Educação & Cultura
Como trabalhar as relações étnico-raciais nas aulas de Matemática
Confira 5 sugestões de como promover uma reflexão sobre a temática e desenvolver habilidades curriculares nos Anos Iniciais do Fundamental
O racismo está enraizado em nossa sociedade. Para reverter esse quadro, é essencial adotar uma postura antirracista. A escola, como determinado na lei 10.639 de 2003, deve ser um espaço para discutir estas questões, buscar soluções que modifiquem pensamentos e atitudes preconceituosas, e valorizar a cultura africana, afro-brasileira e dos povos indígenas. Essa é uma forma de contribuir com a construção de uma sociedade com mais equidade.
Embora a obrigatoriedade desse trabalho já tenha quase 20 anos, ainda hoje é um trabalho que, muitas vezes, restringe-se às aulas de História durante o mês de Novembro – quando celebramos o Dia da Consciência Negra. No entanto, a temática pode ser explorada em todas as áreas de conhecimento durante todo o ano.
Por isso, te pergunto, professor e professora, essas questões estão presentes em sua sala de aula? Separei cinco sugestões de como abordar o assunto na Matemática – mais especificamente, na perspectiva da etnomatemática, a qual estuda esse componente do ponto de vista da cultura.
Proponha uma roda de conversa
Comece fazendo a leitura de uma história que permita discutir e refletir sobre as relações étnico-raciais. Depois, questione-as sobre as diferenças existentes entre as pessoas e a necessidade de todas serem ouvidas e respeitadas. Nesta reportagem, você tem sugestões de como trabalhar os contos africanos e indígenas.
Faça análise de dados
Para dar continuidade à reflexão, apresente gráficos que explorem diferenças raciais – por exemplo, diferença de taxa de analfabetismo ou de desemprego entre pessoas brancas, negras (que inclui pretas e pardas) e indígenas. No site Porvir, este infográfico, que apresenta a desigualdade dos impactos da pandemia na trajetória escolar de jovens negros, pode ser adaptado e levado para a turma.
Nesse momento, peça que analisem o que significa o título, os números que aparecem e a relação dessas informações com o tema do gráfico. Evidencie as diferenças entre os dados e questione quais são os caminhos possíveis para reverter esse cenário.
Trabalhe a arte africana e indígena
Já falamos sobre a relação da Arte e da Matemática. Esse é um bom caminho para estudar a riqueza da cultura africana e indígena.
Pode começar apresentando diferentes máscaras africanas, como as que estão na imagem abaixo, e explorando a simetria presente nelas. Em seguida, proponha que eles criem as suas, seguindo as características das que foram apresentadas, utilizando papel, tecido ou argila.
Explore padrões geométricos
Os cestos e cerâmicas indígenas, bem como as estampas africanas, permitem trabalhar os padrões.
Solicite que observem as características desses objetos. Depois proponha uma brincadeira para que descubram o “segredo” de alguns padrões, ou seja, o que se repete no desenho. Em seguida, eles podem criar as suas próprias estampas.
Leve jogos africanos e indígenas.
Não poderia deixar de falar deles! Há vários jogos africanos que podem ser explorados. O mancala é bastante conhecido e estimula o raciocínio das crianças. Também há outros que possibilitam abordar conceitos de medidas, proporção e quantidades. Já brincadeiras africanas como a garrafinha, labirinto e o matacuzana, permitem explorar a noção de espaço.
Em minha escola, quando a professora Ana Cássia Santos, que dá aula de Educação Física, propõe a amarelinha africana é um sucesso! Para brincar, deve-se fazer um quadrado com linhas e colunas no chão e, ao som da música, os alunos devem percorrer os espaços de forma ritmada.
Peça que os alunos representem, por meio do desenho, as experiências com os jogos. Dessa forma, eles podem demonstrar o quanto compreenderam o que vivenciaram.
Essas são algumas possibilidades de como começar, ou continuar, este trabalho tão importante e necessário. Vamos lá?
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora há 40 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Fonte: Na escola