CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Conseguiram instalar Windows 10 e 11 nativamente em celulares Android: veja modelos compatíveis e como funciona
Com a chegada da versão prévia do Android 13, foi descoberta a possibilidade de usar o Windows 11 em uma máquina virtual em um Google Pixel 6. Os usos práticos de tal novidade não são muitos, a priori, mas é sempre interessante ver como um sistema operacional de desktop completo pode rodar em hardware móvel de baixo consumo de energia, mesmo que seja em sua versão ARM.
Indo um pouco mais fundo no assunto, Antonio Saban, do site parceiro Genbeta, descobriu que embora essa nova função fosse nova no Android, o que ele sonhava quando o Windows para ARM foi lançado se tornou realidade: o Renegade Project (Projeto Renegade) conseguiu instalar o Windows 10 e 11 em smartphones Android, sem truques como máquinas virtuais.
A lista de dispositivos é pequena (15), mas o sistema roda nativamente e com dual boot com Android, assim como Saban imaginou que alguma fabricante pudesse lançar em algum momento. O diretor do Genbeta e do Xataka Home não conseguiu testar em primeira mão por não ter um aparelho compatível, mas assistiu a vídeos e se inteirou sobre o assunto.
Conseguiram instalar Windows 10 e 11 nativamente em celulares Android: veja modelos compatíveis e como funciona© Fornecido por IGN BrasilRenegade Project permite rodar Windows nos celulares
Os responsáveis pela façanha de ter conseguido rodar o Windows 10 e 11 nativamente em smartphones Android são o Renegade Project. Eles aproveitaram as semelhanças entre o Snapdragon 850, chip para laptops, e o Snapdragon 845, voltado para smartphones, que compartilham uma plataforma.
A equipe conseguiu fazer o Windows funcionar em terminais com aquele SoC, entre os quais estão alguns modelos como populares como Samsung Galaxy S9 (versão com Qualcomm), Xiaomi Mi 8, Xiaomi Mi Mix 3, OnePlus 6 e 6T, Pocophone F1, Mi Mix 2s, etc. A eles se somam outros modelos com Snapdragon 835 e 855, como OnePlus 7 ou Xiaomi Mi 9. Claro, como expressa uma nova lista, muitos deles não possuem mais desenvolvimento ativo.
No site dos dispositivos você pode conferir todos os modelos compatíveis, e o que funciona e o que não funciona (as câmeras, por exemplo, não possuem drivers e não funcionam). O processo de instalação, detalhado no site de suporte, não é muito complicado, embora exija domínio de ferramentas como fastboot, TWRP Recovery e outras.
Em canais do YouTube, como o chinês Geekerwan (vídeo acima), podemos ver bem do que são capazes esses smartphones com Windows 11. Os testes foram voltados para jogos, e eles conseguem rodar títulos como CS:GO com certa fluidez, deixando imagens como duas pessoas jogando este jogo de tiro, cada uma com seu celular, e com teclado e mouse graças ao suporte USB desses terminais e, claro, do Windows 11.
Em dispositivos como o OnePlus 6T que eles usam para o teste, o Windows 11 reconhece 8 GB de RAM, tudo o que o terminal tem em suas entranhas. É um bom sinal porque mostra que para determinadas utilizações o hardware de um celular moderno pode ser mais que suficiente. Esse pensamento é reforçado quando, além dos jogos, são realizados testes de desempenho.
No Cinebench R23, por exemplo, o OnePlus 6T e seu Snapdragon 845 alcançam 254 pontos de CPU em single core e 1011 pontos em multi core. Por se tratar de um aplicativo x86 emulado em um sistema operacional ARM, o Windows 11 aqui está no nível multi-core de um Intel i5-4200U de 2013, que ainda é tão utilizável quando equipado com um SSD em laptops da época.
Rodando o Geekbench 5 em sua versão ARM, ou seja, movendo nativamente, o Snapdragon 845 desses OnePlus chega a 1746 pontos em multi-core e 467 pontos em single-core. Comparando com o desempenho do 845 em um OnePlus 6 no Android, descobrimos que em multi-core, o Geekbench 5 é 28% mais rápido que no Windows.
Mesmo assim, e embora possa não parecer muito, estamos falando de números do Windows comparáveis aos que Saban obteve em testes de desempenho e eficiência com um MacBook Air M1 com apenas os núcleos de alta eficiência ativados. E com esse poder, o sistema ficou totalmente utilizável, embora visivelmente mais lento do que com os núcleos de alto desempenho também ativados.Smartphones com Windows Lista de dispositivos compatíveis com o Projeto Renegade (Imagem: Renegade Project/Reprodução)
Legenda:Y = Suportado e disponível N = Não suportado atualmente P = Problemático, suporte parcial W = Será suportado, sob teste ou sendo portado U = Status desconhecido N/A = Não disponível Conectar a uma tela ainda é um problema pendente
Talvez a coisa mais triste sobre o estado de execução do Windows 11 hoje seja a impossibilidade de conexão a telas externas maiores (na maioria dos modelos) para realmente aproveitar as vantagens do sistema. E não é tanto por uma limitação do Windows no ARM, mas sim pelos dispositivos, que na maioria dos casos não incluem saída de vídeo via USB-C. O que eles conseguiram fazer foi espelhar a tela via Wi-Fi para televisores que suportam Miracast, por exemplo, mas a latência é alta.
Todas as possibilidades abertas pelo Windows 11 em um smartphone apenas nos lembram das promessas do Ubuntu Phone, Continuum no Lumia e Samsung DeX. Nenhuma grande empresa além da Samsung aposta em aproveitar os poderosos processadores dos smartphones para aplicações complexas fora do iOS e Android, apesar de existirem todas as possibilidades no mundo.
A Apple, com seus M1-M3, que ainda são chips móveis aprimorados, mostrou que o mercado de desktops pode ser revolucionado com peças móveis de baixo consumo de energia. Agora só falta que eles apliquem a lógica ao contrário, ou seja, que seus sistemas móveis adquiram todas as capacidades do desktop. É provavelmente uma questão de tempo e de interesses, mas a realidade é que a convergência está muito distante ao ritmo a que estamos a caminhar. Os iPhones mais recentes contribuíram pouco ou nada nesse sentido.