Saúde
A maconha causa esquizofrenia? Entenda
Afinal, a maconha causa esquizofrenia? A relação entre a maconha e os transtornos psiquiátricos é complexa e mais pesquisas precisam ser feitas para um entendimento maior sobre os efeitos de curto e longo prazo da substância na mente humana.
No entanto, ao longo do tempo, algumas pesquisas e especialistas vêm sugerindo hipóteses de que o uso frequente de maconha pode causar esquizofrenia. De fato, o uso de substâncias psicoativas, como a maconha, pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de psicose uma condição que envolve a interrupção da interpretação da realidade e um dos sintomas característicos da esquizofrenia.
A primeira associação entre maconha e esquizofrenia
Acredita-se que a primeira vez que a maconha e a esquizofrenia foram associadas ocorreu no livro Hanish and Mental Illness, de 1845, do psiquiatra francês Jacques-Joseph Moreau. Nele, o especialista descrevia suas próprias experiências com o uso de maconha em um clube parisiense Club des Hachichins, além de notar as similaridades dos efeitos da cannabis à psicose.
Porém, a análise de Moreau não ofereceu comprovações científicas de sua descoberta. Mesmo em seu livro, essa foi apenas a primeira associação documentada da substância em relação a transtornos psiquiátricos.
Foi apenas séculos depois que pesquisas científicas começaram a analisar a possível conexão entre a maconha e a esquizofrenia.
Mas, afinal, a maconha causa esquizofrenia?
Em geral, a maconha e a esquizofrenia possuem um fator em comum: a psicose. Diversas pesquisas já comprovaram os possíveis efeitos psicóticos da droga devido ao seu conteúdo de THC. O THC, que significa delta-9-tetrahidrocanabinol, é o principal componente psicoativo da planta da maconha e causa a euforia ou brisa que muitas pessoas sentem após usá-la.
Contudo, embora a associação, as pesquisas científicas que tentam desvendar se a maconha causa esquizofrenia ainda são motivo de debate dentro da comunidade científica.
Em uma visão ampla, especialistas afirmam que o consumo exagerado de maconha, ou de outras drogas psicoativas, pode desencadear condições em pessoas pré-dispostas. Ou seja, pessoas com uma predisposição genética para a esquizofrenia podem ter um risco aumentado de desenvolvê-la após o abuso da substância.
Por outro lado, diversos outros fatores influenciam o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos como trauma e estresse. Ambos esses fatores, em conjunto com a predisposição genética também influenciam a probabilidade de um usuário de usar drogas como a maconha.
Devido às vulnerabilidades ambientais e genéticas, muitos dos estudos realizados sobre a associação do uso de cannabis aos casos de esquizofrenia precisam de análises mais detalhadas para determinar se, em que medida e para quem a cannabis pode causar ou contribuir para maus resultados de saúde mental.
Uso de cannabis associado à esquizofrenia em homens jovens
Uma pesquisa de 2023 providenciou novas evidências sobre a relação entre a maconha e a esquizofrenia. Nela, pesquisadores dinamarqueses reuniram históricos de saúde de 1972 a 2021 de 6,9 milhões de pessoas para tentar desvendar se a maconha causa esquizofrenia.
Foi descoberto que 30% dos diagnósticos de esquizofrenia poderiam ter sido evitados se os homens na faixa etária dos 21 aos 30 anos de idade não tivessem desenvolvido o consumo de cannabis.
A pesquisa não comprova, de fato, se a maconha causa esquizofrenia, mas contribuiu para o debate dentro da comunidade científica. Foi a partir dela que especialistas conseguiram argumentar que o aumento da concentração de THC na maconha, que subiu ao longo dos anos, contribuiu para mais casos da condição.
Dados da Dinamarca, por exemplo, ressaltam que a concentração da substância na maconha foi de 13% a 30% entre 2006 e 2013.
Descobrimos que a proporção de casos de esquizofrenia atribuíveis ao transtorno por uso de cannabis, e aqueles que poderiam ter sido evitados, era muito maior em homens do que em mulheres e, em particular, em homens mais jovens, nos quais o cérebro ainda está em maturação.
Vimos que esse aumento ocorreu ao longo do tempo, completamente em paralelo com o aumento da potência da cannabis, disse Carsten Hjorthøj, autor principal do estudo e professor associado dos Serviços de Saúde Mental da Região da Capital da Dinamarca e da Universidade de Copenhague.