Saúde
Batimento cardíaco é mantido por uma dança molecular
Célula do músculo cardíaco preparada para visualização ao microscópio. Os padrões regulares em verde mostram filamentos de actina.
Dança das proteínas
Parece até uma pequena linha de montagem em escala molecular.
Proteínas semelhantes a filamentos, localizadas nas células do músculo cardíaco, devem ter exatamente o mesmo comprimento para que possam se coordenar perfeitamente para fazer o coração bater.
É uma outra proteína que decide quando o filamento tem o tamanho certo – quando ele está no tamanho adequado, essa proteína coloca uma pequena tampa nele. Mas, se aquela proteína cometer um erro e colocar a tampa muito cedo, outra proteína, a leiomodina, aparece e tira a tampa.
Dmitri Tolkatchev e seus colegas da Universidade do Estado de Washington (EUA) chamaram esse processo – que eles acabam de descobrir – de “dança molecular”, destacando que esse jogo entre proteínas desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do coração e de outros músculos saudáveis.
E, segundo eles, sua descoberta poderá viabilizar diagnósticos e tratamentos médicos melhores para doenças cardíacas hereditárias sérias, causadas por mutações genéticas nas proteínas.
Uma dessas condições, a cardiomiopatia, afeta até uma em cada 500 pessoas em todo o mundo e pode frequentemente ser fatal ou ter consequências para o resto da vida. Uma condição semelhante chamada, miopatia nemalínica, afeta os músculos esqueléticos de todo o corpo, com consequências frequentemente devastadoras.
“Mutações nessas proteínas são encontradas em pacientes com miopatia,” disse a professora Alla Kostyukova. “Nosso trabalho é provar que essas mutações causam esses problemas e propor estratégias de tratamento.”
“Lindamente projetado”
O músculo cardíaco é feito de minúsculos filamentos de proteínas. Com a ajuda de sinais elétricos, os filamentos em forma de corda se conectam e desconectam em uma arquitetura complexa e precisa, permitindo que o músculo cardíaco se contraia e bata.
Os filamentos mais finos são feitos de actina, a proteína mais abundante no corpo humano. A tropomisina, outra proteína, se enrola em torno dos filamentos de actina. Já a tropomiosina, juntamente com duas outras proteínas, a tropomodulina e a leiomodina, ficam no final dos filamentos de actina, funcionando como uma espécie de capa e determinando o comprimento do filamento.
“É lindamente projetado,” disse Kostyukova.
E rigidamente regulamentado. Para manter o músculo cardíaco saudável, os filamentos de actina, que têm cerca de um micrômetro de comprimento, precisam ter exatamente o mesmo comprimento. Em famílias com cardiomiopatia, as mutações genéticas resultam na formação de filamentos que são muito curtos ou muito longos, gerando problemas cardíacos significativos.
Os pesquisadores afirmam que o trabalho não terminou, e que eles esperam identificar componentes e mecanismos moleculares adicionais que regulam a arquitetura dos filamentos, sejam eles doentes ou saudáveis.