Saúde
Avatares Z testam tratamento para o câncer e acertam em 91% dos casos
Avatares zebra
Os avatares já fazem sucesso em diversos aspectos dos mundos virtuais, mas alguns cientistas preferem os Avatares Z, ou zAvatares, que são avatares animais – eles são peixes-zebra – projetados para testar diversos medicamentos antes que eles sejam aplicados nos pacientes.
Esses minúsculos avatares já estão ajudando no desenvolvimento de técnicas para testar previamente as terapias contra o câncer para cada doente, permitindo assim a seleção daquelas que prometem o melhor resultado para cada paciente.
A ideia por detrás dos zAvatares é bastante simples e consiste em injetar células tumorais de cada doente em embriões de peixe-zebra, transformando efetivamente estes embriões em “avatares” desse doente oncológico específico. Em seguida, as várias opções de tratamento disponíveis para esse doente podem ser administradas aos zAvatares, permitindo escolher a mais eficaz. Esta abordagem tem a vantagem de fornecer resultados mais rapidamente – numa questão de dias, em vez de meses ou várias semanas – do que o método convencional, usando camundongos ou mesmo organoides tumorais.
Bruna Costa e seus colegas empreenderam agora um estudo clínico dessa técnica envolvendo participaram 55 doentes com câncer colorretal (CCR) do Centro Clínico Champalimaud e do Hospital Fernando Fonseca (Portugal).
Neste teste mais aprimorado, a equipe desenvolveu o que eles chamam de “teste zAvatar”, e demonstraram que esse teste tem uma precisão de 91% na previsão da resposta de um doente a uma determinada quimioterapia.
Escolhendo a melhor opção terapêutica
Os doentes com câncer colorretal normalmente recebem quimioterapia para controlar as metástases tumorais ou, após a cirurgia inicial de ressecção, para reduzir as probabilidades de recidiva. Contudo, “os doentes com câncer passam frequentemente por ciclos de tentativa-e-erro para encontrar o tratamento mais eficaz, porque não existe nenhum teste, na prática clínica, que permita prever de antemão qual a terapia mais eficaz para aquele doente,” escreveu a equipe.
É aqui que os zAvatares entram em cena. Foram gerados zAvatares de cada doente, que foram então tratados exatamente com a mesma terapia do seu doente. O objetivo era ver se os zAvatares conseguiam prever se o doente iria responder ou não ao tratamento.
Os resultados foram impressionantes: O teste zAvatar demonstrou uma precisão de 91% na previsão do resultado de cada quimioterapia quando esta foi aplicada ao seu paciente correspondente.
Outra técnica similar envolvendo avatares-pacientes usa gêmeos digitais virtuais.
Maior sobrevivência
A análise estatística realizada pela equipe mostrou que três variáveis constituem os fatores mais importantes para prever a resposta dos doentes ao tratamento: O estágio do tumor do doente, o aumento da morte celular e o potencial metastático do tumor nos zAvatares.
“Ao comparar individualmente as respostas clínicas de 55 doentes com o teste zAvatar, desenvolvemos um modelo de algoritmo de decisão que integra estas três variáveis,” contou Bruna Costa. Foi o resultado deste teste que previu os efeitos nos doentes com 91% de precisão.
Mais importante, o tempo de sobrevivência sem progressão da doença foi “significativamente mais longo nos doentes cujo zAvatar era sensível ao tratamento do que nos doentes cujo zAvatar era resistente ao tratamento,” escreveu a equipe. “Isto mostra que ‘dar o tratamento certo ao doente certo no tempo certo’ tem o potencial de alterar realmente o seu prognóstico. E é este o nosso objetivo: ter um teste que ajude a orientar e a otimizar as decisões clínicas de uma forma verdadeiramente personalizada,” complementou a professora Rita Fior.