CIDADE
Justiça de Santa Rita autoriza despejo forçado da comunidade Canaã: uma tragédia social e o abandono dos mais vulneráveis
Roberto Tomé
Em Santa Rita, uma situação de extrema injustiça social está prestes a se concretizar, evidenciando o desamparo e a negligência das autoridades públicas para com aqueles que mais precisam de proteção. A Comunidade Canaã, localizada na área da antiga Usina Santa Rita, está à beira de um despejo forçado que pode desmantelar vidas e destruir lares construídos ao longo de gerações.
A Comunidade Canaã não é apenas um conjunto de moradias; é uma comunidade rica em história e tradições, onde trabalhadores urbanos e rurais, juntamente com suas famílias, encontraram um lugar seguro para viver e prosperar. Ali, o tempo parece ter consolidado laços familiares e comunitários indissolúveis. Muitos dos moradores são idosos, alguns com mais de 70 anos, que chegaram ao local ainda criança, e que, desde então, trabalharam arduamente para construir um futuro para seus descendentes.
Esta comunidade também é o lar de muitas crianças, incluindo algumas com autismo, que dependem da estabilidade e da tranquilidade do ambiente para se desenvolverem. A agricultura familiar é a base econômica local, com plantações que não só garantem o sustento das famílias, mas também contribuem para a economia informal da região. A visita de uma antropóloga do Ministério Público Federal ao local reforçou a importância dessa comunidade, não apenas como um espaço físico, mas como um patrimônio humano e cultural.
Em 2023, a situação mudou drasticamente. A terra onde a Comunidade Canaã está localizada foi comprada pelo empresário Heitel Santiago Silveira, proprietário da FACENE, sem que os moradores fossem informados ou consultados sobre a transação. Desde então, o empresário tem se empenhado em desalojar as famílias, utilizando métodos que ignoram completamente o valor humano e histórico da comunidade. Viveiros de camarão foram construídos ao redor das casas, uma clara demonstração do desprezo pelas vidas que ali se desenvolveram. Silveira deixou claro seu desejo de substituir as moradias por mais viveiros, o que resultaria na destruição do lar de inúmeras famílias.
A situação culminou em uma decisão da Juíza da 2ª Vara de Santa Rita, que, em um golpe devastador, autorizou o despejo forçado de todos os moradores da Comunidade Canaã, incluindo idosos, crianças e pessoas com deficiência. Tal decisão, que parece ignorar a dignidade humana e os direitos constitucionais, lançou as famílias em um estado de desespero e incerteza.
O advogado da comunidade, Rubens Yago Morais Tavares Alexandrino, expressou a profunda angústia que permeia a Comunidade Canaã. As famílias vivem sob a constante ameaça de perderem o teto que sempre conheceram, sendo empurradas para a rua, sem qualquer garantia de apoio ou assistência. Diante dessa realidade, foi interposto um recurso junto ao Tribunal de Justiça, na esperança de que a ordem de despejo seja suspensa e que uma solução justa e digna, seja encontrada.
A decisão de despejar essas famílias é, em última análise, um reflexo do abandono sistemático por parte das autoridades municipais e estaduais. O prefeito de Santa Rita, que deveria zelar pelos direitos básicos de seus cidadãos, tem sido omisso na defesa dos moradores da Comunidade Canaã. A falta de políticas públicas que assegurem moradia digna e protejam os mais vulneráveis é um sintoma de uma crise maior, onde os interesses econômicos de poucos prevalecem sobre o bem-estar de muitos.
ASSISTAM AO VÍDEO DO ADVOGADO
O caso da Comunidade Canaã é uma chamada urgente à ação para a sociedade civil e para os movimentos sociais. A inércia das autoridades políticas é alarmante, e o silêncio diante da iminente tragédia social é ensurdecedor. O poder público municipal, que deveria intervir para garantir que direitos fundamentais sejam respeitados, até agora tem se mostrado incapaz ou desinteressado em proteger essas famílias. A administração municipal de Santa Rita, por sua vez, parece alheia ao sofrimento de seus próprios cidadãos, falhando em prover qualquer tipo de amparo ou solução alternativa.
Essa crise não é apenas um problema local; é uma questão que deve mobilizar a sociedade como um todo. A história da Comunidade Canaã deve ser contada, ouvida e, principalmente, defendida. É imperativo que a sociedade civil se levante em defesa dessas famílias, exigindo das autoridades municipais e estaduais a responsabilização por anos de descaso e negligência. Movimentos sociais, organizações de direitos humanos, e todos aqueles que acreditam na justiça social precisam unir forças para evitar que mais uma comunidade seja aniquilada pela ganância e pela falta de empatia.
A Comunidade Canaã é um símbolo da resistência dos pobres e marginalizados, que, apesar de tudo, continuam a lutar por um lugar digno para viver. Mas essa resistência precisa de apoio. O recurso interposto ao Tribunal de Justiça não é apenas uma formalidade jurídica; é a última esperança de que essas famílias possam permanecer em suas casas e manter o legado que construíram ao longo de décadas.
A responsabilidade por essa situação é clara: as autoridades municipais e estaduais falharam em proteger seus cidadãos, e agora precisam ser responsabilizadas por esse descaso. O despejo forçado da Comunidade Canaã não é apenas uma violação dos direitos dessas pessoas; é um ataque à dignidade humana. A sociedade não pode, e não deve permanecer em silêncio diante de tamanha injustiça.
O futuro dessas famílias depende de uma resposta rápida e eficaz, que coloque a vida e a dignidade humana acima dos interesses econômicos. Este é um momento crítico para Santa Rita e para a Paraíba como um todo. É hora de agir, de exigir justiça e de garantir que a Comunidade Canaã, e tantas outras como ela, possam continuar a existir, resistir e prosperar.