Internacional
Pouca chance de fuga para os residentes de Rafah
A vida continua difícil para os palestinos deslocados em Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito. Segundo o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, já há uma data para uma nova ofensiva israelense
“Vai acontecer. Há uma data”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em uma mensagem transmitida por vídeo na segunda-feira (08/04). Ele se referia aos planos de uma nova ofensiva militar israelense de larga escala em Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza. Ele não deu maiores detalhes e nem uma data específica.
Nas últimas semanas, o premiê israelense disse repetidamente que a cidade na fronteira com o Egito é o último reduto do Hamas e que tal ofensiva é inevitável para declarar vitória sobre o grupo militante, que é listado como organização terrorista por diversos países.
O novo anúncio desafia as enormes críticas internacionais em relação aos planos de operações terrestres. Mais de um milhão de palestinos — mais da metade da população de Gaza — buscaram refúgio na cidade, que tem sido repetidamente bombardeada. Rafah é também o principal centro logístico de envio de ajuda a Gaza a partir do Egito.
Enquanto isso, no domingo, as forças terrestres da 98ª Divisão de Israel retiraram-se de Khan Younis, outra cidade do sul, deixando apenas uma brigada no norte de Gaza para controlar um corredor recém-criado no centro de Gaza separando o norte do sul. Moradores de Khan Younis, deslocados para Rafah, foram vistos voltando para ver o que restou da cidade.
“A operação da Divisão na área de Khan Younis seguiu seu curso e, na próxima fase, as FDI (Forças de Defesa de Israel) vão realizar mais operações baseadas em inteligência, como ataques direcionados”, disse Guy Aviad, historiador militar e pesquisador, acrescentando que “a distância entre Israel e Gaza é muito curta, entre 2 e 4 quilômetros, eles podem entrar na área a qualquer momento”.
Rafah deveria ser um lugar mais seguro, mas nunca foi, disse Loay Fareed, deslocado várias vezes com a sua família desde o início da guerra.
“Há bombardeios quase todos os dias, e a frequência aumenta a cada dia”, disse Fareed, 46 anos, à DW por telefone de Rafah.
Fareed está entre cerca de 1,5 milhão de pessoas que atenderam ao apelo dos militares israelenses para evacuarem para o sul de Gaza – especificamente Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, na fronteira com o Egito. Isto foi para evitar a operação militar contra o Hamas, o grupo militante islâmico que realizou os ataques de 7 de outubro e fez 240 pessoas como reféns. A ofensiva planejada contra a cidade ofuscou a luta diária pela sobrevivência.
“Meus filhos estão assustados com a notícia que fala de uma invasão iminente da cidade. Eles me perguntam o que faremos e para onde iremos, mas não tenho resposta para eles”.
Antes da guerra, a pequena cidade abrigava cerca de 250 mil pessoas e era mais conhecida por sua passagem de fronteira com o Egito. Agora quase não há espaço dentro dos limites da cidade, pois os residentes de outras partes de Gaza procuraram abrigo lá, partilhando casas, vivendo em tendas ou carros ou dormindo em acomodações improvisadas na calçada.
“A vida que levamos em Rafah é indescritível. É uma vida de deslocamento, uma vida que se pode chamar do que quiser, mas não é normal”, disse Fareed.
A cidade parece “estrangeira”, disse ele. “Não estamos em nossa casa, nem em nossa vizinhança, nem entre nossos vizinhos ou amigos. Não podemos continuar assim por muito mais tempo.”
Apoio e condenação da ofensiva em Rafah
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu gabinete de guerra foram inflexíveis de que prosseguirão com os planos de uma operação em Rafah para “eliminar” quatro batalhões do Hamas, que Israel, os Estados Unidos, a União Europeia e outros consideram uma organização terrorista. Acredita-se que os militantes do Hamas estão dispersos entre os civis deslocados e em túneis subterrâneos.
Mas os planos de ofensiva atraíram duras críticas em todo o mundo, especialmente por parte dos EUA, o aliado mais próximo de Israel e seu maior fornecedor de armas. Autoridades norte-americanas alertaram que tal ofensiva seria um “erro” sem um plano credível para realocar e proteger os civis.
“Vai acontecer. Há uma data”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em uma mensagem transmitida por vídeo na segunda-feira (08/04). Ele se referia aos planos de uma nova ofensiva militar israelense de larga escala em Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza. Ele não deu maiores detalhes e nem uma data específica.
Nas últimas semanas, o premiê israelense disse repetidamente que a cidade na fronteira com o Egito é o último reduto do Hamas e que tal ofensiva é inevitável para declarar vitória sobre o grupo militante, que é listado como organização terrorista por diversos países.
O novo anúncio desafia as enormes críticas internacionais em relação aos planos de operações terrestres. Mais de um milhão de palestinos — mais da metade da população de Gaza — buscaram refúgio na cidade, que tem sido repetidamente bombardeada. Rafah é também o principal centro logístico de envio de ajuda a Gaza a partir do Egito.
Enquanto isso, no domingo, as forças terrestres da 98ª Divisão de Israel retiraram-se de Khan Younis, outra cidade do sul, deixando apenas uma brigada no norte de Gaza para controlar um corredor recém-criado no centro de Gaza separando o norte do sul. Moradores de Khan Younis, deslocados para Rafah, foram vistos voltando para ver o que restou da cidade.
“A operação da Divisão na área de Khan Younis seguiu seu curso e, na próxima fase, as FDI (Forças de Defesa de Israel) vão realizar mais operações baseadas em inteligência, como ataques direcionados”, disse Guy Aviad, historiador militar e pesquisador, acrescentando que “a distância entre Israel e Gaza é muito curta, entre 2 e 4 quilômetros, eles podem entrar na área a qualquer momento”.
Rafah deveria ser um lugar mais seguro, mas nunca foi, disse Loay Fareed, deslocado várias vezes com a sua família desde o início da guerra.
“Há bombardeios quase todos os dias, e a frequência aumenta a cada dia”, disse Fareed, 46 anos, à DW por telefone de Rafah.
Fareed está entre cerca de 1,5 milhão de pessoas que atenderam ao apelo dos militares israelenses para evacuarem para o sul de Gaza – especificamente Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, na fronteira com o Egito. Isto foi para evitar a operação militar contra o Hamas, o grupo militante islâmico que realizou os ataques de 7 de outubro e fez 240 pessoas como reféns. A ofensiva planejada contra a cidade ofuscou a luta diária pela sobrevivência.
“Meus filhos estão assustados com a notícia que fala de uma invasão iminente da cidade. Eles me perguntam o que faremos e para onde iremos, mas não tenho resposta para eles”.
Antes da guerra, a pequena cidade abrigava cerca de 250 mil pessoas e era mais conhecida por sua passagem de fronteira com o Egito. Agora quase não há espaço dentro dos limites da cidade, pois os residentes de outras partes de Gaza procuraram abrigo lá, partilhando casas, vivendo em tendas ou carros ou dormindo em acomodações improvisadas na calçada.
“A vida que levamos em Rafah é indescritível. É uma vida de deslocamento, uma vida que se pode chamar do que quiser, mas não é normal”, disse Fareed.
A cidade parece “estrangeira”, disse ele. “Não estamos em nossa casa, nem em nossa vizinhança, nem entre nossos vizinhos ou amigos. Não podemos continuar assim por muito mais tempo.”
Apoio e condenação da ofensiva em Rafah
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu gabinete de guerra foram inflexíveis de que prosseguirão com os planos de uma operação em Rafah para “eliminar” quatro batalhões do Hamas, que Israel, os Estados Unidos, a União Europeia e outros consideram uma organização terrorista. Acredita-se que os militantes do Hamas estão dispersos entre os civis deslocados e em túneis subterrâneos.
Mas os planos de ofensiva atraíram duras críticas em todo o mundo, especialmente por parte dos EUA, o aliado mais próximo de Israel e seu maior fornecedor de armas. Autoridades norte-americanas alertaram que tal ofensiva seria um “erro” sem um plano credível para realocar e proteger os civis.
O Egito também manifestou preocupação com o fato de os planos possivelmente envolverem a tomada de controle pelo exército israelense do Corredor Philadelphi, uma estreita faixa de terra entre o Egito e Gaza, e a pressão de civis em busca de segurança contra a sua fronteira.
Até agora, tais críticas parecem não ter incomodado o primeiro-ministro israelense ou a população do país. Uma sondagem recente realizada pelo Israel Democracy Institute, um grupo de reflexão independente com sede em Jerusalém, sugere que cerca de três quartos dos judeus israelenses apoiam uma expansão das operações militares em Rafah, enquanto dois terços da população árabe de Israel se opõem a tal medida.
“A opinião pública israelense depois de 7 de outubro estava muito unida em alguns aspectos. Um deles, claro, é trazer todos os reféns para casa, e o outro é acabar com o domínio do Hamas na Faixa de Gaza”, disse à DW Avi Melamed, ex-oficial da inteligência israelense e conselheiro para assuntos árabes.
Autoridades americanas, por sua vez, defendem um plano alternativo centrado em ataques de precisão contra alvos do Hamas, em vez de uma ofensiva em grande escala.
Os EUA, juntamente com o Egito e o Qatar, tentaram negociar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas que evitaria uma operação em Rafah e levaria à libertação de mais reféns israelenses. As conversações ainda não resultaram num acordo, e umaresolução recente do Conselho de Segurança da ONU, que os EUA não vetaram, aumentou a pressão.
No entanto, apesar da disputa diplomática sobre a condução da guerra por Israel e a operação Rafah, relatos da imprensa americana falam de um possível acordo de armas para fornecer caças F-35 e armamentos adicionais a Israel.
“Não espero que Israel execute [a operação Rafah] sem uma cooperação e coordenação muito estreitas com os Estados Unidos, especialmente no contexto de lidar com a questão dos civis em Rafah”, diz Melamed.
Pouca chance de fuga para os residentes de Gaza em Rafah
Oficiais militares israelenses indicaram a repórteres que os civis seriam transferidos para “zonas protegidas”. Contudo, ainda não está claro como e para onde tantas pessoas exaustas após seis meses de guerra seriam evacuadas.
“Não conheço os planos operacionais das FDI. Mas se olharmos no mapa, não há outra maneira a não ser evacuá-los para o norte, ao longo da estrada costeira perto do mar, para o meio, na Faixa de Gaza”, disse Guy Aviad, historiador e pesquisador militar israelense, à DW.
“Mas essa área está devastada. Não há infra-estrutura e é preciso abastecer uma enorme população com água, tendas [e] alimentos. Trata-se de um problema muito grave.”
Vários trabalhadores humanitários da ONU que pediram para não serem identificados disseram à DW que cerca de 800 mil a um milhão de pessoas serão forçadas a se deslocar. Muito provavelmente, elas serão enviadas em direção ao centro de Gaza, perto da costa marítima, mas para sul do novo corredor militar, que separa o norte de Gaza do sul.
Embora haja mais pressão internacional, pouco mudou para os 2,3 milhões de habitantes de Gaza. Seis meses de guerra deixaram mais de 33 mil mortos no enclave, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. O cerco de Israel também trouxe a fome, especialmente no norte de Gaza, segundo agências humanitárias e as Nações Unidas.
O residente de Gaza, Fareed, disse que tomou a difícil decisão de deixar Gaza e levar a sua família para um local seguro. Ele se registrou para viajar ao Egito através da travessia de Rafah, pedindo dinheiro emprestado a amigos e parentes para pagar as custosas taxas de registro.
“Todos os dias, meus filhos me perguntam quando será a hora de viajar. Não vemos a hora de escapar desse inferno, mesmo que apenas temporariamente.”
A maioria das pessoas, disse ele, perdeu as esperanças de um cessar-fogo e teme que uma operação em Rafah comece logo após o fim do Ramadã.
“Há um discurso político contínuo sugerindo que a invasão de Rafah é apenas uma questão de tempo, possivelmente depois do Eid, independentemente de um cessar-fogo ser alcançado. Devemos partir antes que isso aconteça”, disse Fareed.
Mas para a maioria dos habitantes de Gaza, partir não é uma opção, pois eles permanecem presos no enclave sitiado.