Nacional
Mesmo com ministérios e emendas, partidos aliados reduzem apoio ao governo Lula no Congresso
Por Roberto Tomé
Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta uma realidade desafiadora no Congresso Nacional. Mesmo com a experiência acumulada em seus mandatos anteriores, o líder petista se depara com dificuldades significativas para aprovar projetos que transcendem a agenda econômica. A recente votação no Congresso, que resultou em derrotas importantes, evidenciou a necessidade de reorganização da articulação política do governo.
Um levantamento feito pelo Portal Informa Paraíba revela que partidos aliados, mesmo com ministérios sob seu comando, têm seguido menos as orientações do Executivo. Em comparação a 2023, a taxa de adesão desses partidos às diretrizes do governo caiu consideravelmente.
Queda no apoio dos principais partidos aliados:
PSD
O PSD, responsável por três ministérios importantes (Minas e Energia, Agricultura e Pesca), ilustra bem essa mudança. A fidelidade do partido às orientações governamentais caiu de 86% em 2023 para 74% em 2024. Um exemplo dessa dissonância ocorreu em maio, quando o partido votou majoritariamente contra um destaque do PT no projeto anti-MST.
MDB
O MDB, que comanda os ministérios dos Transportes, Cidades e Planejamento, viu sua taxa de apoio cair de 81% para 69% no mesmo período. Segundo o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (MDB-SP), o partido tem cumprido seu papel nas pautas econômicas prioritárias, mas enfrenta dificuldades em manter a unidade devido à diversidade de suas bancadas, incluindo membros que ainda possuem vínculos com o ex-presidente Jair Bolsonaro, como o ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS).
Republicanos
O Republicano, que controla o Ministério de Portos e Aeroportos, também registrou uma queda na adesão às orientações do governo, de 77% em 2023 para 70% este ano. O vice-líder da legenda na Câmara, Lafayette de Andrada (Republicano-MG), justifica a queda como uma coincidência dos temas votados, destacando a postura independente do partido.
União Brasil e PP
O União Brasil e o PP, ambos com ministérios no governo, também mostraram uma redução no apoio às pautas governamentais. A taxa de alinhamento do União Brasil caiu de 71% para 63%, enquanto a do PP diminuiu de 75% para 65%. O líder do União Brasil, Elmar Nascimento (União – BA), mencionou que questões sociais controversas, como o aborto e a “saidinha” de presos, são monitoradas de perto pelos eleitores, dificultando o controle do governo sobre os votos.
Eficácia das emendas parlamentares sob questionamento
Mesmo com um aumento na liberação de emendas parlamentares — R$ 19,8 bilhões até o momento — a adesão dos partidos não acompanhou a liberação desses recursos. Em abril, o governo federal empenhou R$ 13 bilhões, mas, em maio, enfrentou um dos piores desempenhos na Câmara. Isso sugere que a estratégia de liberar emendas, tradicionalmente utilizada para garantir apoio, não tem surtido o efeito desejado.
As emendas especiais, popularmente conhecidas como “Emendas PIX”, e as emendas de comissão não foram repassadas com a mesma velocidade, o que pode estar contribuindo para a falta de apoio consistente no Congresso. Até agora, não houve empenhos significativos das transferências especiais, e das emendas de comissão, apenas R$ 3,4 bilhões dos R$ 15,3 bilhões previstos foram empenhados.
Estratégias para fortalecer a base aliada
Diante desse cenário, aliados de Lula defendem a necessidade de encontros regulares entre o presidente e os líderes dos partidos aliados para consolidar a base no Congresso. Jaques Wagner, líder do governo no Senado, sugere uma abordagem mais direta, cobrando um comprometimento mais firme dos partidos.
Com projetos cruciais como a regulamentação da reforma tributária e o Mover, que inclui a “taxa da blusinha”, em tramitação, a urgência para reorganizar a base e garantir apoio é evidente. O sucesso desses projetos depende da habilidade do governo em articular melhor sua base aliada e assegurar que os interessem políticos e as necessidades do país sejam equilibradas de maneira eficaz e eficiente.
Conclusão
O governo Lula enfrenta desafios consideráveis para manter o apoio de seus aliados no Congresso, mesmo com a distribuição de ministérios e a liberação de emendas parlamentares. A queda na adesão dos partidos às diretrizes do Executivo destaca a necessidade de uma reorganização estratégica na articulação política. Com importantes projetos legislativos em jogo, a habilidade do presidente e de seus aliados em navegar este cenário político complexo será crucial para o avanço da agenda governamental.