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Itamaraty paralelo abraça Maduro: contradições e controvérsias na diplomacia brasileira
A recente viagem do ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Venezuela revisitou as complexas relações diplomáticas do governo Lula. A visita, sob a justificativa de “contribuir para uma eleição correta e limpa”, ocorre em meio a um cenário de crescente repressão política e questionamentos sobre a legitimidade do processo eleitoral venezuelano.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil decidiu não enviar observadores para as eleições venezuelanas, após o ditador Nicolás Maduro questionar o sistema de votação brasileiro. Esse gesto sinalizou uma preocupação com a integridade do processo eleitoral na Venezuela. Em paralelo, o ex-presidente argentino Alberto Fernández, inicialmente convidado, foi desconvidado devido ao desconforto causado por declarações bélicas de Maduro, que ameaçou com um “banho de sangue” caso perdesse as eleições.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha tentado se distanciar das declarações de Maduro, demonstrando preocupação com a retórica agressiva, ele enviou Celso Amorim como seu representante. Amorim, conhecido por sua confiança na “democracia consolidada” venezuelana, afirmou sua intenção de garantir um processo eleitoral justo, apesar das evidentes irregularidades e repressões que marcam o contexto eleitoral do país.
As eleições na Venezuela são marcadas por uma série de violações que comprometem sua legitimidade. As principais candidaturas oposicionistas foram cassadas, com nomes como Edmundo González Urrutia e María Corina Machado enfrentando severos obstáculos, desde bloqueios de estradas até atentados e vandalismo. Além disso, a mídia oficial se recusou a entrevistar candidatos da oposição, enquanto vários veículos de comunicação foram fechados.
A diáspora venezuelana também enfrenta barreiras significativas para votar. Dos 4 milhões de venezuelanos que vivem no exterior, apenas 506 conseguiram autorização para votar, devido às restrições impostas pelo regime. Esta realidade evidencia um sistema eleitoral fortemente manipulado para garantir a permanência de Maduro no poder.
A postura de Amorim, traduzindo e minimizando as ameaças de Maduro, expõe as contradições na política externa brasileira. Ao mesmo tempo, em que o governo Lula se apresenta como defensor da democracia, sua aliança com regimes autoritários e seu discurso antiamericano revelam uma discrepância significativa entre retórica e prática. Este comportamento é evidenciado nas críticas constantes a governos democráticos, como Israel e Ucrânia, enquanto mantém apoio a regimes opressores.
A visita de Amorim à Venezuela, portanto, não apenas levanta questões sobre a legitimidade do processo eleitoral venezuelano, mas também sobre as prioridades e coerências da diplomacia brasileira sob o governo Lula. Em um cenário global onde a defesa da democracia e dos direitos humanos é crucial, a aliança com ditadores coloca em xeque os valores que o governo brasileiro afirma defender.
A viagem de Celso Amorim à Venezuela simboliza mais do que um simples gesto diplomático; ela reflete as complexas e muitas vezes contraditórias posturas do governo brasileiro em relação à democracia e aos direitos humanos. A comunidade internacional observa atentamente, questionando até que ponto o Brasil está disposto a comprometer seus princípios em nome de alianças políticas.