Nacional
André Mendonça é mais do que terrivelmente evangélico
Bolsonaro escolhe alguém da sua estrita confiança para o STF
O presidente Jair Bolsonaro confirmou o que já havia dito há dois anos. Sem surpresas. O advogado-geral da União, André Mendonça, será indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF) na vaga aberta pela aposentadoria do ministro Marco Aurélio.
Bolsonaro disse no seu primeiro ano de governo que escolheria um candidato terrivelmente evangélico para o STF. Falou o nome de André Mendonça, inclusive, em discurso na Câmara. Mas Mendonça é mais do que isso hoje na conta de Bolsonaro.
Mendonça demonstrou fidelidade absoluta a Bolsonaro. Colocou suas digitais em conflitos abertos pelo presidente da República. Tornou-se, como AGU, o porta-voz de Bolsonaro nas disputas que o governo travou no STF.
Para lembrar de apenas um caso: a sustentação oral que Mendonça fez no Supremo, ao defender a reabertura de igrejas e templos religiosos. Ou ainda os pedidos de investigação contra jornalistas e críticos ao governo Bolsonaro, valendo-se da Lei de Segurança Nacional.
Mas Mendonça, a despeito das relações conflituosas de Bolsonaro com o STF, manteve pontes com o tribunal, inclusive colocando-se como um mediador. Tanto que diversos ministros manifestavam a torcida para que ele fosse o escolhido.
Bolsonaro, portanto, escolhe alguém da sua mais estrita confiança. E aqui pode haver um problema, ainda difícil de mensurar. A crise que atinge o governo, especialmente no Senado, pode impor a Mendonça alguns percalços para sua aprovação.
Não haveria, no geral, resistências ao seu nome, mas seria uma forma de a oposição provocar algum tipo de constrangimento para o governo. Foi assim quando Fachin foi indicado. Com Dilma enfraquecida, a indicação de Fachin sofreu fortes resistências.
Mendonça já vinha trabalhando junto aos senadores há pelo menos 4 meses, quando Bolsonaro lhe deu o aval para que já falasse como candidato ao STF. Portanto, já está com conversas bastante avançadas nesse sentido, diminuindo também eventuais resistências.
No STF, caso seja aprovado pelo Senado, será mais um nome para a bancada da governabilidade. Aqueles ministros sensíveis a temas importantes para o governo. Ele, ainda mais, deverá manter-se alinhado aos projetos de Bolsonaro, mesmo que já na condição de magistrado.
Mendonça não está no governo por acidente. Ele partilha das ideias do governo. É absolutamente afinado com a ideologia bolsonarista. Com uma exceção: Mendonça ainda é daqueles que se aferra à pauta anticorrupção, agenda que Bolsonaro abandonou faz muito tempo.
André Mendonça se juntará, via de regra, a Nunes Marques em posicionamentos em favor dos argumentos do governo. Essa é a aposta óbvia – inclusive de ministros do Supremo. Mas alguns deles consideram que Mendonça tende a ficar menos isolado do que Nunes Marques nestes seus primeiros meses de STF. Enquanto Nunes Marques era praticamente um desconhecido no Supremo, André Mendonça – por ser advogado da União – já estabeleceu relações próximas com alguns dos integrantes da Corte.