Internacional
Manifestantes antilockdown atacam a polícia na Alemanha
Protesto contra medidas para conter a pandemia em Kassel terminou em violência. Policiais usaram canhões d’água para conter manifestantes, que também atacaram jornalistas
Manifestantes que se opõem às medidas de restrição contra a pandemia atacaram policiais neste sábado (20/03) em Kassel, na região central da Alemanha. A polícia foi forçada a responder com spray de pimenta, canhões de água e cassetetes para conter os manifestantes. Jornalistas também foram atacados por manifestantes.
Após uma pausa de três meses ao longo do inverno, a Alemanha voltou a registrar protestos contra medidas na última semana. As manifestações ocorrem em meio a um novo aumento de casos de covid-19 no país, após um relaxamento do lockdown imposto em dezembro.
O protesto em Kassel foi o maior registrado no país neste sábado. Inicialmente, as autoridades concederam autorização para que 6.000 pessoas se reunissem nas imediações da cidade. Mas os organizadores não respeitaram as determinações, e passaram a marchar pelo centro de Kassel.
O número de pessoas que tomou parte do protesto também foi mais alto do que autorizado. A polícia estimou que mais de 15.000 pessoas participaram. Na multidão, poucas pessoas usavam máscaras ou faziam questão de manter distanciamento mínimo.
Os choques com a polícia ocorreram quando grupos de manifestantes tentaram romper violentamente os cordões humanos de isolamento montados pela polícia. “Não toleramos tais ataques. Isso não é um protesto pacífico”, escreveu a polícia no Twitter. Mas em geral, apontou a imprensa local, os policiais evitaram escalar o confronto, permitindo que a manifestação seguisse por boa parte do centro da cidade, mesmo que os organizadores não tivessem permissão para tal.
Jornalistas também foram alvo de violência. Com manifestantes tentando arrancar máscaras de profissionais da imprensa. Outros jornalistas foram agredidos e alvos de insultos.
A manifestação em Kassel foi convocada pelo movimento Querdenken 711 (“pensamento lateral”, seguido do prefixo telefônico de Stuttgart, onde o grupo originalmente se formou), que organizou outros grandes protestos similares em 2020. Os participantes da manifestação em Kassel incluíam uma composição diversa: extremistas de direita, propagadores de teorias conspiratórias, adeptos de tratamentos alternativos, negacionistas, militantes antivacinas, algumas famílias com filhos pequenos e até membros da cena de extrema esquerda.
O discurso predominante dessas manifestações tem sido de denunciar as restrições impostas pelo governo como uma medida contra os direitos individuais, mas muitos manifestantes também aproveitam os protestos para disseminar mensagens antissemitas e slogans de extrema direita, afirmando que a quarentena seria um complô da indústria farmacêutica, do bilionário Bill Gates e até mesmo dos “sionistas”. Sem qualquer base histórica, muitos manifestantes costumam traçar paralelos entre as medidas e as ações da ditadura nazista (1933-1945).
Além de Kassel, também ocorreram neste sábado protestos em Potsdam e Berlim, mas em escala reduzida. Algumas centenas de manifestantes de extrema direita, empunhando bandeiras do antigo Império Alemão (1871-1918) se reuniram em frente ao Portão de Brandemburgo, mas logo foram dispersados pela polícia. Inicialmente, a polícia alemã esperava que mais manifestantes aparecessem. Cerca de 1.800 policiais foram deslocados para bloquear o acesso a prédios do governo na região central. Antecipando violência, a polícia chegou a criar áreas de escape para jornalistas que fossem alvo de agressões por parte de manifestantes.
Em Potsdam, houve uma cisão entre os manifestantes, com um grupo de 500 pessoas preferindo se distanciar de um grupo de 300 neonazistas que também estavam protestando contra as medidas de restrição.
A Alemanha voltou nas últimas semanas a registrar um aumento significativo de novos casos de covid-19 após o relaxamento de medidas de restrição no início do mês. Diante do aumento, alguns estados e distritos já estão revertendo a flexibilização. Desde o inicio da pandemia, o país registrou mais de 2,6 milhões de casos da doença e 74.565 mortes.