Internacional
Ministra defende nova estratégia alemã de segurança nacional
Invasão russa da Ucrânia fez Berlim abandonar receio de investir em suas forças armadas. Ministra do Exterior delineia a nova política e destaca papel da cooperação internacional e de políticas energética e climática
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, delineou nesta sexta-feira (18/03), em Berlim, como o governo federal da Alemanha pretende implementar a sua nova estratégia de segurança nacional.
O governo federal da Alemanha promoveu guinadas em diversas políticas públicas após a Rússia invadir a Ucrânia, como o compromisso de investir um extra de 100 bilhões de euros (R$ 553 bilhões) para modernizar as forças armadas do país, a Bundeswehr, e de gastar anualmente 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa nacional.
O que disse Baerbock?
Em um pronunciamento na sede do Ministério do Exterior, Baerbock detalhou as medidas e os fundamentos teóricos da nova estratégia de segurança nacional alemã, que tem o objetivo de garantir as liberdades e a base para a vida cotidiana das pessoas no país.
Ela destacou a necessidade de uma abordagem inclusiva da segurança nacional, que envolva outros países, ressaltando que “a política de segurança é mais do que apenas militares mais diplomacia”. “À luz da grande quebra na nossa ordem de paz promovida pela Rússia, precisamos implementar os princípios que nos orientam ainda mais claramente na prática”, disse.
“Decisivos para mim são uma postura clara, uma capacidade de ação mais forte e ferramentas mais afiadas para a política externa e de segurança”, disse a ministra do Exterior.
Baerbock citou ainda a “responsabilidade especial” da Alemanha, derivada de sua história e culpa por atrocidades na Segunda Guerra Mundial. “É [nossa] obrigação apoiar aqueles cuja vida, cuja liberdade e cujos direitos estão sob risco”, disse.
Ela enfatizou que nem mesmo a Alemanha, apesar da sua história, poderia ser neutra neste tema: “Sobre o que é certo ou errado, em questões de guerra e paz, nenhum país, nem mesmo a Alemanha, pode ficar neutro.”
Cooperação internacional
“Nossa força é a unidade internacional”, disse Baerbock. “A União Europeia (UE) está atualmente formulando pela primeira vez uma extensa estratégia de política de segurança” que, segundo ela, foi iniciada pela Alemanha.
“Esta guerra mostra mais uma vez que a segurança da Europa depende da defesa coletiva da Otan”, disse, argumentando que a segurança da Alemanha deveria ser complementada com as políticas de segurança da UE e da Otan.
A ministra afirmou que a regra atual, segundo a qual as forças da Otan são estacionadas no Leste Europeu quando se sentem ameaçadas, não é mais suficiente. “Nossos exercícios militares precisam refletir novas realidades e temos que considerar que o flanco leste da aliança está sob uma nova ameaça, portanto precisamos de mais presença da Otan nos países do sudeste europeu”, disse. “A Alemanha dará uma contribuição substancial para isso na Eslováquia.”
Porém, ela reiterou o objetivo da Alemanha de alcançar um mundo sem armas nucleares. “O desarmamento e o controle de armas continuarão a ser um pilar central de nossa segurança”.
Política de segurança multifacetada
Baerbock defendeu ainda que a estratégia de segurança olhe para o futuro e inclua um foco em segurança cibernética. “Estamos vendo que os ataques cibernéticos são parte integrante da guerra moderna”, disse.
Ela também anunciou que Berlim desenvolverá uma nova estratégia para a China junto com a nova estratégia de segurança, citando instabilidades em países nos quais Pequim investiu em infraestrutura, como na África.
A política energética também desempenha um papel fundamental, especialmente após a invasão russa da Ucrânia. Ela pontuou que as decisões debatidas atualmente na UE deveriam ter sido discutidas há oito anos, quando a Rússia anexou a Crimea, mas acrescentou que “não é importante frisar quem sabia o quê no passado, o importante é acertar agora”.
“Precisamos nos afastar das fontes de energia fóssil e avançar mais rapidamente em direção a fontes eficientes de energia renovável”, disse a ministra, que pertence ao Partido Verde. “Isso não é apenas investimento em energia limpa, é também investimento em nossa segurança e em nossas nossas liberdades.”
Ela chamou a crise climática de “a crise de segurança de nosso tempo”. A ministra enfatizou que o aquecimento global já está acontecendo e está exacerbando os problemas de segurança em países frágeis.
“É por isso que a diplomacia climática é parte integrante de nossa estratégia de segurança. Cada tonelada a menos de CO2, cada décimo de grau a menos de aquecimento global é uma contribuição para a segurança humana”, acrescentou ela.
O discurso de Baerbock foi feito na sede do Ministério do Exterior, antes de um painel de discussão com vários parlamentares alemães e um dia depois que ela se encontrou com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ao lado do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e da ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht.
Nessa reunião, Stoltenberg elogiou a decisão da Alemanha de reverter seu tradicional subinvestimento no setor militar, comprometendo-se, em vez disso, a gastar 2% do PIB na defesa, de acordo com as recomendações da Otan.
A Alemanha também disse recentemente que vai comprar novos aviões de caça F-35, de fabricação americana, para fortalecer sua força aérea.