ECONOMIA
Câmbio: Dólar fecha em alta, puxado por ata do Fed e declarações de Haddad
A junção dos fatores fez a moeda fechar em seu maior valor de fechamento dos últimos 10 dias
O dólar fechou em alta de 0,78%, cotado a R$ 5,15 — maior valor de fechamento em cerca de 10 dias. Isso teve impacto direto da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), divulgada nesta tarde, e tida como hawkish (dura, propensa ao aumento dos juros) pelo mercado.
Além disso, o real foi impactado pela piora na percepção de risco doméstico após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta de inflação e a política fiscal do Brasil.
Ata do Federal Reserve
A ata do Federal Reserve (Fed), divulgada à tarde, trouxe um tom mais duro que o esperado. Os dirigentes do Banco Central dos EUA reiteraram a necessidade de mais confiança no processo de desinflação para reduzir os juros e consideraram a possibilidade de elevar a taxa básica caso a inflação suba novamente.
O CME Group, que monitora as expectativas do mercado, passou a mostrar uma maior probabilidade de o Fed realizar apenas um corte de 25 pontos-base nos juros este ano, em vez dos 50 pontos-base previstos anteriormente.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, existe um descolamento “chocante” na ata entre o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e o conteúdo do documento, que se mostrou mais condizente com a alta do que com o corte dos juros.
Reação do mercado
Apesar da piora das bolsas em Nova York e da aceleração dos ganhos do dólar em relação a outras moedas, a taxa de câmbio no Brasil se manteve estável ao redor de R$ 5,15. Pela manhã, a cotação chegou a R$ 5,1641.
Borsoi disse que a ata do Fed não levou o dólar a novas máximas no mercado doméstico porque o real já estava enfraquecido desde o início do dia. O peso chileno, por exemplo, caiu mais de 2% devido à baixa nos preços do cobre e a um movimento de realização de lucros.
Declarações de Haddad
Em audiência na Câmara dos Deputados, Haddad mencionou a dificuldade de alcançar uma meta de inflação mais baixa devido à insensibilidade dos índices de preços à taxa de juros. Suas declarações reacenderam o debate sobre a possível elevação da meta de inflação, justamente quando há discussões sobre a postura do Banco Central a partir de 2025.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) ainda não publicou o decreto alterando o regime de meta de inflação anual para um modelo contínuo, com alvo de 3%, a partir de 2025. Caso a regulamentação não seja publicada até o fim de junho, o CMN precisará definir na reunião do próximo mês a meta de inflação anual para 2027.