Saúde
Por que os medicamentos psiquiátricos não funcionam para todos os pacientes?
As mulheres têm mais doenças autoimunes. Além disso, a doença de Parkinson evolui de forma diferente nas mulheres e nos homens.
Funciona para uns e não para outros
Quando se trata dos medicamentos para doenças mentais e comportamentais, tipicamente receitados pelos psiquiatras e médicos, a ciência e a medicina estão se deparando com três problemas substanciais:
- As doenças mentais afetam homens e mulheres de forma diferente, com coisas como depressão e ansiedade muito mais comuns em mulheres.
- Medicamentos para a mesma condição têm efeitos diferentes em homens e mulheres.
- Um medicamento que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra do mesmo gênero – e os efeitos colaterais são abundantes.
Helen Wong e seus colegas da Universidade do Colorado em Boulder (EUA) acreditam ter finalmente encontrado uma razão para tantas diferenças individuais e de gênero.
O estudo também oferece um olhar mais atento sobre onde, precisamente, as coisas começam a “dar errado” no cérebro, um passo importante em direção a terapias mais direcionadas e com menos efeitos colaterais.
“O objetivo final é encontrar o ponto fraco na armadura da doença mental – as proteínas do cérebro que podemos visar especificamente sem impactar outros órgãos e causar efeitos colaterais,” explica o professor Charles Hoeffer. “Personalização também é fundamental. Precisamos parar de atacar todas as doenças mentais com o mesmo martelo.”
As mulheres têm mais doenças autoimunes. Além disso, a doença de Parkinson evolui de forma diferente nas mulheres e nos homens.
Proteína AKT
A grande descoberta é que uma proteína-chave no cérebro, chamada AKT, pode funcionar de forma diferente em homens e mulheres.
Depois de descoberta, na década de 1970, essa proteína ficou conhecida por seu papel potencial em causar câncer quando sofre mutação. Mas recentemente se descobriu que a AKT é um participante-chave na promoção da plasticidade sináptica, a capacidade do cérebro de fortalecer as conexões entre os neurônios em resposta à experiência.
“Digamos que você veja um tubarão e está com medo e seu cérebro quer formar uma memória. Você tem que fazer novas proteínas para codificar essa memória,” explica Hoeffer.
A AKT é uma das primeiras proteínas a ser acionada, movimentando as engrenagens de uma série de outras proteínas responsáveis por registrar a memória. Sem ela, suspeitam os pesquisadores, não podemos aprender novas memórias ou extinguir as antigas para dar lugar a novas e menos prejudiciais.
Papéis diferentes em homens e mulheres
Agora os pesquisadores descobriram que nem todas as AKTs são criadas iguais: “Sabores” diferentes – ou isoformas – funcionam de maneira diferente no cérebro. Por exemplo, a AKT2, encontrada exclusivamente nas células cerebrais em forma de estrela, chamadas astroglia, costuma estar relacionada ao câncer cerebral.
Já a AKT3 parece ser importante para o crescimento e desenvolvimento do cérebro. E a AKT1, em combinação com a AKT2 no córtex pré-frontal do cérebro, parece ser crítica para o aprendizado e a memória.
Mas não vá copiando tão rapidamente todas novas essas informações do quadro: A diferença desses mecanismos entre homens e mulheres é enorme.
Por exemplo, camundongos machos cuja AKT1 estava funcionando normalmente eram muito melhores do que aqueles sem a proteína quando se tratava de “aprendizado de extinção”, substituindo uma velha memória, ou associação, que não é mais útil.
Para as camundongos fêmeas, essa distinção entre funcional e não funcional não fez muita diferença.
Nuances
Muitas pesquisas adicionais serão necessárias – e algumas já estão em andamento -, mas Hoeffer suspeita que muitas outras proteínas-chave no cérebro compartilham nuances semelhantes, com variações delas servindo a propósitos diferentes ou agindo de forma diferente em homens e mulheres.
“Para ajudar mais pessoas que sofrem de doenças mentais, precisamos de muito mais conhecimento sobre a diferença entre os cérebros masculino e feminino e como eles podem ser tratados de forma diferente,” disse Hoeffer. “Este estudo é um passo importante nessa direção.”