Saúde
Imitando as próprias defesas do corpo para destruir vírus
Em vez de alvejar uma única proteína, a nova abordagem destrói a capa externa do vírus.
Peptoides
Assim como as bactérias podem desenvolver resistência aos antibióticos, os vírus também podem escapar dos tratamentos medicamentosos, geralmente por meio de mutações genéticas nas proteínas que usamos para combatê-los.
A boa notícia é que, imitando o modo como nosso sistema imunológico lida naturalmente com os invasores, pesquisadores acabam de desenvolver uma nova arma para evitar essa fuga dos patógenos às nossas defesas.
A nova terapia antiviral, que a equipe chama de “peptoide”, conseguiu inativar totalmente vários tipos diferentes de vírus em laboratório, o que é um resultado excepcional quando se leva em conta que as terapias atuais são desenvolvidas para vírus específicos e precisam ser atualizadas a cada mutação desses vírus.
Em vez de mirar nas conhecidas proteínas de pico, esta nova abordagem destrói os vírus alvejando determinados lipídios em suas membranas externas, que funcionam como camadas protetoras.
Isso abre caminho para uma nova geração de antivirais que conseguirão ignorar totalmente as proteínas de rápida mutação na superfície dos vírus, um problema que ficou conhecido com as mutações do vírus da covid-19, que deixam as vacinas menos eficazes.
Os peptoides não são facilmente degradados pelo corpo e são mais baratos de se fabricar.
Vírus envelopados
Os vírus são quase como “zumbis” biológicos: Eles não podem ser classificados como seres vivos e nem como não-vivos, só sendo capazes de se multiplicar dentro de um hospedeiro, como as células do nosso corpo. Muitas vezes o sistema imunológico destrói naturalmente os patógenos com moléculas especiais, como anticorpos.
Mas há outros membros menos conhecidos da força de defesa do sistema imunológico, como pequenas moléculas semelhantes a proteínas chamadas peptídeos antimicrobianos. Mas esses peptídeos não são bons candidatos a medicamentos porque são caros de produzir e são rapidamente eliminados do corpo, além de poderem causar efeitos colaterais.
Para fugir desses problemas, os pesquisadores têm tentado imitar a função dos peptídeos antimicrobianos usando moléculas feitas em laboratório. São essas moléculas que são chamadas peptoides, que têm como vantagens adicionais não serem facilmente degradadas pelo corpo e serem mais baratas de se fabricar.
Nesta pesquisa, Patrick Tate e colegas da Universidade de Nova York sintetizaram um peptoide que se mostrou capaz de destruir os vírus SARS-CoV-2, herpes, zika, febre do Vale do Rift e chikungunya. Atualmente, não existem tratamentos eficazes para infecções causadas por nenhum deles.
O peptoide destrói a camada externa dos vírus conhecidos como “envelopados”, que possuem uma membrana externa de proteção. A equipe agora pretende entender detalhadamente esse mecanismo de destruição da camada externa do vírus, e então usar esse conhecimento para desenvolver novos tratamentos antivirais baseados em peptoides.