Educação & Cultura
Parceria direção e coordenação pedagógica: como desenvolver?
A troca entre os profissionais da gestão escolar é indispensável para o bom desenvolvimento de qualquer unidade
“Futebol sem bola / Piu-piu sem Frajola / Sou eu assim sem você”. Esse refrão do sucesso “Fico assim sem você”, lançado em 2002 pela dupla Claudinho & Buchecha, sintetiza muito bem o quanto que, na vida pessoal e profissional, sempre precisamos do outro, e como é natural fortalecermos colaborações para nos desenvolver.
A primeira coluna deste ano, publicada bem no início de janeiro, trouxe uma reflexão justamente sobre a solidão dos diretores que ocorre ano após ano nesse primeiro mês. Felizmente, esse tempo acabou – com o fim das férias e a volta às aulas, é hora de reafirmarmos que o ambiente escolar é, por essência, um lugar de construção coletiva. Vários sujeitos, como os professores, funcionários, pais e alunos, se alternam como protagonistas e acabam viabilizando a gestão escolar.
Porém, um elemento faz qualquer gestor parecer “futebol sem bola” se não estiver presente: a coordenação pedagógica (CP). No meu caso, afirmo categoricamente que a Escola Municipal Professora Ivone Nunes, que dirijo desde 2019, teria uma pane sem a Tatiana Moura, nossa CP. Por isso, quando surgiu a ideia de escrevermos uma coluna que tratasse dessa parceria direção e coordenação, entendendo limites e potencialidades, havia uma única certeza – era um texto para ser escrito a quatro mãos. E aqui estamos.
Desafios de cada função e o valor da integração
Amigo leitor e amiga leitora, quando tratamos de coletividade, a ideia não é retirar ou diminuir responsabilidades de ninguém. Diretores, ao fim e ao cabo, são os responsáveis legais pelas escolas: por exemplo, é deles carimbo e assinatura que aparecem ao final de todo ofício e todo memorando, ratificando decisões. E é natural que sejam cobrados diretamente por resultados, assiduidade dos alunos, manutenção do prédio, taxas e índices em geral.
Por sua vez, a coordenação comumente desempenha um papel mais acessível com a equipe, até pela proximidade de trabalho com os professores. Falamos aí de reuniões pedagógicas, planejamento das ações em sala de aula, acompanhamento das aprendizagens, enfim, tudo aquilo que se relaciona com a mobilização para a prática docente está na alçada desse profissional.
Para além disso, em diversos momentos, a ponte entre a equipe e a gestão é personificada pela CP. Isso ocorre porque, mesmo que muitos diretores escolares deem autonomia para os professores se aproximarem e trazerem seus anseios, por vezes parece “faltar coragem para chegar ao chefe”.
Circular em “ambos os lados”, fazendo essa mediação entre equipe e diretor, não é tarefa fácil para a coordenação. Já do lado da direção, se não houver o suporte necessário, se não “comprar” e mesmo possibilitar a execução das ideias debatidas pelos professores e apresentadas pela CP, o empenho dos profissionais da escola e mesmo o resultado das ações dificilmente serão satisfatórios.
Assim, a integração entre as duas funções se torna peça-chave para o sucesso da unidade escolar. E para isso, diretor e CP devem, tanto entre si quanto com os demais educadores, exercer cotidianamente uma escuta ativa. Essa comunicação precisa ser sensível; caso contrário, ao invés de pontes, constroem-se muros – e aí, parafraseando novamente Claudinho & Buchecha, “nem mil autofalantes vão poder falar por mim”. Em resumo, é preciso equilíbrio e jogo de cintura para estarmos ajustando constantemente as atribulações da nossa rotina profissional multifuncional.
A importância da parceria na gestão escolar
A questão principal é que o fim de uma escola sempre é o pedagógico. Portanto, qualquer ação administrativa não pode perder de vista seu impacto no ensino e na aprendizagem naquele ambiente, sendo essencial que nós, diretores e coordenadores, estejamos sempre entrosados.
E um detalhe: obviamente, nem sempre concordamos com tudo (aqui, incluímos o nosso diretor-adjunto, Paulo Vitor). Como diz o filósofo Leonardo Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Entre nós, o alinhamento se dá muito mais pela confiança e admiração que nutrimos mutuamente.
Só que algumas ações bem práticas podem apoiar na construção desse entrosamento. Além de pautarmos todas as nossas iniciativas por uma grande atenção aos detalhes, é vital organizarmos agendas para reuniões periódicas da gestão. Esses pontos parecem simples, mas no dia a dia compõem processos que auxiliam nas divisões das tarefas. Isso consolida a autonomia, a capacidade e a responsabilidade de todos exercerem suas atribuições, e impede qualquer ação que desautorize ou invalide a fala do outro. Com isso, frases como “Isto é com o Júnior” ou “procure resolver com a Tatiana” são comuns por aqui.
Esta parceria também precisa ser fortalecida no dia a dia, através de um equilíbrio nos momentos de valorização e de reconhecimento. É comum que em algumas situações seja dado um foco maior a quem ocupa o espaço da direção, já que nem sempre as pessoas de fora têm clareza das atribuições da coordenação. Vale então frisar para a comunidade, nas redes e em outros meios de divulgação, a importância desse outro profissional sobre as ações da escola.
Por fim, pensar nessa relação diretor e CP é, acima de tudo, compreender paralelos muito bem vindos entre as nossas incompletudes e as potencialidades do outro. Conseguimos refletir sobre nossos próprios limites de forma bem mais suave quando sentimos que, perto de nós, há alguém muito melhor naquilo que não sabemos fazer tão bem.
Até a próxima coluna!
Abraços,
José Couto Júnior é licenciado em História, tem mestrado em Educação pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2018, foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10. Servidor da Prefeitura do Rio de Janeiro há 13 anos, atua desde 2019 como diretor na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ).
Tatiana Dias de Moura é coordenadora pedagógica da EM Professora Ivone Nunes Ferreira. Pedagoga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em Educação infantil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e especialista em Gestão Educacional pela Universidade Candido Mendes (UCAM).