Internacional
Militares ignoram apelo da oposição e mantêm apoio a Maduro
Oposicionista González reivindicou presidência da Venezuela quando órgão controlado por Maduro se negou a abrir resultado da eleição. Agora é alvo de investigação e foi convocado pela Suprema Corte a dar explicações
Em meio às dúvidas sobre a integridade da eleição à presidência da Venezuela, e após o apelo da oposição às Forças Armadas para que se coloquem “ao lado do povo”, o ministro da Defesa Vladimir Padrino reafirmou nesta terça-feira (06/08) a “lealdade absoluta” dos militares a Nicolás Maduro.
Em comunicado, ele disse que os militares, que detêm poder e dinheiro no regime venezuelano, rejeitam “fortemente as abordagens desesperadas e sediciosas” que “tentam minar nossa unidade e institucionalidade, mas que jamais terão sucesso”.
Na véspera, o candidato da oposição, Edmundo González, declarou-se presidente eleito do país em carta publicada nas redes sociais. A mensagem foi assinada também por María Corina Machado, que teve seus direitos políticos cassados pela Suprema Corte do país e foi barrada de disputar o cargo contra Maduro. A dupla havia apelado aos militares para que não fossem “cúmplices” de um “golpe de Estado”.
Em reação, o aparato estatal controlado por Maduro apertou o cerco contra González e Corina Machado.
Os dois são agora investigados pelo Ministério Público da Venezuela por divulgação de informações falsas, incitação à desobediência das leis e à insurreição, usurpação de funções e associação para delinquir, e conspiração. Corina Machado também é considerada suspeita de tentativa de fraude no sistema eleitoral.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusa a dupla de mentir, ao anunciar um vencedor da eleição diferente do proclamado pelo CNE e incitar abertamente “policiais e militares a desobedecerem as leis”.
Maduro, que tem ameaçado prender González e Corina Machado, convocou apoiadores a boicotarem plataformas como WhatsApp, Instagram e TikTok, que estariam sendo usadas para promover “divisão” e “ódio” entre a população.
“Eles querem nos intimidar, para que a gente não se comunique, porque nós seríamos muito mais fracos isolados. Isso não vai acontecer. O medo não vai nos paralisar e nós não deixaremos as ruas”, respondeu Corina Machado nas redes sociais.
Impasse já dura nove dias
Baseando-se em contagens paralelas, a oposição afirma ter derrotado Maduro com 67% contra 30% dos votos. Já o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado por Maduro, diz que ele venceu com pouco mais de 51,95% dos votos, mas até agora não abriu os resultados para escrutínio público. O site do órgão está fora do ar desde o dia da eleição, 28 de julho – supostamente por ter sofrido um “ataque de hackers”.
Os protestos contra Maduro começaram horas depois da divulgação do primeiro boletim do CNE. O líder chavista afirma já ter prendido mais de 2 mil cidadãos desde então.
Na sexta-feira, a Suprema Corte do país havia convocado os candidatos que participaram do pleito para assinarem um termo concordando com o resultado divulgado pelo CNE. González, que não é visto publicamente desde 30 de julho, não compareceu, temendo ser preso. O órgão emitiu nova convocação para esta quarta-feira.
Na segunda-feira, a Suprema Corte anunciou ter recebido o resultado da eleição das mãos do CNE, e que levaria até 15 dias, ou mais, para fazer a “perícia” do material.
Também nesta terça-feira, o presidente do Panamá, José Mulino, anunciou nas redes sociais que quer organizar uma reunião de cúpula com presidentes de 17 países da América Latina para discutir a crise política na Venezuela.