou as forças russas de terem iniciado o incêndio propositalmente. Em contrapartida, Ministério da Defesa da Rússia respondeu acusando “sabotadores ucranianos” pelo ataque no local, e chamando-o de “provocação monstruosa”.
Enerhodar é uma cidade no Sul da Ucrânia, localizada na margem esquerda do rio Dnieper, perto do reservatório de Kakhovka. A cidade foi fundada em 12 de junho de 1970 para servir à Central Nuclear de Zaporizhzhia, a maior central de energia da Europa. Além da central nuclear, o outro grande empregador da região é a central termoelétrica a carvão, propriedade da empresa ucraniana DTEK.
A Ucrânia tem quatro centrais nucleares ativas: Zaporizhzhia, Rivne, Khmelnytsky e South-Ukraine. No total, as quatro centrais nucleares têm 15 reatores, seis dos quais encontram-se em Zaporizhzhia. Os 15 reatores nucleares são responsáveis pela metade da energia que o país produz.
“A situação na Ucrânia não tem precedentes e continuo seriamente preocupado. É a primeira vez que um conflito militar está acontecendo junto às instalações de um grande programa de energia nuclear, que neste caso também inclui o local do acidente de 1986 na central nuclear de Chernobyl”, disse diretor-geral da Aiea, Rafael Mariano Grossi. E deixou o alerta: “A segurança das instalações nucleares na Ucrânia não deve, em nenhuma circunstância, ser ameaçada”.
“Apelei à contenção de todas as medidas ou ações que possam comprometer a segurança do material nuclear e outros materiais radioativos, e a operação em segurança de quaisquer instalações nucleares na Ucrânia porque qualquer incidente desse tipo pode ter consequências graves, agravando o sofrimento humano e causando danos ambientais.”
Romão Ramos, do Movimento Ibérico Antinuclear, explicou que, no caso de alguma das centrais nucleares ucraniana ser atingida por um míssil, poderia ocorrer um acidente semelhante ao de Chernobyl em 1986, com o levantamento de uma nuvem de radioatividade e com os efeitos sentidos na Ucrânia, mas também em outros países, sobretudo a Norte, como Belarus, a Suécia, a Finlândia e a Noruega e, eventualmente, a Alemanha e a Áustria.
Além da preocupação com os danos nas centrais nucleares, os especialistas referem ainda a dificuldade de garantir a operação em segurança nas centrais, quando muitos funcionários não vão trabalhar por terem medo ou por estarem lutando no conflito.