Nacional
Pesquisas – primeiro ano do governo Lula
A julgar pelos números de 2023, presidente despertou emoções positivas e negativas em proporções equivalentes
O desempenho de um governo pode ser aquilatado por diversos indicadores de suas realizações, ou de suas “entregas”, como se diz hoje em linguajar coloquial-moderno. A complexidade de mensuração desses indicadores e as múltiplas interpretações de que são passíveis constituem-se em campo fértil de discordâncias e juízos valorativos, tornando sua assimilação não raro incompreensível ao homem comum.
Não sem razão, pois, que as pesquisas de opinião em geral, e as eleitorais, em particular, ainda que com suas conhecidas imperfeiçoes, se popularizaram pela sua simplicidade de apreensão e por aferir o sentimento da população sobre os mais variados assuntos, incluindo o desempenho de governos. É a forma democrática de conferir as entregas das narrativas oficiais, ouvindo o lado da demanda, o lado do cidadão que elegeu seus representantes.
Com base nas pesquisas nacionais publicadas em 2023, os agregadores de pesquisas JOTA, PollingData e MCR, de acordo com suas metodologias próprias de compilação e ponderação, detectaram que a avaliação positiva (ótimo + bom) do governo Lula passou, em média, de 43,2% em janeiro para 36,4% em dezembro, enquanto a avaliação negativa (ruim + péssimo) manteve-se invariável, na faixa de 32%. O saldo das duas avaliações (positiva – negativa) diminuiu em 7,1 pontos percentuais entre janeiro e dezembro.
Quando vistos pelo ângulo da maneira de Lula governar, arguindo-se os cidadãos se aprovam ou desaprovam a performance do presidente, os mesmos agregadores mostram que o saldo (aprovação – desaprovação) também decresce em 6,2 pontos percentuais no mesmo lapso de tempo. Noutro dizer, computando o agregado de várias pesquisas, escusada a ausência de realce neste texto da riqueza de seus dados individuais, o desempenho de Lula no seu primeiro ano deixou a desejar, tanto quanto à avaliação de seu governo, quanto à sua forma de governar.
Entretanto, do ponto de vista estritamente numérico, com resultados relativamente próximos uns dos outros, a adversidade avaliativa das pesquisas no ano não configura nenhum desastre governamental. Na verdade, há estabilidade de desempenho desde o início do governo aos dias atuais. Neste contexto, pode-se dizer que a população consignou nota apenas regular ao governo Lula: não foi o que se esperava, notadamente vis-à-vis Lula 1 e Lula 2, mas também não foi uma decepção.
Mas em se tratando de primeiro ano de administração, período no qual o governante recebe créditos de confiança e afagos amorosos de lua-de-mel, fica-se com a sensação de certa incompletude de entregas, de certo fosso na agenda acordada, de certa dissonância cognitiva entre representantes e representado. É uma estabilidade que, paradoxalmente, incomoda.
Com efeito, a empolgação com Lula logo após a eleição e, especialmente, depois dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, foi dando lugar, paulatinamente, a um certo desencanto de parte da sociedade com a figura do presidente e com seu governo.
Esse sentimento apático, beirando talvez a desesperança, pode ser evidenciado empiricamente até entre os eleitores que votaram em Lula no segundo turno de 2022. De fato, segundo o PoderData, em janeiro deste ano 87% desses eleitores aprovavam a maneira do presidente governar. Agora em dezembro essa aprovação caiu para 74% (tendo 16% de desaprovação). Ainda entre os eleitores de Lula, a avaliação positiva do governo, que foi 75% em janeiro, despencou para 54% em dezembro (com 12% de ruim + péssimo).
Nessa esteira, fortificando as razões desse desânimo social, o Nordeste – histórica argamassa eleitoral que sustenta os pilares do lulopetismo – mostrou, através dos números de Datafolha, Ipec, Quaest, PoderData e Ipespe-Febraban, que da primeira pesquisa do ano de cada instituto para o levantamento de dezembro houve piora de avaliação e/ou aprovação do governo na região, e/ou no saldo das variáveis envolvidas. Exemplo mais marcante está na pesquisa da Quaest, em que a avaliação positiva do governo no Nordeste involuiu de 62% em fevereiro para 50% em dezembro.
Claro que as dificuldades que impedem melhor performance governamental no país são múltiplas, indo dos entraves de governabilidade impostos pelo centrão à “calcificação” da polarização social, passando pelas carências e déficits sociais e econômicos. Escapa ao espaço e à competência deste breve texto destrinchar esses aspectos, de resto já tratados em profusão por analistas políticos.
Aqui, basta lembrar Manuel Castells, para quem a neurociência tem demostrado que as pessoas são animais emocionais e que são suas emoções e sentimentos que determinam seu comportamento. Para Castells, o grande desafio do governante nas democracias liberais vai além de aplicar políticas públicas racionais, é desencadear emoções positivas nas pessoas, ao invés de emoções negativas.
A valer o julgamento da sociedade expresso pelas pesquisas deste ano, Lula despertou emoções positivas e negativas em proporções equivalentes. Os anos vindouros serão de mais cobranças ao presidente para desbalancear essas emoções.