Educação & Cultura
Sugestões de atividades de Matemática para o Dia Internacional da Mulher
Confira três ideias de como trabalhar o Dia Internacional da Mulher a partir da Matemática
O Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, está sempre presente na lista de datas comemorativas nas escolas. No entanto, o foco não deve estar conectado com a entrega de lembrancinhas e/ou mensagens às mulheres, mas sim à discussão e à reivindicação da igualdade de gênero.
A origem da data, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, está na luta das mulheres que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa por melhores condições de trabalho. Diga-se de passagem, essas condições eram piores que as dos homens à época. Imagine só como deveria ser!
Hoje a data dialoga com o cumprimento da Agenda 2030, no que se refere ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 – igualdade de gênero e empoderamento de todas as meninas e mulheres. Vale lembrar que o Brasil, assim como outros países do G20 (organização que reúne as maiores economias do mundo) se comprometeu a reduzir em 25% a diferença nas taxas de participação no mercado de trabalho entre homens e mulheres até 2025. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), se esse objetivo for alcançado em nível global, tem o potencial de adicionar 5,8 trilhões de dólares à economia mundial.
Como você pode ver, o tema gera muitas discussões e reflexões, e a escola é um espaço aberto para o diálogo e a prática de ações que contribuem para mudar a maneira como a sociedade enxerga meninas e mulheres.
Por isso, o tema da nossa conversa é como o assunto pode ser abordado a partir da Matemática. Vamos lá!
Para começar…
Planejar uma boa roda de conversa sobre o tema é um excelente começo. Levante os conhecimentos prévios da turma a respeito do Dia Internacional da Mulher e também o que pensam sobre igualdade de gênero e ideias como brincadeiras ditas de meninos e de meninas, ou azul ser cor de menino e rosa ser cor de menina, por exemplo. Aqui você terá um vasto campo para discussão e poderá fazer ligações com a posição da mulher na sociedade em que vivemos.
Para complementar a conversa, em outro momento, apresente um texto que aborde a origem operária do Dia Internacional da Mulher. Deixo aqui uma sugestão para sua leitura, para que depois, conforme o ano, você possa fazer algumas adequações ao ler para a sala.
A partir do fato, é possível propor, de acordo com a turma, a construção de uma linha do tempo sobre a origem da data, que vai além do episódio do incêndio da fábrica em Nova York, onde morreram mulheres e homens.
Se a linha do tempo é algo que a turma ainda não domina, pense em fazer isso coletivamente. Caso contrário, proponha que a construção seja feita em pequenos grupos com uma posterior discussão. Em ambos os casos, você estará investindo na noção de tempo.
Trabalhando a Estatística e a Matemática no Dia Internacional da Mulher
E com o que mais a Matemática contribui? Com a Estatística, por meio do tratamento de dados – conforme consta na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe desenvolver “habilidades para coletar, organizar, representar, interpretar e analisar dados em uma variedade de contextos, de maneira a fazer julgamentos bem fundamentados e tomar decisões adequadas. Isso inclui raciocinar e utilizar conceitos, representações e índices estatísticos para descrever, explicar e predizer fenômenos” (p. 274).
Dessa maneira, sugiro três possibilidades de trabalho de Matemática no Dia Internacional da Mulher.
Análise de dados
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz a segunda edição dos indicadores sociais das mulheres no Brasil. Na tabela “Resumo dos Indicadores”, vários aspectos podem ser analisados. Vai depender da sua turma.
Você pode escolher alguns como a participação na força de trabalho, a taxa de alfabetização, a frequência escolar, a conclusão dos estudos e a expectativa de vida, dentre outros. Nesses pontos, é possível comparar a posição dos homens e das mulheres.
Uma ideia é trazer as tabelas e propor a criação de gráficos pelos alunos, no laboratório de informática, após analisar os resultados e socializar as informações. Caso não tenha acesso a um laboratório ou mesmo à internet, você poderá trazer os gráficos prontos para a aula e propor que os alunos os analisem.
Propor bons questionamentos sobre os dados ajudará a turma a perceber que, embora exista um número maior de meninas alfabetizadas, com frequência escolar e concluintes do Ensino Fundamental, não há continuidade dos estudos da grande maioria delas quando se trata do Ensino Superior, por exemplo.
Já o Fórum Econômico Mundial, desde 2006, apresenta os dados referentes à paridade entre homens e mulheres em diversos países do globo. É possível comparar dados entre diferentes anos e diferentes países. Há uma nota que vai de 0 a 1: quanto mais próximo de 1, melhor a situação do país.
Comparação de gráficos
Neste link do IBGE, você encontra imagens e gráficos prontos comparando a situação da mulher em diferentes áreas.
O interessante é que há explicações sobre a análise de cada gráfico, o que ajuda a pensar em questionamentos para a turma.
Coleta de dados para pesquisa
Coletar, organizar, representar e analisar os dados são habilidades que constam na BNCC para Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental. Esta pode ser uma boa oportunidade para organizar uma pesquisa contemplando aspectos estudados na hora da conversa e na análise dos dados e gráficos.
A ideia é levantar com a turma as questões que farão parte da pesquisa, ou seja, quais perguntas os alunos querem fazer relativas à posição da mulher e à igualdade de gênero.
É importante que os próprios alunos formulem essas questões. Você pode fazer isso coletivamente ou propor que, em duplas, eles elaborem as perguntas de múltipla escolha e depois as socializem, elencando as que farão parte da pesquisa. Na sequência, organize as duplas e combine quantas entrevistas cada uma fará. Combinem a data de entrega. Se a turma nunca realizou esse tipo de proposta, ela poderá ser feita com os funcionários e professores da própria escola.
Com os dados coletados, é hora de organizá-los em tabelas para facilitar a contagem. Para isso, crie um grupo responsável por cada pergunta. Assim, se os alunos elaboraram cinco perguntas, serão cinco grupos, um para cada pergunta.
Em seguida, com as tabelas prontas, é a hora de representá-las na forma de gráficos. Se tiver um laboratório de informática, será excelente. Caso contrário, utilize outros recursos, como papéis recortados e caixinhas pequenas (para dar ideia de 3D) para a montagem dos gráficos. Os grupos que construíram as tabelas irão construir os gráficos relativos a cada questão e farão a interpretação deles.
Outra possibilidade é preparar um formulário do Google, o que adianta o processo de contabilizar os votos e fazer as tabelas e os gráficos. A turma fica responsável por enviar os links e fazer a análise e a interpretação dos dados.
Com tudo pronto, é hora de socializar com a classe toda o que cada um fez e depois organizar um mural para compartilhar os resultados com o restante da escola.
Tenho certeza de que o Dia Internacional da Mulher sairá do lugar-comum e atenderá ao seu objetivo: refletir sobre os direitos das mulheres e a igualdade de gênero, abrindo espaço para uma discussão que certamente vai reverberar fora dos muros da escola. E então, vamos fazer a diferença com a nossa turma?
Um abraço e até a próxima,
Selene
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Fonte: Nova Escola