Educação & Cultura
Pesquisa na UFPB desvenda êxito do combate à Covid-19 no leste asiático
Trabalho analisa experiência de dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático
Pesquisa desenvolvida no Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revela que países do leste da Ásia obtiveram alguns dos melhores resultados no enfrentamento à pandemia da Covid-19.
O trabalho “Experiências exitosas de combate à pandemia no Sudeste Asiático” foi realizado pelo professor Renan Holanda e analisou dados, registrados até 31 de maio, da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) na região.
“Foi o epicentro inicial de proliferação da Covid-19, mas, mesmo assim, é a região do mundo que vem apresentando alguns dos melhores índices de recuperação. Desvendar as razões por trás desse relativo sucesso foi o objetivo da pesquisa”, explica o professor da UFPB.
Renan Holanda conta que o trabalho focou as análises em dez países integrantes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean): Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã.
“Algumas das principais economias emergentes estão localizadas nessa região, que também abriga países com populações relativamente grandes, como Indonésia (273,5 milhões), Filipinas (109,5 milhões) e o Vietnã (97 milhões). Investigar as experiências desses países no combate à Covid-19 é fundamental”, destaca.
De acordo com o professor da UFPB, a metodologia da pesquisa se dividiu em três partes. Primeiro, analisou-se a experiência prévia que diversos países da região adquiriram durante a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), no início do século XXI.
“No Sudeste Asiático, Singapura e Vietnã foram os mais afetados. A adoção de protocolos rígidos nas unidades de saúde, a aferição de temperatura em locais de grande circulação de pessoas, bem como o uso de máscaras e álcool em gel foram algumas das medidas postas em prática na época”, diz Renan.
Essa experiência anterior, acredita o professor da UFPB, fez com que as populações de grande parte dos estados asiáticos tivessem, quando surgiu a Covid-19, uma recente memória coletiva quanto ao que deveria ser feito para frear a disseminação do vírus.
Holanda conta que, em segundo lugar, o trabalho dele analisou comparativamente o combate à Covid-19, a partir das medidas tomadas pelos dez membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático.
Entre janeiro e maio, intervalo de tempo da pesquisa do professor da UFPB, a cidade-estado de Singapura registrou a maior quantidade de casos (34.366), com 23 mortes. Indonésia (25.773 casos) e Filipinas (17.224 registros) foram os que mais tiveram pessoas mortas, durante o período analisado, na região: 1.573 e 950, respectivamente.
Nos meses de análise do trabalho de Renan, três países não registraram mortes: Vietnã, Laos e Camboja. Outros quatro tiveram menos de 100 óbitos: Brunei (2), Mianmar (6), Singapura (23) e Tailândia (57).
“A análise comparada demonstrou que, além da memória recente da SARS, muitos desses países foram bem-sucedidos porque implementaram medidas de forma rápida e severa. De maneira geral, a taxa de óbitos por milhão de habitantes foi consideravelmente baixa no Sudeste Asiático, ficando em 8,67 nas Filipinas e 5,75 na Indonésia”, atesta o professor.
Como comparação, Holanda evidencia que, em 31 de maio, o Brasil tinha 498.440 casos confirmados e 28.834 mortes, resultando em mais de 100 mortes por milhão. Nos Estados Unidos, segundo o professor, a taxa era superior a 300, e países como Itália, Espanha e Reino Unido tinham mais de 500 mortes por milhão de habitantes no período.
Por fim, a pesquisa de Renan Holanda investigou o caso do Vietnã, país considerado um exemplo de sucesso no combate ao novo coronavírus.
“Antes mesmo do primeiro caso da Covid-19 ser registrado no país, o governo colocou em prática um plano de emergência. A capacidade de testagem também foi ampliada: de janeiro a abril, subiu de três para 112 o número de laboratórios aptos a realizarem testes”, argumenta.
O trabalho na UFPB ainda mostra que a estratégia de rastreamento de contatos e de quarentena supervisionada em áreas com casos registrados foi fundamental. Ela permitiu concentrar os recursos da rede de saúde no tratamento de pacientes mais graves.
“Adicionalmente, o caso do Vietnã reforça a relevância do pleno engajamento social, desde o respeito às regras de isolamento até a mobilização da arte para fins de conscientização”, finaliza o professor.
Os resultados da pesquisa foram apresentados no seminário “Relações Internacionais em transformação: das crises estruturais aos cenários pós-pandemia”, promovido pelo Departamento de Relações Internacionais da UFPB e disponível no canal do Youtube.