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Por que o Brasil ‘perdeu’ 10 milhões de habitantes com o Censo?
Oficialmente, até a manhã de hoje, o Brasil tinha 213,3 milhões de moradores, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas a divulgação do Censo fez com que essa população “encolhesse” em 10,3 milhões de habitantes. O novo número oficial é de 203 milhões de pessoas vivendo no país.
Mas como isso foi possível?
Isso ocorre porque todos os anos o IBGE faz uma estimativa da população dos municípios, que serve como referência para o destino de verbas federais e outros programas que levam como base o número de moradores das cidades. As projeções são publicadas no Diário Oficial da União.
Apesar de ser um dado oficial, trata-se de uma estimativa que tem como parâmetro o Censo de 2010. É com base naqueles dados que os demógrafos fazem um modelo matemático que tenta prever o crescimento anual da população.
Crescimento menor do que o estimado. No caso de 2010, o Censo apontou uma taxa de crescimento anual da população de 1,17%. Entretanto, o Censo 2022 mostrou que o ritmo de crescimento entre 2011 e 2022 foi bem menor, de 0,52%. Isso fez as previsões se equivocarem.
A partir de agora, o dado oficial passa a ser o Censo. Nele, todos os domicílios do país são visitados. Por conta disso, as estimativas a partir de 2011 serão revistas.
Perdas acima de 10% em mais de mil cidades
O UOL comparou os dados da estimativa oficial com o Censo e viu casos de diferenças gritantes, seja para mais, seja para menos.
Ao todo, 534 municípios tiveram ganho populacional acima de 10% – entre a estimativa de 2021 para o Censo de 2022. Já 1.236 tiveram perdas acima desse patamar e, por tabela, devem perder recursos de forma imediata.
As cinco cidades que mais perderam proporcionalmente:
- Santana do Araguaia (PA) – 75.995 (estimativa de 2021) para 32.413 (Censo 2022)
- Ipixuna do Pará (PA) – 67.170 para 30.329
- São Félix do Xingu (PA) – 135.732 para 65.418
- Catarina (CE) – 21.041 para 10.243
- Manaquiri (AM) – 33.981 para 17.107
As cinco cidades que mais ganharam proporcionalmente:
- Japurá (AM) – 1.755 (2021) para 8.858 (2022)
- Jacareacanga (PA) – 6.952 para 24.042
- Severiano Melo (RN) – 1.743 para 5.487
- Maetinga (BA) – 2.386 para 6.973
- Campos Verdes (GO) – 1.526 para 4.005
E por que temos estimativas?
Como o governo federal adota o critério populacional para repassar alguns recursos, a atualização dos dados é necessária para que cada ente seja contemplado com sua cota-parte.
A principal receita impactada é o FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que muitas vezes é a maior fonte de recursos de cidades de pequeno porte e sem arrecadação própria.
A divulgação dos dados sempre gera críticas de prefeituras, que reclamam quando há queda de população e consequente redução de repasses federais.
O presidente do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, afirma que o órgão já está acostumado com os questionamentos.
Sempre que tem divulgação [de Censo], temos problemas, especialmente nos municípios de até 170 mil moradores. Temos de conviver com isso fazendo as respostas devidas e acatando as decisões judiciais.”
Cimar Azeredo Pereira, presidente do IBGE
Pereira diz que, durante a fase de captação de dados, os municípios que reclamaram dos dados anteriores foram chamados para reuniões de planejamento e acompanhamento.
Ao fim, nós chamamos vereadores e a prefeitura para falar. Mas o Censo é para a gente trocar a narrativa pela evidência. Acabamos com eu acho que tenho ‘x’ mil habitantes; pela certeza, porque fomos lá e contamos a população”.
Cimar Azeredo Pereira
Ele defende que haja uma mudança no cálculo para que a redução apontada não tenha grande impacto
Esse modelo de distribuição [do FPM] não é nada bom para IBGE, cria uma animosidade entre prefeito e IBGE. Existem projetos de lei e propostas que já foram feitos para transformar escada em uma rampa [ou seja, não haja corte brusco, mas escalonado].”
Cimar Azeredo Pereira