Internacional
Trump volta a mentir sobre eleição e acena com retorno em 2024
Ex-presidente mostra, em primeiro discurso desde que deixou a Casa Branca, que se consolidou como liderança do partido. Nem impeachments nem gestão desastrosa da pandemia e da economia reduziram esse apoio
Uma estátua dourada em tamanho natural de Donald Trump, de calças estampadas com a bandeira americana, foi empurrada para dentro do salão de convenções, abrindo oficialmente a reunião anual do Partido Republicano dos Estados Unidos. O tema da Conferência Conservadora de Ação Política (CPAC, na sigla em inglês) de 25 a 28 de fevereiro de 2021 pode ter sido “América não cancelada”, mas todos os olhos estavam fixados em Trump.
Devido às restrições ditadas pelo novo coronavírus, em vez de se realizar em Washington, como de praxe, o encontro foi transferido para a ensolarada Orlando, Califórnia, onde as regras para a pandemia são menos rigorosas. E o entusiasmo pelo ex-presidente era inegável.
“Trump é o futuro do partido”, afirmou à DW a congressista Marjorie Taylor Greene, que tem apoiado diversas teorias de conspiração. Uma série de adeptos fiéis subiu ao palco para celebrar seu antigo líder e se exibir como possíveis sucessores em 2024. Os participantes circulavam pelo local ostentando seus artigos trumpistas favoritos, incluindo bonés “Make America Great Again” e outras peças de vestuário com as mais populares tiradas do milionário.
Sany Dash ainda estava vendendo peças da eleição de 2020 durante o fim de semana, mas algumas horas antes do bombástico discurso do político populista desempacotou novos acessórios “Trump 2024”.
“Só voto em gente fora do sistema”, explicou o comerciante, que não tem interesse em nenhum outro candidato republicano potencial para o próximo pleito presidencial. “Votei em Obama porque ele era de fora, mas ele entrou para o sistema, e por isso votei em Trump.”
De olho em 2024
Apesar de ter perdido a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Representantes em 2020, o ex-presidente se consolidou como um líder do partido, e seus dois impeachments, uma pandemia grassante e a economia debilitada não reduziram esse apoio.
Segundo uma pesquisa recente da Universidade Quinnipiac, 75% dos republicanos querem que Trump continue desempenhando um papel significativo no partido. E os presentes ao CPAC de Orlando deixaram claro que apostam nele como próximo candidato presidencial.
“Donald Trump vai concorrer em 2024”, pontificou o congressista republicano e trumpista convicto Matt Gaetz, explicando tratar-se do melhor candidato para representar o partido, tanto no curto como no longo prazo.
Embora alguns líderes republicanos tenham feito algumas tentativas tímidas de se distanciar do magnata nova-iorquino, rapidamente constataram que a influência dele chegou para ficar. No início de fevereiro, o líder da minoria republicana do Senado, Mitch McConnell, criticara o papel do ex-presidente na invasão do Capitólio em 6 de janeiro, porém mais tarde disse à imprensa que o apoiaria, caso ele fosse o representante republicano nas próximas eleições.
Outro vendedor de artigos trumpistas, pedindo para permanecer anônimo, comentou que não confiaria em nenhum dos outros republicanos que pretendem concorrer um 2024, e votará em Trump, ou, caso ele não concorra, em seu filho mais velho, Donald Jr..
Sem espaço para dissidências
Normalmente a CPAC é uma oportunidade para identificar o político mais promissor para a liderança futura dos republicanos. Desta vez, contudo, quem pretender assumir as rédeas do partido terá que esperar um pouco mais. Os presentes só estavam interessados no 45º presidente, vasculhando os saguões à procura de alguém com qualquer tipo de ligação com ele.
Quando o ex-secretário de Habitação Ben Carson e o ex-secretário de Estado Mike Pompeo abriram caminho por entre a multidão, admiradores de Trump os cercaram, na esperança de dar um abraço ou tirar um selfie com os integrantes da administração anterior.
Tal celebração trumpista cria um ambiente inóspito para eventuais dissidentes. Os dez republicanos que votaram na Câmara para cassar o então chefe de Estado por seu papel na insurreição de 6 de janeiro estão sendo sob a mira do resto do partido.
Segundo Taylor Greene, esses parlamentares deveriam prestar atenção no inimigo real, o Partido Democrata. Gaetz foi mais longe, antecipando que qualquer um que tenha se oposto a Trump teria problemas em manter o próprio cargo nas primárias de 2022, e ameaçou fazer campanha ativa contra seus próprios colegas.
Ameaça de uma “terceira” vitória
O dia de encerramento da CPAC foi o evento principal: durante todo o fim de semana, os políticos tinham geralmente falado perante um público rarefeito, mas quando Trump subiu ao palco, foi recebido com uma introdução de astro de rock.
Em seu primeiro discurso público desde que deixou a presidência, pouco mais de um mês atrás, o político de 74 anos aproveitou para sacramentar sua dominância do Partido Republicano, e imediatamente atacou o presidente Joe Biden e o Partido Democrata.
Além de seguir afirmando falsamente que a eleição de novembro de 2020 foi manipulada e que ele seria o vencedor real, o ex-dirigente citou nominalmente todos os parlamentares de ambas as câmaras do Congresso que votaram por sua cassação. Cada nome foi recebido com vaias.
Numa iniciativa que poderá fragmentar ainda mais o partido, prometeu cuidar ativamente para que “republicanos fortes” sejam eleitos. Entretanto a pergunta que estava em todas as cabeças era: ele vai concorrer à presidência em 2024?
Sem confirmar concretamente uma nova investida, Trump insinuou, aludindo a Biden e os democratas: “Talvez eu até decida derrotar eles uma terceira vez” – contando também, naturalmente, a falsa alegação de ter vencido o pleito mais recente. A sugestão de mais uma corrida pela Casa Branca despertou brados de aprovação da multidão, confirmando mais uma vez que ele conta com grande apoio no Partido Republicano.