Educação & Cultura
Reuniões de pais e responsáveis: como engajar as famílias
Confira formas de organizar os encontros para estreitar vínculos, favorecer as trocas e dar visibilidade para as experiências das crianças na Educação Infantil
Há um provérbio africano que diz que é preciso toda uma aldeia para educar uma criança. Ele se refere à máxima de que a educação acontece em todos os lugares, não apenas dentro dos muros da escola, e que demanda participação e responsabilidade de todos. Ninguém sabe melhor disso que os professores da Educação Infantil: é notável como a aprendizagem e desenvolvimento dos pequenos ganham proporção quando as famílias são envolvidas ativamente o seu cotidiano escolar.
Na construção dessa parceria, as reuniões de pais e responsáveis são momentos essenciais. Mais do que meros informes burocráticos ou repasses de resultados, são ocasiões para o estreitamento de vínculos, trocas e acompanhamento conjunto do trabalho pedagógico. “As reuniões são importantes porque dão visibilidade para a cultura produzida pelas crianças no ambiente escolar”, explica Tatiana Martins, orientadora educacional no Centro Municipal de Educação Infantil Mundo Feliz, em Palmas (TO).
Daí a importância de organizar esses momentos e utilizá-los para comunicar sobre as experiências vividas pelas crianças e suas aprendizagens, bem como para ouvir as famílias sobre seus anseios, dúvidas e expectativas.
No entanto, para que essa troca saudável ocorra, é preciso abertura, flexibilidade e escuta por parte dos gestores e professores. Caso contrário, pais e responsáveis podem sentir que sua presença é desnecessária, ou pior, os dois lados podem cair num jogo de empurra. “A família pode culpabilizar a escola porque ela não a convida e a escola culpabilizar as famílias porque elas não aparecem”, resume Elisiane Lippi, especialista em Educação Infantil e membro do Time de Formadores da NOVA ESCOLA.
Acolher para aproximar
Para não cair nessa armadilha, primeiramente, é necessário pensar em maneiras de convidar e aproximar os pais e responsáveis. “Temos que individualizar esse convite porque os pais também têm suas rotinas de trabalho. Com cada família funciona melhor por meio de um canal. Tem família que é por WhatsApp, outras [é melhor conversar] quando vão deixar a criança na escola, por exemplo”, diz Elisiane. Tatiana dá outra ideia: “Uma forma bacana de convidar as famílias é propor que as próprias crianças façam esse convite, seja verbalizado, seja por escrito.”
Segundo a observação das especialistas, as reuniões ainda ficam muito restritas ao começo e final de ano letivo, semestre ou bimestre. Quando muito, os pais e responsáveis são convidados a adentrar a escola para participar de atividades relacionadas a datas comemorativas – o que é desejável, mas não suficiente. “Penso que temos pecado enquanto professores ao não abrir tanto as portas para que as famílias entrem no dia a dia. Precisamos trazer os pais e responsáveis para perto para entendermos o que eles compreendem como escola de Educação Infantil, que traz um paradigma diferente do Ensino Fundamental”, avalia Elisiane.
Comunicar melhor sobre a Educação Infantil
“Como todos nós vivemos nossa infância na escola, achamos que ela ainda é daquele jeito. Se conseguimos explicar para as famílias o que envolve a Educação Infantil atualmente, tudo fica mais fácil”, acredita Elisiane Lippi, especialista em Educação Infantil e membro do Time de Formadores de NOVA ESCOLA. Veja algumas dicas:
- Nas reuniões, professores e gestores podem apresentar e discutir sobre as concepções contemporâneas de Educação Infantil contidas em documentos legais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
- Cada professor deve planejar maneiras de explicar aos pais e responsáveis a sua proposta pedagógica
- Vale marcar a importância das brincadeiras na rotina da Educação Infantil
- No dia a dia, é necessário acolher dúvidas e sugestões das famílias, sem levar como crítica ao trabalho no ambiente escolar
Como planejar a reunião de pais
Como qualquer outra prática escolar, esses encontros exigem planejamento e intencionalidade pedagógica. Elisiane aconselha conversar individualmente com cada família antes de chamar para a reunião geral. “Fazer entrevistas individuais ajuda a ter um cenário do que é a realidade daquela criança, quais atividades fazem juntos em casa e como é a rotina dos responsáveis.” Este contexto é fundamental para melhor apoiar cada criança em sua trajetória e acolher a família.
Em grande grupo, algumas dinâmicas podem ajudar os pais e responsáveis a se conhecerem e se sentirem confortáveis para contribuir com as reuniões. “Toco uma música e passo uma caixinha com os nomes das crianças. Quando a música para, quem está com a caixinha na mão tira um nome. Então, a pessoa da família de quem o nome foi sorteado fala um pouco daquela criança.” A educadora conta que o resultado são percepções diferentes e histórias até então desconhecidas sobre os pequenos, o que possibilita diversas trocas.
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Organizar o espaço é outro ponto que faz a diferença. Uma dica é arrumar as salas para receber os pais da mesma forma que se recebe as crianças, com diferentes cantinhos e contextos investigativos. Expor murais com fotos e vídeos com falas ou interações também ajuda a narrar o trabalho realizado. “Ver recortes do dia a dia escolar – como se alimentam, brincam, ou são trocados – gera comoção na família. É preciso mostrar as brincadeiras e contextos por meio dos quais as crianças estão aprendendo”, frisa a especialista.
VEJA O QUE NÃO PODE FALTAR NA REUNIÃO DE PAIS
Envolver pelo prazer
Há nove anos dedicada à Educação Infantil, a orientadora educacional Tatiana Martins acredita que as reuniões devem ser, antes de tudo, prazerosas. “Quando as famílias participam e gostam das atividades culturais ou formativas, vão querer voltar. O sentimento de pertencimento das crianças e dos adultos passa por esse prazer coletivo”, defende. Ela aconselha que professores e gestores chamem os pais e responsáveis para participarem de oficinas. “Pode ser de trabalho manual, de contação de história, de poesia”, exemplifica.
Vale até organizar um momento de brincadeira em que os adultos experimentem o que a criança vive dentro da instituição. “No ano passado, tivemos um campeonato de pular corda e elástico”, conta. Segundo Tatiana, os momentos lúdicos envolvem as famílias com a escola e ajudam a estabelecer a tão necessária relação de confiança. “Depois, quando você as convida para falar de alguma dificuldade de aprendizagem, estão acessíveis”, diz.
Compartilhando a documentação pedagógica
Entre as ações prévias, estão levantar os documentos que serão compartilhados com os pais e responsáveis e organizar os materiais para o momento do encontro. Os portfólios, por exemplo, podem ser entregues para um exame mais minucioso das famílias em casa. Assim, o tempo passado juntos é investido na construção de novas experiências.
“A documentação pedagógica assume vários formatos e nós a socializamos com as famílias, às vezes, de modo mais formal, outras menos. Então, temos um relatório descritivo, mas também registros pedagógicos por meio das redes sociais, que permitem que os pais acompanhem vídeos, fotos, etc.”, conta Tatiana.
Mais importante do que o formato, é o objetivo desses registros: dar visibilidade para a prática pedagógica da escola. Bem-informadas sobre todas as atividades, as famílias conseguem também dar devolutivas e contribuições nas futuras reuniões.
Na escola de Tatiana, no início do ano, são delineados projetos investigativos por turma a partir daquilo que observam vir da curiosidade das crianças. “As famílias ajudam com propostas e ideias dentro da temática. Ano passado, fizemos um projeto sobre a cultura e história do Tocantins. Convidamos as famílias para um bate papo, para contar suas histórias. Então, aqui sabem que não estão só presentes para ouvir, mas também para acrescentar e contribuir.”
Fonte: Nova Escola