Saúde
O que é a febre oropouche e o que se sabe sobre a doença
Desde o início deste ano, o Brasil registra mais de 7.400 casos da febre oropouche, uma virose com sintomas semelhantes aos da dengue. No dia 25 de julho, a Bahia confirmou duas mortes pela doença — as primeiras, em todo o mundo, associadas à febre. Na última sexta-feira (2), o Ministério da Saúde confirmou a terceira morte — a primeira fetal, causada por transmissão vertical (da mãe para o bebê).
O ministério afirma que vem monitorando a situação e recomendou que gestores estaduais intensifiquem a vigilância de casos.
Vetor. Imagem mostra o mosquito-pólvora, que transmite a febre do Oropouche
1. O que é a febre oropouche?
A febre oropouche é uma doença causada por um vírus do gênero Orthobunyavirus, isolado a partir do sangue de um paciente febril no vilarejo Vega del Oropouche (origem do nome dado ao vírus), em Trinidad e Tobago, em 1955. Como a dengue, a zika e a chicungunha, é uma arbovirose, transmitida por um mosquito.
Os sintomas do oropouche são semelhantes aos de outras arboviroses. Segundo o Ministério da Saúde, o quadro clínico agudo evolui com febre de início súbito, dor de cabeça, muscular e articular. Outros sintomas como tontura, dor atrás dos olhos, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados.
Embora tenham sido registradas mortes pela doença no país, os sintomas do Oropouche geralmente duram de dois a sete dias, com evolução benigna e sem sequelas.
Sintomas. Os sintomas da febre de Oropouche são semelhantes a de doenças como a dengue, zika e chikungunya
2. Como a doença é transmitida?
A transmissão acontece principalmente por meio do vetor Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. No ciclo silvestre, bichos-preguiça e primatas não-humanos (e possivelmente aves silvestres e roedores) servem de hospedeiros para o vírus.
Há também registros de isolamento do vírus em outras espécies de insetos, como Coquillettidia venezuelensis e Aedes serratus.
Até o momento não há estudos que mostram que o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, tenha capacidade de transmitir a febre oropouche. A literatura aponta, no entanto, que há possibilidade de mosquitos do gênero Culex (conhecido como muriçoca ou pernilongo) atuarem como vetores secundários.
3. Há vacina e tratamento específico contra a doença?
Não há vacina ou tratamento específico contra a doença. A orientação do Ministério da Saúde é que os pacientes permaneçam em repouso, com tratamento sintomático para aliviar a febre e as dores musculares, e acompanhamento médico.
Em caso de sintomas suspeitos, a pasta pede que o paciente procure ajuda médica imediatamente e informe sobre uma exposição potencial à doença.
O diagnóstico é feito por exame laboratorial de PCR, indicado para investigar infecções por vírus.
4. Como se prevenir contra a doença?
O uso de repelentes, telas de malha fina em portas e janelas, e roupas compridas em áreas onde há presença do mosquito podem ajudar a evitar que uma pessoa seja picada e, consequentemente, contraia a doença.
O mosquito transmissor da febre oropouche se reproduz em áreas úmidas com matéria orgânica em decomposição, como restos de folhas ou outro material orgânico. Assim, recomenda-se também a limpeza de terrenos e de locais de criação de animais, o recolhimento de folhas e frutos que caem no solo.
5. Qual é a situação da febre oropouche no Brasil e no Mundo?
O vírus foi encontrado no Brasil na década de 1960 a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado na Amazônia, durante a construção da rodovia Belém–Brasília. Desde então, o vírus circula em áreas na região amazônica.
O país tem registrado epidemias e surtos de febre oropouche ao longo dos últimos 80 anos. Entre 1961 e 1996, por exemplo, mais de trinta epidemias da doença foram registradas no Brasil.
Entre 1969 a 1980, os casos estavam restritos ao Pará. A partir da década 1980, surtos da doença começaram a se espalhar pelo país e foram registrados em municípios nos estados de Amazonas, Amapá, Maranhão, Rondônia e Tocantins.
Dados do Ministério da Saúde mostram que de 1º de janeiro de 2024 até esta terça-feira (6), o Brasil registrou mais de 7.400 casos da doença, sendo três mortes — uma delas fetal. São os primeiros óbitos causados pela doença no mundo.
Os casos foram registrados em 22 estados, sendo que mais da metade ocorreram nos estados do Amazonas, na Bahia e em Rondônia. No mesmo período em 2023 foram registrados 831 casos.
Fora do Brasil há registros recentes de casos na Bolívia, na Colômbia, em Cuba e no Peru.