CIÊNCIA & TECNOLOGIA
SpaceX acaba de deixar seus rivais na pré-história: Starship está a um passo de ter foguete 100% reutilizável
Starship, o foguete mais alto e pesado da história, pousou pela primeira vez sem explosões na quarta tentativa. Ainda há um longo caminho a percorrer até que esta seja a nave que nos levará à Lua e a Marte, mas de uma coisa podemos ter certeza: a SpaceX acaba de deixar sua concorrência na pré-história dos lançamentos espaciais.
Tudo o que Starship mostrou com o teste de lançamento 1. A confiabilidade dos motores Raptor
Esta foi uma das partes mais delicadas do programa Starship desde antes de adotar esse nome. A câmara de combustão do Raptor atinge pressões superiores às de qualquer outro motor de foguete, produzindo uma combustão limpa através do uso de metalox (metano e oxigênio líquido).
O verdadeiro problema é que a Starship carrega 39 desses motores, e muitos deles falharam no primeiro lançamento. Porém, as dúvidas que se consolidaram naquele primeiro voo desapareceram. No quarto lançamento da Starship, um motor Raptor do estágio Super Heavy falhou segundos após a ignição, mas isso não afetou em nada o desempenho do foguete. O mesmo aconteceu com as reinicializações para pouso.
SpaceX acaba de deixar seus rivais na pré-história: Starship está a um passo de ter foguete 100% reutilizável© Fornecido por IGN Brasil
Já se foi o tempo em que os protótipos da Starship pareciam tanques de água mal acabados. A fabricação continua sendo feita em tempo recorde com aço inoxidável, mas não há mais dúvidas de que se trata de um projeto bastante sólido. O foguete já tinha dado pistas em seu primeiro vôo, quando – após não conseguir separar os estágios – a Starship de 120 metros e 5 mil toneladas começou a girar fora de controle sem quebrar em nenhum ponto.
Porém, o feito mais impressionante veio com o quarto voo. A Starship cruzou a atmosfera a mais de 20 mil km/h. Perdeu várias peças do escudo térmico e ainda conseguiu o seu objetivo de ligar os motores e simular uma aterragem no Oceano Índico mesmo assim.3. A integridade estrutural da plataforma
O primeiro voo de teste da Starship destruiu a plataforma de lançamento. Um defletor de chamas com jatos d’água de alta pressão, novos reforços no solo e melhorias em toda a infraestrutura terrestre (chamada estágio zero) resolveram todos os problemas.
Não só isso. Agora a SpaceX é capaz de abastecer a Starship com combustível e oxidante em tempo recorde. Cerca de 45 minutos para encher a nave e o propulsor Super Heavy, que carrega 4.600 toneladas de metano e oxigênio líquido.4. A capacidade do Super Heavy de pousar
A SpaceX pousou mais de 300 vezes com o Falcon 9, mas o propulsor de 70 metros de altura da Starship é outra história. Nos dois últimos voos, o Super Heavy não conseguiu religar vários de seus motores devido a um bloqueio no filtro que fornece oxigênio aos motores, causado por sua vez pela manobra de giro abrupto para se separar da Starship.
No último voo de teste feito, o Super Heavy ejetou pela primeira vez o anel de separação a quente, uma peça de nove toneladas que a SpaceX adicionou entre o propulsor e a nave para garantir a separação dos estágios. Graças a isso e a outras várias melhorias estruturais nos filtros, o Super Heavy reiniciou com sucesso seus motores e pousou.
Na verdade, o Super Heavy simulou um pouso no Golfo do México, mas é a primeira vez que dá certo. Segundo Elon Musk, a ideia é deslocar essa manobra para a torre de lançamento, possivelmente para o próximo voo. Lá, os enormes braços robóticos da torre de lançamento “Mechazilla” tentarão pegar o propulsor antes que ele atinja o solo.
Quando o Super Heavy caiu neste último voo, os braços da torre se moviam para simular ser pego, mostrando que a SpaceX joga xadrez pensando nas ações que fará vários movimentos depois.
5. A capacidade de entrar em órbita e voltar
A Starship cruzou a fronteira do espaço pela primeira vez no voo 2. Com o voo 3, demonstrou que era capaz de atingir a órbita. Agora no voo 4, ela conseguiu retornar do espaço sem se desintegrar pela primeira vez.
A Starship 29 foi equipada com propulsores adicionais de controle de rotação para reentrada, de modo que o atrito com o ar quente se concentrasse no escudo térmico. O escudo térmico, composto por milhares de telhas cerâmicas, perdeu várias peças, mas a nave resistiu e conseguiu religar os motores para simular um pouso no Oceano Índico. SpaceX já está anos-luz à frente da concorrência
Esses cinco marcos fazem com que a concorrência da SpaceX pareça presa na pré-história com seus foguetes descartáveis. Sim, existem empresas chinesas trabalhando em foguetes capazes de pousar, assim como algumas empresas americanas, mais notavelmente a Blue Origin com o New Glenn. Mas a Starship aspira ser algo muito mais revolucionário do que isso.
A Starship foi projetada para ser o primeiro foguete total e rapidamente reutilizável. A ideia de lançar 100 toneladas ao espaço e voltar a voar parecia utópica até poucos dias atrás. O Super Heavy poderá voar três vezes ao dia, disse certa vez Elon Musk, e a nave estelar uma vez por dia. Com o último teste, a SpaceX pode estar perto de conseguir isso.
Há alguns passos que a SpaceX necessita cumprir para que o projeto seja concretizado: o Super Heavy precisa ser capturado em tempo real pela torre de lançamento; a nave precisa entrar novamente inteira; e o reaproveitamento dessas naves precisa ser possível.