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Educação & Cultura

Resumo de livro: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa

Considerada uma das mais importantes obras da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas, do grandioso João Guimarães Rosa, publicada em 1956, é um romance aclamado devido à sua originalidade e por conta da utilização de uma linguagem característica do Sertão. A obra é repleta de neologismos e passagens poéticas.

São mais de 500 páginas de experimentalismo linguístico e  de uma narrativa marcante sobre as dificuldades, medos, anseios e amores das pessoas que moram no Sertão, sendo essas características incorporadas pelo personagem Riobaldo.

Um dos motivos que tornam esse livro tão importante é a fusão da primeira e da segunda fase do modernismo, ou seja, do uso da experimentação com a linguagem (característica da primeira fase) e da utilização do regionalismo para narrar a história (característica da segunda fase), criando uma obra tão inovadora.

Viver é muito perigoso… Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o consertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo.

A primeira parte da obra apresenta-se numa narrativa caótica e desconexa. O personagem Riobaldo discorre sobre diversas questões filosóficas acerca da vida, suas inquietações, suas dificuldades e seus medos,  sobre o bem e o mal, sobre Deus e o Diabo.

A história verdadeira começa quando o personagem Quelemén de Góis aparece para ajudá-lo a expressar suas ideias. Sendo assim, Riobaldo começa a narrar os fatos numa ordem cronológica, passando a falar sobre sua mãe e sobre como conheceu seu amigo de infância, Reinaldo, um garoto que se dizia diferentes dos demais.

Em seguida, ele fala sobre a morte da sua mãe e conta que foi levado para viver na fazenda São Gregório, do seu padrinho Selorico Mendes, onde conheceu Joca Ramiro, chefe dos jagunços daquela época. Seu padrinho garantiu sua educação, logo, Riobaldo passou a ensinar Zé Bebelo, um fazendeiro da região que não teve oportunidade de estudar.

Tempos depois, Zé Bebelo montou um bando para derrotar os jagunços da região, que atormentavam as pessoas que viviam por ali, e convidou Riobaldo para fazer parte desse bando, que aceitou de imediato.

A partir daí, começa o primeiro conflito da obra, no qual o bando de Zé Bebelo e Riobaldo entra em conflito com os jagunços liderados por Hermógenes e com os soldados do governo ao mesmo tempo. Quando a batalha se acirra, Hermógenes e seu bando fogem do confronto. Nesse ponto, Riobaldo decide abandonar o bando de Zé Bebelo e reencontra Reinaldo, seu amigo de infância, que faz parte do bando de Joca Ramiro, para o qual ele decide entrar.

Então, a amizade entre Riobaldo e Reinaldo fica muito mais forte e Reinaldo, por sua vez, acaba confiando a Riobaldo o segredo de que esse nome é secreto em meio aos jagunços, ali ele era Diadorim. Por isso, Riobaldo passa a chamá-lo de Reinaldo somente quando estavam a sós.

Em seguida, acontece a batalha entre o bando de Zé Bebelo e o de Joca Ramiro, sendo que Zé Bebelo acaba capturado e julgado por um tribunal de todos os líderes dos jagunços, do qual Joca Ramiro era o mais importante.

Hermógenes e Ricardão, outros dois líderes, são a favor da pena de morte; contudo, Joca Ramiro decide-se por exilá-lo em Goiás, dizendo para que Zé Bebelo não volte até segunda ordem. Após esse acontecimento, Riobaldo e Reinaldo mudam para o bando de Titão Passos, que também lutou ao lado de Hermógenes.

Assim, um grande período se passa sem muitos conflitos até que um jagunço chamado Gavião-Cujo vai informar ao bando de Titão Passos que Joca Ramiro foi traído e morto por Hermógenes e Ricardão, que passam a ser conhecidos como “Os Judas”.

Nesse momento, Riobaldo também começa a ter casos com a prostituta Nhorinhá e com  Otacília, por quem se apaixona, o que gera um conflito com Diadorim, que fica com raiva e chega até mesmo a puxar um punhal durante uma discussão com o amigo.

Logo após o desentendimento entre os dois, o bando de jagunços se reúne para combater “Os Judas”, iniciando assim a segunda grande guerra da narrativa, que é composta por duas frentes: a de Hermógenes e Ricardão, traidores e assassinos de Joca Ramiro; e a de Zé Bebelo, que retorna para vingar a morte do seu grande salvador.

No decorrer dos conflitos, os soldados do governo chegam mais uma vez para interferir na batalha, fazendo com que todos os jagunços tenham que se unir para combatê-los, deixando suas diferenças pessoais de lado. Contudo, o bando de Zé Bebelo foge sorrateiramente da batalha, deixando apenas Hermógenes e seu bando lutando contra os soldados.

Nesse momento, Riobaldo entrega uma pedra de topázio, um dos símbolos de compromisso, para Diadorim, que não aceita e diz para Riobaldo esperar o fim das batalhas para que eles possam conversar. Riobaldo não entende muito bem e fica frustrado.

Quando o bando de Zé Bebelo, ainda em fuga, chega às Veredas-Mortas, Riobaldo faz um pacto com o Diabo para vencer Hermógenes e assume a liderança do bando de jagunços após ganhar uma disputa contra Zé Bebelo.

Riobaldo, então, passa a ser chamado de Urutu-Branco e segue em caçada ao bando de Hermógenes. Contudo, antes disso, devido à recusa de Diadorim e o medo de não saber como terminará o conflito, Riobaldo manda um dos seus jagunços entregar a pedra de topázio à Otacília como símbolo de compromisso de casamento.

Portanto, finalmente, sob a liderança de Riobaldo Urutu-Branco, o bando de jagunços segue Hermógenes até a fazenda dele na Bahia, conseguindo aprisionar sua mulher e tomando suas posses, porém Riobaldo não encontra Hermógenes e decide voltar para Minas Gerais.

No meio do caminho, Riobaldo encontra o bando de Ricardão e outra grande batalha acontece, sendo que Ricardão acaba morto por Riobaldo. Em seguida, após mais um tempo de caminhada, Riobaldo e seu bando encontram Hermógenes.

Esse é o confronto decisivo da obra. Encurralados num lugar conhecido como Paredão, não havia escapatória e uma batalha sangrenta acontece. Por fim, Diadorim enfrenta Hermógenes num combate singular, corpo a corpo, e ambos acabam morrendo.

Ao chorar a morte do amigo e não permitir que mais ninguém o toque, Riobaldo descobre que Diadorim é, na verdade, Maria Deodorina da Fé Bittancourt Marins, filha de Joca Ramiro, antigo líder dos jagunços.

Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente.

Estrutura da obra

Grande Sertão: Veredas não possui divisão de capítulos durante a narrativa, chegando a ter mais de 500 páginas.

O livro é marcado pela oralidade regionalista, ou seja, por palavras e frases características do Sertão, além de ter diversas passagens poéticas com neologismos e arcaísmos dispostos numa narrativa não linear.

Narrada em primeira pessoa, ou seja, com narrador personagem no tempo psicológico (autodiegético), a obra fala sobre os medos e paixões da vida humana permeados por questões místicas e sociais.

Narrador

A narrativa pode ser um pouco confusa, devido às divagações de Riobaldo. Essa característica  pode ser interpretada de duas formas: como a simulação do próprio espaço físico onde se passa a história do livro, o Sertão, colocando-o como um labirinto místico; ou como uma metáfora para a própria vida, que também é caracterizada como um labirinto místico.

A narração de Riobaldo é feita para um interlocutor que em momento algum ganha voz ou se manifesta, portanto, não sabemos quem é essa pessoa, que é descrita por comentários e observações do narrador.

Tempo

O tempo dessa obra pode parecer confuso para a maioria das pessoas por se tratar de tempo psicológico. Contudo, podemos caracterizá-lo de forma mais simples se percebermos que ele está contanto para alguém os fatos no tempo presente.

A estrutura desse romance permite que o narrador faça digressões no decorrer da história, ou seja, ele pode interromper alguma coisa que estava narrando e voltar para o passado, depois, pode divagar sobre suas angústias e o futuro e, em seguida, voltar a contar o fato que havia interrompido páginas atrás.

Uma maneira fácil de dividir essa obra é usando os recursos do resumo, que não foi feito de acordo com o seguimento da narrativa para não dificultar o entendimento. Por exemplo:

  • Primeira parte: introdução do personagem principal e dos temas presentes na obra.
  • Segunda parte: narrativa da segunda grande guerra dos jagunços, o que seria o meio do livro se ele seguisse uma ordem cronológica exata.
  • Terceira parte: narrativa da juventude de Riobaldo e todos os acontecimentos importantes dessa época, desde a morte de sua mãe até ele conhecer Diadorim que, na época, era Reinaldo.
  • Quarta parte: narrativa do conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual ele assume a chefia do bando e faz o pacto com o Diabo.
  • Quinta parte: a narrativa retorna para o início e conta o desfecho da segunda grande guerra, na qual Diadorim mata Hermógenes e morre e Riobaldo descobre que seu grande amor era uma mulher. Em seguida, o personagem descreve como se casou com Otacília e herdou as terras do padrinho, levando uma vida pacata de fazendeiro.

Espaço

O espaço principal da obra é o Sertão, sou seja, partes de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia.

O espaço causa confusão devido a descrições de lugares reais com nomes fictícios e outros com nomes verdadeiros, o que dá a entender que o espaço sempre retorna para os mesmos locais, numa espécie de labirinto territorial sertanejo.

Entretanto, isso é feito de forma proposital como uma metáfora sobre o enredo, a história, o espaço e a vida, chamada muitas vezes de travessia, uma travessia labiríntica.

Principais personagens

Os principais personagens de Grande Sertão: Veredas são:

Riobaldo

Narrador que conta sua própria vida desde a infância de forma não linear. Um homem corajoso e que teve a oportunidade de estudar, tornando-se professor de Zé Bebelo, que o insere no mundo dos jagunços.

Era conhecido como Riobaldo Tatarana por causa da boa pontaria e que significa lagarta-de-fogo na linguagem do Sertão. Após o pacto, ele passa a ser conhecido como Urutu-Branco. A caracterização desse personagem se dá na representação do homem sertanejo que convive com as mazelas e vive com dúvidas e medos, mas sem perder as esperanças ou a vontade de lutar.

Diadorim

Personagem de grande importância na história, melhor amigo de Riobaldo e seu amor impossível, pois se passa por homem até o final da narrativa, quando se descobre que Diadorim era uma mulher, filha de Joca Ramiro.

Diadorim introduz diversos sentimentos contraditórios em Riobaldo. Sua caracterização se dá na representação da força da mulher sertaneja e no desejo de quebrar paradigmas, sendo que mulheres não eram aceitas nos bandos de jagunços como guerreiras.

Zé Bebelo

Personagem complexo e intrigante, possuindo uma boa oratória, consegue convencer as pessoas a fazerem aquilo que quer. Gabava-se por nunca ter perdido a chefia dos jagunços para ninguém, mas, quando perde a briga com Riobaldo, deserta e vai embora. Riobaldo, apesar da briga e dos conflitos, sente um grande apreço por Zé Bebelo.

Joca Ramiro

Joca Ramiro é o grande chefe daquelas bandas do Sertão, tido como o líder de grandes batalhas. Sua caracterização se dá na representação do grande guerreiro, do líder nato sábio, justo e corajoso. Tem passagens com falas filosóficas, poéticas e reflexivas, tomando assim a forma de um homem cheio de virtudes, uma personificação da bondade.

Hermógenes

Personagem odiado profundamente pelo narrador, pois, logo no começo, quando estão lutando contra os soldados, Riobaldo deixa evidente que o detesta porque ele gosta de matar por matar, sendo chamado pelo narrador de Cão e Demo.

Após a traição e o assassinato de Joca Ramiro, esse ódio de Riobaldo por Hermógenes cresce ainda mais. Sua caracterização se dá na representação do mal, de pessoas más que fazem o mal simplesmente por prazer.

Análise

A obra Grande Sertão: Veredas impressiona e é considerada uma das mais importantes narrativas da literatura brasileira devido a diversos aspectos: linguagem original, repleta de neologismos e experimentações; imersão regional, chegando a dar ares de personificação ao próprio Sertão; personagens marcantes e complexos, humanos, porém brutos e implacáveis; e a forma mística com que os fatos são narrados.

Além disso, a importância dessa obra se dá em mais outros dois fatores que devem ser exaltados. O primeiro: a sua relevância para a terceira fase do modernismo no Brasil, já que o autor usa os recursos da primeira e da segunda fase do modernismo para criar um romance sublime, utilizando a experimentação da linguagem e o regionalismo para tal. Segundo: devido aos diversos temas sobre a condição humana.

Por isso, Grande Sertão: Veredas é um dos grandes clássicos da literatura brasileira e até mesmo da literatura mundial, tornando-se uma obra universal.

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