Saúde
Mutação original que causou câncer pode ter ocorrido décadas atrás
Os médicos rastrearam dois cânceres até suas células de origem, décadas antes.
Mutação original do câncer
Não há fator de risco mais forte para o câncer do que a idade – no momento do diagnóstico, a idade média dos pacientes em todos os tipos de câncer é de 66 anos.
Aquele momento, entretanto, é o culminar de anos de crescimento clandestino do tumor, e a resposta a uma pergunta importante até agora permaneceu indefinida: Quando surge um câncer pela primeira vez?
Surpreendentemente, pelo menos em alguns casos, a mutação original causadora do câncer pode ter surgido 40 anos antes do diagnóstico.
Pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard acabam de reconstruir pela primeira vez a história evolutiva das células cancerosas em dois pacientes, traçando a linha do tempo da mutação que causou a doença até uma célula de origem.
Em um paciente de 63 anos de idade, a mutação geradora do câncer ocorreu quando ele tinha 19 anos; em um paciente de 34 anos, ela ocorreu por volta dos 9 anos.
“Para esses dois pacientes, foi quase como se tivessem uma doença infantil que levou décadas e décadas para se manifestar, o que foi extremamente surpreendente,” disse o professor Sahand Hormoz.
“Eu penso que nosso estudo nos obriga a perguntar: Quando o câncer começa e quando termina a saúde?” continuou Hormoz. “Cada vez mais parece que é um continuum sem limites claros, o que levanta outra questão: Quando devemos procurar pelo câncer?”
Falsos positivos pela vida toda
Em busca de caminhos de ação, em vista desta nova descoberta, os pesquisadores acreditam que o caminho a percorrer pode ser desenvolver tecnologias para identificar a presença de mutações raras causadoras de câncer atualmente difíceis de detectar.
E a equipe já está trabalhando no desenvolvimento de tecnologias de detecção precoce, reconstruindo as histórias de um grande número de células cancerosas e investigando por que as mutações de alguns pacientes nunca progridem para o câncer completo, mas outras sim.
“Mesmo se pudermos detectar mutações causadoras de câncer precocemente, o desafio é prever quais pacientes estão em risco de desenvolver a doença e quais não estão,” reconhece Hormoz. “Olhar para o passado pode nos dizer algo sobre o futuro, e acho que análises históricas como as que conduzimos podem nos dar novos insights sobre como poderíamos diagnosticar e intervir.”
Este é um assunto delicado e controverso, uma vez que um alarme preventivo significaria que a pessoa passaria a vida toda esperando por um câncer que poderá nunca se desenvolver. Além disso, o câncer não é causado apenas pela genética.