Educação & Cultura
Clima escolar e resolução de conflitos na Educação Infantil
Ainda que na Educação Infantil as crianças estejam estabelecendo suas primeiras relações, os conflitos podem emergir, o que exige um plano de ação
Queridas professoras e professores! Ainda que nossa etapa de atuação seja a Educação Infantil, em que os protagonistas estão estabelecendo as primeiras relações, os conflitos já emergem ali. Desde muito pequenos, os bebês já reconhecem afinidades, formas de ser e comportamentos que lhes agradam ou não, enquanto vão construindo sua personalidade e seu jeito próprio de ser e estar no mundo.
Mas antes de falarmos sobre as situações que envolvem as relações entre as crianças, é importante ressaltar alguns aspectos sobre a relação adulto e adulto, ou seja, entre nós professores e pais.
Lembrem-se que o ponto primordial de uma relação entre os adultos na escola é o estabelecimento de laços de confiança. Tal qual uma casa tem suas etapas e processos para uma boa construção – e um tijolo mal assentado pode comprometer toda uma parede -, do mesmo modo, um gesto ou palavra mal dita pode comprometer toda a relação.
Acolhimento em palavras e gestos
Em outros momentos falei sobre a importância do acolhimento em todo período letivo, e aqui reforço meu posicionamento, pois, antes de tudo, o gesto é a expressão que acolhe, que recebe, que aceita. Depois, a palavra clara, honesta e garantindo a primazia da educação que é o bem estar, segurança e pleno desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas também é fundamental.
Um acolhimento diário com um sorriso, um cumprimento honesto, faz toda a diferença. Assim como uma despedida com informações transparentes e sucintas. Essas ações revelam disponibilidade, abertura para uma aproximação e diálogo. Temos um ditado interno na escola: “É pelas crianças que ganhamos os pais”, mas entendam que é sobre o profissionalismo do ato educativo, o respeito e a cordialidade que estamos falando.
Aceitar e valorizar o outro como ele é
Nas situações em que o conflito se instala é importante rever as suas origens e consequências. Mas um ponto de reflexão importante para nós professores e que observo muito no dia a dia: por vezes, temos a tendência de querer impregnar nas famílias e nas crianças os nossos valores, nossas crenças, nossos modos, práticas culturais como sendo as mais adequadas e ao tentar intervir, podemos até subjugar os conhecimentos e modo de vida do outro, provocando conflitos desnecessários.
O ato de acolher diz respeito também a aceitar e valorizar o outro como ele é. Entender que, em muitas situações, o que nos parece pouco está sendo, na verdade, um grande esforço de superação para o outro. Sabe aquela velha frase sobre precisarmos fazer a trilha com os calçados e a mochila do outro para compreendermos de fato os desafios que existem no seu caminhar? Então, isso também se chama empatia.
Respeito ao processo de desenvolvimento da criança
Na relação com as crianças, se sobressai a ideia de que somos os mais desenvolvidos psicológica e emocionalmente e que para tanto, a criança está no lugar de que precisa de apoio para lidar com seus sentimentos e compreender a realidade que a cerca. Diante disso, algumas situações de cobrança por coisas que as crianças ainda não dão conta de fazer por si só, porque simplesmente não atingiram as condições necessárias, é algo agressivo e injusto.
Ao invés de reagir, de rebater, de amenizar as emoções e até colocá-las em situações de invalidez, precisamos ver cada momento como uma ordem de aprendizagem e desenvolvimento, pois o currículo da Educação Infantil é composto pelo que é vivido nesses espaços de construção de boas relações. As estratégias do planejamento precisam prever abordagens que nos aproximam do modo como pequenos de cada faixa etária percebem o mundo e se relacionam com ele, sempre permeados pelos eixos das interações e brincadeiras.
Professor como mediador
Entre as crianças é fundamental o papel mediador do professor, no sentido de apoiá-las em seus diálogos desenvolvendo a empatia e a solidariedade. Nossos gestos dizem muito mais que palavras, então, é fundamental colocar-se na posição de escuta respeitosa aos anseios de cada um.
Existem aprendizagens essenciais dentro das situações de conflito, tanto que temos no campo de experiência do Eu, o Outro e o Nós objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que tratam de maneira específica sobre essa questão.
Quando os profissionais da escola, desde a gestão, agem de maneira educativa, inclusive na relação que estabelece com as famílias, as crianças são diretamente impactadas. Quando se estabelece uma relação de confiança mútua, ainda que ocorra situações de impasse e divergência, o movimento será sempre de respeito à individualidade de cada um, sem disputa, pois na escola cada um ganha, quando todos ganham.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.