Internacional
Na ONU, Moçambique cita experiência em contraterrorismo e solução de conflitos
Ministra dos Negócios Estrangeiros defende inclusão de jovens e mulheres no diálogo pela estabilização e para prevenir conflitos; chefe da diplomacia pede maior aposta internacional em reduzir riscos na economia, promover educação e aumentar consciência em áreas propensas a conflitos
A experiência moçambicana em lidar com grupos terroristas pode trazer importantes lições para resolução de conflitos internacionais. A opinião é da ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Verónica Macamo.
Em Nova Iorque, a chefe da diplomacia do país que presidiu o Conselho de Segurança em maio encontrou-se com o secretário-geral das Nações Unidas fechando sua agenda do mês da presidência rotativa do órgão.
Formas de encontrar uma solução
Esta semana, Macamo liderou um debate sobre o papel das mulheres e dos jovens na manutenção da paz e segurança internacionais e falou da ação de grupos armados não estatais ativos na província moçambicana de Cabo Delgado, no extremo norte.
Em conversa com a ONU News, a ministra defendeu que o envolvimento de representantes jovens e de sexo feminino no diálogo pela estabilização, porque acredita que eles têm uma voz determinante para prevenir conflitos.
“Quando se deve tomar uma decisão sobre efetivamente pôr termo à guerra todos devemos ser unânimes. Quando houver alguma descontinuidade, todos vamos saber que é preciso encontrar formas de buscar uma solução para que não se entre em guerra. Estamos a falar de terrorismo. É uma coisa atípica porque não tem cara e não sabemos quem é, ao contrário das guerras que acontecem no mundo e têm líder de um lado e do outro. É só uma questão de se sentarem. Por vezes podem não nos compreender aqui nas Nações Unidas quando se discutem questões ligadas à Rússia e à Ucrânia. Devem sentar-se com responsabilidade e ter a preocupação de ver a questão resolvida.”
Macamo destacou ainda a importância de um intercâmbio entre diferentes gerações para se evitar uma percepção de marginalização que possa levar ao aliciamento e à radicalização em vários contextos.
Essas medidas devem ser acompanhadas por planos para tratar as vítimas de deslocamento e oferecer um estímulo da atividade econômica nas regiões afetadas ou propensas a conflitos.
Ministra defendeu que o envolvimento de representantes jovens e de sexo feminino no diálogo pela estabilização
“Pensamos que não são somente as armas e as balas que vão calar o terrorismo em Moçambique. Olhamos para o terrorismo, sim, e que é preciso neutralizar os que querem matar, destruir e fazer mal ao povo. Isso é importante. Mas também é importante tratar as populações que são vítimas. Temos deslocados. Agora cada vez menos. Nós já tivemos 850 mil deslocados. Imagina o drama que isso foi para o governo. Felizmente, não tivemos pessoas que morressem por falta de comida, de cuidado ou de atenção. Era preciso prover tudo. Elas saíram sem nada e carregavam o seu presente e futuro nas cabeças”.
Fragilidade, educação e aumento de consciência
A ministra sublinhou ainda que é essencial garantir emprego para pessoas em situação de fragilidade, uma educação continua e ações para aumentar a consciência evitando que jovens sejam novas “presas por causa da pobreza”.
Outra medida sugerida por Moçambique é a capacitação das forças de defesa e segurança em questões de direitos humanos para atuarem em áreas onde existe potencial de conflito.
Além do líder da ONU, Macamo interagiu com a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, o secretário-geral assistente para os Assuntos da Juventude e a diretora-executiva da ONU Mulheres.