Educação & Cultura
Alfabetização matemática: como propor um mini censo para trabalhar o tratamento de dados
Confira passo a passo desde a escolha do tema da pesquisa até o compartilhamento das conclusões
Após um atraso de dois anos pela pandemia, em 2022 foi iniciada a pesquisa do Censo demográfico, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para entender diferentes aspectos da população do Brasil.
Aproveitando este momento tão importante, trago para vocês uma sugestão para abordar aspectos de tratamento de informações nas aulas de Matemática com base em uma pesquisa realizada entre os alunos. Já fiz essa proposta tanto com crianças pequenas na Educação Infantil quanto com turmas do 1º ano do Fundamental. Evidentemente, se aumentar o grau de dificuldade, pode ser utilizada com alunos mais velhos.
Vale ressaltar também que dialoga com a unidade temática Probabilidade e Estatística prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Mais especificamente com os objetos de conhecimento coleta e organização de informações e registros pessoais para a comunicação de informações coletadas previstas no 1º ano.
A atividade foi inspirada no texto do professor Antonio Carlos de Souza que faz parte do livro Pesquisas em Educação Matemática – um encontro entre a teoria e a prática, organizado pelas professoras Celi Espasandin Lopes e Edda Curi.
Passo a passo para elaborar o censo da turma
Para começar nada melhor do que uma boa roda de conversa abordando o tema. Pergunte o que os alunos já sabem sobre o Censo e acrescente novas informações. Em seguida, proponha fazer uma pesquisa, como os recenseadores, para coletar dados, analisá-los e apresentar as conclusões para a escola. Tenho certeza de que os alunos ficarão animados com a ideia.
Escolha com a sua sala um tema e elaborem juntos as questões. Não vale trazer as perguntas prontas! Com a Educação Infantil, decidimos fazer um questionário sobre as famílias, onde moravam e como vinham à escola. Nos Anos Iniciais, já fiz sobre diferentes temas como, por exemplo, impressões sobre a escola, a merenda e hábitos alimentares.
Após ter essas definições, levante com a turma as questões que irão compor a entrevista. Nas turmas em que já fiz essa atividade, nem todos liam, por isso organizamos as perguntas utilizando imagens para que todos tivessem autonomia para realizar a leitura. Vale ressaltar que foi discutido com a turma as alternativas e quais imagens iriam compor as perguntas, o que contribuiu para a construção da linguagem escrita e visual. Para servir de inspiração, baixe no botão abaixo exemplo de como foi a pesquisa de hábitos alimentares.
BAIXE QUESTIONÁRIO REALIZADO PELA TURMA DA PROFESSORA
Na sequência, combine se irão entrevistar a escola toda ou apenas algumas salas – sugiro conversar com as professoras das demais turmas para saber qual é o melhor horário para fazer a atividade. Antes de ir a campo, acerte com a classe como farão a entrevista. Em minha experiência, a divisão em duplas funciona bem.
Imprima as perguntas – dois formulários por folha para facilitar a tabulação. Distribua para as duplas e combine quais perguntas serão lidas por cada um ou se um será o entrevistador e o outro irá anotar as respostas na folha. Com tudo combinado é possível iniciar o mini censo.
Hora de tabular as informações
Após a coleta com as demais salas, a sua turma também deve responder as perguntas. Esse momento pode acontecer coletivamente. Eu ia fazendo as perguntas e anotando as respostas em uma tabela. Assim, ao final, você já terá os dados tabulados da sala. Veja abaixo como ficava:
Tabular os dados da entrevista realizada com a outra classe requer um pouco mais de trabalho, mas será uma excelente oportunidade para que vivenciem a contagem e a representação dos dados.
Divida os alunos em grupos e explique que irão repetir o processo que fizeram durante a contagem das respostas da sala. Reproduza as tabelas com os desenhos e entregue com os questionários preenchidos da outra classe. Ou seja, para a pergunta 1, faça uma tabela e junte todas as perguntas respondidas pelos alunos entrevistados. E assim com as demais. Não deixe de fazer boas intervenções enquanto realizam a proposta para potencializar a aprendizagem.
Representando e interpretando os dados obtidos
Com os dados tabulados, o próximo passo é traduzi-los em gráficos. É interessante utilizar diferentes formas de representação. Por exemplo, para fazer gráficos de barra, eu utilizei quadradinhos do mesmo tamanho para montar as preferências de cada questão e em outro momento enfileirar as crianças. É possível também utilizar os gráficos por setores, também conhecido como “de pizza”, como você vê na foto abaixo.
Outra possibilidade, se você possuir um laboratório de informática, é construir os gráficos no computador usando o Excel ou o Google Sheets. Pode parecer complicado, mas não é. As crianças dão conta!
Em seguida, proponha uma interpretação dos gráficos. As conclusões devem ser registradas. Veja abaixo as conclusões que a turma chegou com base na pesquisa que compartilhei anteriormente:
“O PRIMEIRO ANO B RESPONDEU PERGUNTAS SOBRE A SUA ALIMENTAÇÃO: A FRUTA PREFERIDA DO 1º ANO B NÃO É NENHUMA DAS OPÇÕES (MAÇÃ, BANANA, MELANCIA E MAMÃO).
A SALADA QUE O 1º ANO B COSTUMA COMER É ALFACE. DUAS CRIANÇAS NÃO COMEM NENHUMA”
Socializando as conclusões
Na sequência, é o momento de escolher com a turma como será feita a socialização da pesquisa realizada. Uma possibilidade é a construção de um painel com os gráficos e os alunos apresentarem as conclusões para os demais colegas.
Para servir de inspiração, também deixo uma narrativa de aula que escrevi sobre uma das minhas experiências fazendo essa proposta do mini censo.
Como você viu, esta proposta permite trazer um assunto atual para a escola, evidenciar como a Matemática está presente no cotidiano e como ela ajuda a interpretar a nossa realidade.
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora há 40 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.