CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Saiba o que é o hidrogênio verde, o combustível do futuro
Há muito tempo o hidrogênio é visto como a fonte de energia do futuro, mas como sua transformação de gás em combustível demanda uma grande quantidade de eletricidade, até hoje a viabilidade industrial e o uso em larga escala foram vistos com reserva. Mas aos poucos esse desafio está sendo superado, e isso é uma ótima notícia para o Brasil. O País tem grande potencial para entrar no mapa global de produção do hidrogênio verde (H2V), um combustível limpo que pode atender a demandas tanto automotiva quanto elétrica, sem impacto ambiental. O processo de produção não emite gases do efeito estufa e usa fontes renováveis de energia para gerar a corrente elétrica necessária.
Ao contrário do hidrogênio produzido por meio de combustíveis fósseis, o chamado hidrogênio verde é obtido a partir de eletrólise da água, ou seja, da quebra da molécula de água, utilizando-se nesse processo fontes de energia com emissão zero de carbono. E aí o Brasil se destaca. “Estamos estudando a produção de hidrogênio a partir do etanol, que também incluímos no rol de hidrogênio verde”, explica Marcos Buckeridge, cientista na área de bioenergia e professor do Instituto de Biociências da USP.
O Brasil tem posição de destaque nessa tecnologia porque tem know-how em etanol e poderia instalar unidades de produção do novo combustível. “O conhecimento já existe e só precisa ser aperfeiçoado. Com isso, teríamos enormes benefícios à população, com diminuição drástica da poluição química”, diz Buckeridge, acrescentando que o hidrogênio está sendo visto como muito promissor por um grande número de países em suas diversas modalidades.
“Pelos nossos cálculos, se o Brasil usar o hidrogênio verde a partir do etanol, podemos chegar inclusive a emissões negativas, já que estamos crescendo rápido em frentes como o aumento na produtividade da cana”, afirmou o cientista. Dados da Agência Internacional de Energia Renovável indicam que em 2050 o hidrogênio verde deve ser responsável por 12% da necessidade global de energia, o que significa 409 milhões de toneladas produzidas todos os anos, segundo o levantamento do Hydrogen Council.
Investimento
De olho nesse mercado, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um programa de apoio a projetos pilotos de produção ou utilização do novo combustível. O valor máximo de financiamento é de R$ 300 milhões. De acordo com o banco, a ideia é, em breve, expandir suas linhas de financiamento para apoiar também projetos de produção em larga escala, para exportação. Neste caso, os investimentos necessários podem chegar a dezenas de bilhões de reais. “Neste novo cenário internacional, posicionar o Brasil como um importante produtor internacional é uma oportunidade capaz de atrair novos investimentos e empregos para o País, podendo o Brasil se tornar um grande exportador mundial”, afirmou Daniel Barreto, superintendente da Área de Energia do BNDES.
A White Martins, multinacional brasileira que atua no mercado de fabricação de gases industriais e medicinais, tem investido no novo combustível. Recentemente fechou parceria com a Toyota do Brasil para o fornecimento do gás que será usado no Toyota Mirai — veículo movido a hidrogênio da montadora, que já roda no Japão. O presidente da White Martins, Gilney Bastos, destaca que esse tipo de combustível pode ser uma das soluções mais rápidas para a crise. “Acho que essa é a opção que se tornará realidade no prazo mais curto. Podemos falar que o prognóstico era cinco e agora é de três anos, por conta dessa dificuldade com o diesel e os combustíveis fósseis”, disse o executivo.