Saúde
Herbicidas comuns prejudicam função cerebral dos adolescentes
Em experimentos realizados por outra equipe, o glifosato produziu doenças graves até na terceira geração de cobaias.
Agrotóxicos
Ser exposto a dois dos herbicidas mais populares piora a função cerebral dos adolescentes – os herbicidas são a classe de pesticidas mais utilizada em todo o mundo, com utilizações na agricultura, residências e indústria.
“Muitas doenças crônicas e perturbações de saúde mental em adolescentes e adultos jovens aumentaram nas últimas duas décadas em todo o mundo, e a exposição a contaminantes neurotóxicos no ambiente poderia explicar uma parte deste aumento,” justificou o professor José Ricardo Suarez, coordenador da pesquisa.
Os herbicidas são o glifosato e ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) e o repelente de insetos DEET.
Os pesquisadores mediram as concentrações de metabólitos dos pesticidas em amostras de urina coletadas de 519 adolescentes, de 11 a 17 anos, que moram na região agrícola de Pedro Moncayo (Equador). Os adolescentes também passaram por uma bateria de testes para avaliar seu desempenho neurocomportamental em cinco áreas: Atenção e controle inibitório, memória e aprendizagem, linguagem, processamento visuoespacial e percepção social.
As principais conclusões da análise foram:
- Quantidades mais elevadas de 2,4-D na urina foram associadas a um menor desempenho neurocomportamental nos domínios da atenção e controle inibitório, memória e aprendizagem, e linguagem.
- A concentração de glifosato na urina foi associada apenas a pontuações mais baixas na percepção social, enquanto os metabólitos do DEET não apresentaram associação com o desempenho neurocomportamental.
- O glifosato, um herbicida não seletivo utilizado em muitas culturas, incluindo milho e soja, e para controle da vegetação em ambientes residenciais, foi detectado em 98% dos participantes.
- O 2,4-D, um herbicida foliar utilizado em gramados, locais aquáticos e culturas agrícolas, foi detectado em 66% dos participantes.
Quando se trata dos agrotóxicos, não é só o ingrediente ativo que pode fazer mal.
Em experimentos realizados por outra equipe, o glifosato produziu doenças graves até na terceira geração de cobaias.
Neurotóxicos
Estudos anteriores relacionaram a exposição a alguns dos inseticidas mais utilizados à alteração do desempenho neurocognitivo, enquanto outros inseticidas também podem afetar o humor e o desenvolvimento do cérebro.
Hoje, 20% dos adolescentes e 26% dos jovens adultos têm problemas de saúde mental diagnosticáveis, como ansiedade, depressão, impulsividade, agressão ou distúrbios de aprendizagem.
“Centenas de novos produtos químicos são lançados no mercado a cada ano e mais de 80 mil produtos químicos estão registrados para uso hoje,” disse Suarez. “Infelizmente, sabe-se muito pouco sobre a segurança e os efeitos a longo prazo da maioria destes produtos químicos nos seres humanos. São necessárias pesquisas adicionais para compreender verdadeiramente o impacto.”