Educação & Cultura
Educação Infantil: boas práticas com agrupamentos
Conheça as possibilidades de trabalho com essa estratégia, e um exemplo de aplicação em um único dia na escola
Olá professoras e professores! Talvez uma das coisas que eu mais enfatize nesse espaço quinzenal de reflexão e troca é a importância de pensar com cuidado os espaços, tempos, materiais e agrupamentos na hora do planejamento – e o que quero dizer com isso é que, para além de conhecer as particularidades de cada faixa etária e saber o que fazer com essas informações, está o como fazer.
Então, para apoiá-los nessa hora de pensar sobre como consolidar boas práticas pedagógicas, escolhi abordar um dos pontos que listei acima, os agrupamentos, apresentando a sua multiplicidade de tipos. Ao final, trago ainda uma sugestão de como essas diversas perspectivas podem ser trabalhadas em um único dia na escola. Vamos juntos nessa?
Tipos de agrupamentos na Educação Infantil
Por livre escolha: é um agrupamento que contempla uma variedade de espaços e materiais para que as crianças tenham a possibilidade de transitar conforme seus interesses – com foco no desenvolvimento da independência, autonomia, capacidade de fazer escolhas, conhecer os próprios gostos e iniciativa.
Coletivos: oportunizam o contato com todo mundo, como as rodas de conversa e leituras em voz alta realizadas pelo educador. Neles, são incentivadas a unidade e a dimensão de pertencimento a um grupo.
Produtivos: aqui, os arranjos são formados a partir da observação do professor sobre o potencial que existe para colaboração, ajuda mútua e troca de ideias entre os pequenos. Uma possibilidade interessante é a escrita de um texto breve, em que a criança que está em fase de desenvolver habilidades para a escrita espontânea tem o apoio e o incentivo dos seus pares.
Alternados: como em qualquer outro espaço de convivência, as crianças tendem a fazer aproximações por afinidade. Só que para desenvolver habilidades de relacionamento, podemos intervir para que o contato com diferentes colegas seja ampliado. Desse modo, inicialmente se faz a observação e a proposição de grupos diversificados, que são a seguir alternados entre a livre escolha e a mediação. Vale, então, propor novos parceiros, trazer materiais que possibilitem a aproximação entre as crianças, ou ainda estimular a brincadeira de livre escolha logo após uma proposta coletiva de cooperação.
Por estações: metodologia ativa que requer a intervenção mais efetiva do professor. É importante que todo o grupo compreenda que haverá a movimentação entre as estações e que terão tempo e oportunidade para percorrer os espaços. Nesse modelo, o planejamento cuidadoso do tempo dos grupos em cada parada, a alternância entre estações com elementos já conhecidos pelo grupo e outras com materiais inéditos que trazem curiosidade, são questões importantes a serem consideradas. Essa estratégia pode causar certa resistência no início, mas com o tempo se torna uma das mais eficientes maneiras de trabalho com turmas grandes.
Multietários: relembrando algumas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), entre as boas práticas para essa etapa, estão aquelas que “possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade”. Daí, partem sugestões como brincadeiras em espaços com diferentes grupos; momentos culturais em os pequenos compartilham aprendizagens com toda a comunidade escolar; e também feiras, oficinas, piqueniques e outras atividades que garantam esse contato entre faixas de idade.
Momentos individuais: são igualmente relevantes, e atente-se para que cada um tenha a quantidade de material suficiente para explorar de maneira individualizada, e mesmo um canto na sala para quando sentirem vontade de descansar. Podemos citar ainda a hora do sono, com espaço para objetos pessoais de apego – e caso não queira dormir, que tenha acesso a brinquedos e outros itens.
Exemplo prático: agrupamentos no dia a dia
Na recepção, organizo três a quatro espaços diferentes da sala para os arranjos de livre escolha. Enquanto brincam, observo os diálogos e construções, e acolho ideias e falas dos grupos. Para mobilizar a alternância de situação, aviso que em poucos instantes vamos nos reunir no coletivo – momento em que ou fazemos combinados sobre a rotina e propostas em andamento, ou apresento sugestões para começarmos novas pesquisas a partir dos interesses e necessidades deles.
No momento seguinte, organizamos os grupos por estações para que cada criança tenha condição de dar continuidade com qualidade nas suas construções, e contar com meu apoio se assim desejar. Posteriormente, ao nos prepararmos para a refeição, é possível intervir na composição e na reorganização das mesas estimulando a alternância entre grupos – seja identificando cadeiras com o nome de cada um, levando a refeição para um espaço diferente, ou pensando em brincadeiras específicas.
Já na área externa, sugiro uma brincadeira de roda ou coletiva em que todos tenham a oportunidade de se olhar, de integrar e de se expressar. Na sequência no parque, trago materiais para que novamente haja a oportunidade de livre escolha, agora contando com a companhia dos bebês que se movimentam por esse espaço – dessa forma, incentivo que todos interajam, oportunizando o agrupamento multietário.
Viu como é possível trazer variados arranjos num único dia? Agora considere essa diversidade ao longo de um mês, de um ano… quantas aprendizagens são possíveis, não é mesmo?
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.